Eleições podem ser interessantes, sobretudo se não é possível se prever o vencedor desde o início. Nesse sentido, as eleições presidenciais na Rússia provavelmente serão tão emocionantes quanto a leitura da lista telefônica de Tcheliabinsk.
Para todos, incluindo os candidatos, uma coisa é clara: o vencedor será Vladimir Putin. Afinal, o Kremlin controla a televisão, tem mais dinheiro e poder sobre o aparelho governamental, incluindo as forças de segurança. Se houvesse um candidato capaz de ameaçar seriamente Putin, ele provavelmente não poderia competir.
Assim, o Kremlin pode estar satisfeito com o que seguirá nas próximas semanas e meses: uma disputa eleitoral que não é disputa alguma. Uma competição em que o presidente continua a posar de estadista, sem ter que se desgastar com a concorrência.
Mas o governo quer mais do que apenas a vitória: ele quer uma vitória esmagadora, com alta participação eleitoral, algo em torno de 70%, ou ainda mais. Será difícil conseguir isso. Pois o "Ivan Ivanovitch" se pergunta, com razão: por que se arrastar pela neve até a urna, se Vladimir Putin vai continuar presidente de qualquer forma? Se, de fato, isso não é uma eleição, o cidadão comum russo prefere ficar em casa, segundo o princípio "Eles que mandem os observadores eleitorais de Belarus contarem o número de votos que eles quiserem."
A rigor, Vladimir Putin não precisaria desse espetáculo. Pois até as pesquisas de opinião independentes comprovam: ele é o claro favorito. Mesmo numa competição de verdade e justa, o candidato de 65 anos venceria. Só ele sabe por que se expõe ao risco. Talvez tenha medo de manifestações, talvez acredite que muitos de seus compatriotas possam ter esquecido da tão popular anexação da Crimeia ou possam culpá-lo pelo declínio do padrão de vida.
É pouco provável que as relações de poder na Rússia se alterem em 2018. Mas o que será que acontece depois das eleições de 18 de março? Será que o presidente começa a preparar o país para a era pós-Putin, com nomeações direcionadas?
Os astrólogos do Kremlin especulam sobre quem poderá ser o primeiro-ministro. O atual premiê, Dmitri Medvedev, parece enfraquecido. As acusações de que teria embolsado milhões se recusam a calar. Será que Putin designa um economista liberal ou um homem do aparato de segurança como seu vice? De uma forma ou de outra, isso poderia definir o futuro curso da Rússia.
E isso se aplica também à política externa e de segurança. Já que os Estados Unidos vão se retirando de diversas regiões, enquanto poder regulador, a Rússia e a China tentam preencher esse vácuo de poder. No Oriente Médio, onde até há poucos anos a Rússia não era um fator real, o presidente Putin tem se envolvido ativamente. Seu homem na Síria, o presidente Bashar al-Assad, permanece no cargo. Pelo menos lá, a Rússia prevaleceu.
Em contraste, deve haver pouco movimento na crise da Ucrânia em 2018. Moscou não vai desistir da Crimeia no novo ano, nem deixar de prestar apoio militar à população de língua russa no leste do país. Como resultado, as sanções ocidentais continuam em vigor.
Ambos os lados estão aguardando. O processo de Minsk permanece congelado. Mesmo maciços envios de armas americanas dificilmente mudarão as relações de poder na Ucrânia. A Rússia torce para que diminua gradualmente o interesse de Washington e Bruxelas por essa região.
Em meados do ano, Putin desfrutará da atenção mundial durante a Copa do Mundo. Mesmo que os craques de Moscou não cheguem muito longe, o país vai fazer de tudo para ser um bom anfitrião. O único perigo são ataques terroristas islâmicos por repatriados de língua russa provenientes da Síria ou do Iraque. Ataques suicidas em locais públicos são difíceis de prevenir. Mas os serviços americanos e russos trabalham juntos na luta contra o terrorismo. Pelo menos isso.
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