Opinião: Sociedades livres precisam aprender a se defender
15 de julho de 2016Há muito o terrorismo fundamentalista islâmico se transformou num pesadelo. Por toda parte, ele investe contra as sociedades livres: em restaurantes, aeroportos, hotéis, estádios de futebol, clubes, trens, praias, escolas e agora também nas ruas. O terror está por toda parte, e os cidadãos das sociedades livres – e não só delas – sentem cada vez mais medo. Eles sentem e pressentem o perigo, a ameaça à espreita em todos os lugares – tanto no dia a dia como nas férias.
O terrorismo se tornou um desafio para as democracias – especialmente a França, que acaba de sofrer seu terceiro, terrível atentado terrorista. Elas foram impelidas à guerra forçada contra o terror. É uma guerra assimétrica: lobos solitários ou pequenos grupos sem grande aparato logístico matam seres humanos a esmo. E os democratas temem por sua liberdade, por suas liberdades.
Ao que parece, o Estado não é mais capaz de cumprir sua tarefa mais importante: apesar dos departamentos criminais, dos serviços secretos, apesar da crescente vigilância sobre a população, apesar da imensa mobilização policial, o Estado não consegue proteger seus cidadãos. O terror é onipresente, pois ele vem de dentro da própria sociedade.
Fascinados pelo poder do fundamentalismo islâmico, inspirados pelo jihad, a "guerra santa", jovens, geralmente do sexo masculino, mobilizam-se para desafiar a nossa sociedade – que também é a deles. Eles matam a esmo, mas não sem um plano: eles querem abalar as sociedades livres – e estão conseguindo.
À medida que as forças de segurança tradicionais não são mais capazes de proteger os cidadãos, estes vão perdendo sua serenidade – até agora exemplar, em especial no Reino Unido e na França. Paira a ameaça de um estado na sociedade em que triunfem o ódio, a rejeição, o racismo. Um pesadelo para uma sociedade aberta.
E naturalmente agora é preciso travar guerra: contra o "Estado Islâmico" (EI). Isso é politicamente necessário, mas também delicado, pois significa se colocar do lado dos russos e do magarefe sírio Bashar al-Assad. Mas não há como evitá-lo.
A cidade síria de Raqqa tem que ser retomada, o EI, derrotado, os combatentes sobreviventes, julgados, o pavoroso pesadelo de um califado islâmico precisa ter fim. Para tal, é necessário cooperar com todas as forças envolvidas – por mais que isso seja política e diplomaticamente indigesto.
E então será preciso se perguntar: por que tantos jovens muçulmanos – na Europa laica, mas também nos plurirreligiosos Estados Unidos – cedem ao fascínio de um islã violento? O que danifica a identidade deles ao ponto de seguirem o autonomeado califa em Raqqa ou de aclamarem entusiasticamente na internet os autores de atentados suicidas e os festejarem como heróis?
Esse será seguramente um processo social de longo termo. Antes, porém, as sociedades livres terão que aprender a superar a própria falta de defesa. É preciso elevar a pressão sobre os círculos de simpatizantes, intervir com mais rigor. Os muçulmanos têm também que se libertar da simpatia clandestina pelos pregadores do ódio e expulsá-los das mesquitas.
É preciso parar com a tolerância passiva para defender a liberdade, o nosso modo de vida liberal. Senão as sociedades vão se transformar – e na direção contrária à democracia. Na França, a Frente Nacional manda lembranças.