A desilusão pode se instalar rápido. Durante semanas, o Partido Social-Democrata (SPD) estava ébrio de felicidade. Na convenção nacional em Berlim, no domingo anterior, deu demonstrações de um partido unido. Delegados eufóricos elegeram Martin Schulz como novo líder com 100% dos votos. Nada parecia ser capaz de parar os social-democratas.
Falou-se de um "trem avassalador" que iria atravessar desenfreado o superano eleitoral de 2017 do Sarre, via Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestfália, até a chancelaria federal. E na cabine de comando: a luz que brilha, o salvador Schulz.
A primeira das três eleições estaduais, por ora, pôs um fim ao voo da esperança. Num primeiro olhar, o resultado no Sarre é um choque ao SPD. Nas pesquisas, os social-democratas se viam no Sarre à altura do seu parceiro de coalizão no governo federal, a União Democrata Cristã (CDU).
No entanto, mais de dez pontos percentuais separaram os social-democratas dos democrata-cristãos no pequeno estado. Com sua principal candidata, a governadora Annegret Kramp-Karrenbauer, a CDU conseguiu até ganhar mais votos que no pleito anterior de 2012. Bem vindo à realidade, SPD!
Esse é o efeito devastador dos descontrolados voos fantasiosos. A queda é dolorosa. Porém, objetivamente falando, o SPD se deu bem. Em janeiro, os social-democratas estavam com cerca de 24% dos votos, bem atrás na intenção dos eleitores. Levando isso em consideração, o resultado da eleição estadual pode ser visto como um sucesso.
Mas isso não é suficiente para os partidários de Schulz. À noite, na sede do SPD em Berlim, a decepção era palpável. Perplexidade estava refletida nos rostos daqueles que, sob a sombra da grande estátua do ex-chanceler federal Willy Brandt, esperavam por uma vitória ou, ao menos, uma corrida cabeça por cabeça.
Bem diferente o clima na sede berlinense da CDU, onde irrompeu grande alívio. E, claro, alegria por ser capaz de continuar no comando do governo estadual do Sarre. Os democrata-cristãos podem agora respirar fundo. Caso o SPD tivesse conseguido, uma troca de poder no Sarre não teria apenas impulsionado a caminhada triunfal do social-democratas no ano eleitoral de 2017, mas também teria mergulhado a CDU ainda mais na crise.
A chanceler federal Angela Merkel está nas cordas. Com sua política de refugiados, ela se tornou vulnerável. Ela não vai se livrar desta mancha, não importa o que tentar. A suposta marcha triunfante de Schulz causou ainda mais rumores na CDU nas últimas semanas. Por que Merkel permaneceu passiva e não ativou o modo de campanha eleitoral e atacou? A inesperada vitória contundente no Sarre dá a Merkel não apenas folga, mas também deve endossar seu curso político.
Além disso, a CDU fica motivada em todos os níveis. Eleitores podem ser mobilizados. Isso deve animar a campanha eleitoral em Schleswig-Holstein e Renânia do Norte-Vestfália, os outros dois estados que, neste ano, vão às urnas. No entanto, nas capitais estaduais de Kiel e Düsseldorf, ocupam os postos de governadores dois social-democratas, Torsten Albig e Hannelore Kraft, que são tão ou mais populares em seus estados como a governadora da CDU no Sarre.
Geralmente, aqueles que estão no governo têm uma grande vantagem na Alemanha. Eles só perdem seus cargos quando há uma alternativa claramente melhor. Uma personalidade forte é útil, mas no final das contas o conteúdo importa mais. Enfim, o candidato desafiante precisa ter o pacote completo.
O SPD também deveria respirar fundo depois da eleição no Sarre. Isso certamente iria ajudá-la a refletir. Euforia é algo bacana. Ela inspira, incita ao desempenho máximo. Mas ela também pode obscurecer a visão. É o momento de os social-democratas tirarem os ilusórios óculos cor-de-rosa. A festa acabou, agora começa o trabalho.
Deve ser formado um programa em nível nacional que mostre claramente quais são os planos do SPD para o futuro. Qual é seu objetivo político, quais alternativas oferece? Com quem poderia implementar seu conteúdo? Com o Partido Verde? Com A Esquerda? Ou será que, no final das contas, tudo resultará novamente numa grande coalizão?
O eleitor quer saber. Se houver uma proposta política que desperte o interesse, que prometa tornar as coisas mais interessantes, mais cidadãos irão às urnas. E isso só pode fazer bem à democracia.