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Punição coletiva aos palestinos não pode acontecer

Rainer Sollich (ca)2 de julho de 2014

Israel anunciou represálias pela morte de três adolescentes na Cisjordânia. Indignação e raiva são compreensíveis, mas uma nova guerra deve ser evitada a todo custo, opina Rainer Sollich, da redação árabe da DW.

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Verbalmente, até agora, não se economizaram palavras. Os responsáveis pela morte dos três adolescentes israelenses e seus apoiadores seriam "demônios" e "animais em forma humana", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e, com determinação evidente, ameaçou retaliação. Do outro lado, o grupo radical islâmico Hamas ameaçou que o "inferno irá se abrir" para Netanyahu se ele ousar atacar a Faixa de Gaza.

Deutsche Welle Rainer Sollich Arabische Redaktion
Rainer Sollich, jornalista da redação árabe da DWFoto: DW/P. Henriksen

De fato, a porta para o "inferno" parece já estar aberta, e uma escalada da situação parece difícil de ser evitada. Quase ninguém acredita que os israelenses irão se contentar somente com o assassinato seletivo de um membro do Hamas e cerca de 30 ataques aéreos a Gaza, que Israel empreendeu na noite desta segunda para terça-feira (01/07), depois que os corpos dos três jovens foram encontrados.

O clamor por vingança é forte demais – particularmente entre o eleitorado tradicional de Netanyahu, o movimento dos colonos – para que somente reações simbólicas sejam suficientes. Mesmo que Netanyahu as quisesse, a pressão política interna seria forte demais.

A pressão e a indignação do lado israelense são compreensíveis: o assassinato de três pessoas inocentes – adolescentes e civis – é um crime hediondo para o qual não pode haver justificativa. Nem a agressiva política de assentamentos de Israel nem as violações de direitos humanos praticadas contra os palestinos podem ser usadas aqui "moralmente" como motivo. O crime continua sendo hediondo.

Ele foi supostamente praticado por extremistas palestinos, cujo principal objetivo seria manter vivo o maior tempo possível o conflito entre israelenses e palestinos, iniciado há décadas. Mas nesse contexto é preciso tomar conhecimento de que, apesar de sua retórica repleta de ódio, o Hamas nega qualquer ligação com o fato e, até agora, Israel não pôde fornecer nenhuma evidência de que ela exista.

Talvez nunca saibamos, com toda certeza, quem está por trás desses assassinatos. E ninguém mais vai perguntar sobre isso assim que os ataques militares israelenses passarem a fazer cada vez mais vítimas civis em Gaza e, ao mesmo tempo, foguetes voltarem a cair em regiões residenciais israelenses. A prática mostra que a espiral de violência no Oriente Médio alimenta-se do ódio, do sofrimento e da injustiça, também no lado palestino, onde as condições de vida das pessoas são bem piores. Israel não é o único culpado por essa situação, mas tem um considerável grau de corresponsabilidade.

Uma "punição" coletiva da população civil palestina na Faixa de Gaza não pode acontecer. Mas esse risco existe caso os europeus e especialmente os EUA não conseguirem influenciar de forma moderadora os planos de retaliação de Netanyahu. Pois, além da vingança, Netanyahu tem outros motivos: demonstrar à comunidade internacional que Israel nunca irá cooperar com um governo de unidade palestino no qual, além do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e seu movimento Fatah, também os islamistas do Hamas estejam representados.

A comunidade internacional deve, porém, ter outros interesses em vista. Por mais difícil que seja, o mais desejável seria que Israel e a Autoridade Palestina conseguissem cooperar para o esclarecimento das mortes, como sugeriu o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

É preciso evitar uma nova guerra. Ela implicaria não só curvar-se mais uma vez à agenda dos adversários da paz. Diante da situação catastrófica no Iraque, na Síria e em outros países, uma nova guerra entre israelenses e palestinos também poderia de novo vir a aumentar, de forma dramática, o caos cada vez mais perigoso em toda a região.