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Opinião: Terceiro pacote à Grécia é atestado de fracasso

11 de agosto de 2015

Nova ajuda dá mais tempo e dinheiro à Grécia. Entretanto, permanece a dúvida se o governo Tsipras irá cumprir as promessas feitas aos credores, opina Bernd Riegert, correspondente da DW em Bruxelas.

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Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas

À primeira vista, a notícia vinda de Atenas de que os credores e o governo chegaram a um acordo sobre um terceiro pacote de resgate soa positiva. Mas não há motivos para comemorações. O novo contrato de crédito, o "Memorando de Entendimento" é, na verdade, um atestado de fracasso.

O fato de um terceiro pacote de resgate de 86 bilhões de euros ser necessário para os próximos três anos mostra que os dois primeiros pacotes de ajuda e um perdão da dívida num total de 330 bilhões de euros não ajudaram nos últimos cinco anos. As receitas do Eurogrupo e do Fundo Monetário Internacional para a Grécia nunca tiveram o efeito anunciado. Agora, a mesma receita é prescrita pela terceira vez. Será que agora vai funcionar?

As medidas e obrigações para o governo e contribuintes gregos são profundas. Elas são a soma das muitas reformas que, nos últimos cinco anos, não foram implementadas ou só o foram em parte. De onde deve vir a esperança de que nos próximos três anos, numa situação fiscal preocupante, possam realmente ocorrer reformas e ser criado um novo modelo de negócios para a Grécia?

O objetivo é que a Grécia daqui a três anos possa voltar a conseguir financiar sua própria dívida estatal nos mercados financeiros internacionais. O objetivo não é a redução da dívida nominal, mas apenas um crescimento econômico que reduza o tamanho da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

O terceiro pacote de ajuda também é um atestado de fracasso porque falta nele uma parte crucial. A parte sobre sustentabilidade da dívida foi excluída. Somente no outono europeu, o Eurogrupo pretende discutir se a Grécia um dia chegará novamente a uma relação aceitável entre a dívida e o desempenho econômico. Por isso, o Fundo Monetário Internacional também decidiu, por enquanto, não participar do terceiro pacote de ajuda. A frente de credores ficou, portanto, bastante frágil.

É provável que os empréstimos para a Grécia tenham que ser esticados ao infinito. Isto seria, em princípio, um perdão da dívida. O processo tem apenas um outro nome. O plano original – que dizia na ocasião do primeiro e do segundo pacotes de resgate que a Grécia deveria reduzir sua dívida em algum momento com sua própria força – também fracassou.

A coalizão entre radicais de esquerda e de direita comandada pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras também fracassou. Ele assumiu o cargo com a promessa de nunca mais aceitar pacotes de ajuda, não deixar mais a troika entrar no país e de poupar os seus cidadãos de medidas de austeridade. Ele conseguiu agora exatamente o oposto. Há apenas cinco semanas, os gregos rejeitaram em um referendo o curso que agora é selado. O partido do governo, Syriza, se divide. Novas eleições são iminentes. Continua um mistério como, nesta situação, as reformas necessárias poderão ser efetivamente implementadas.

Alexis Tsipras pediu pressa durante as negociações para o terceiro pacote de ajuda, devido à bancarrota iminente. Tendo a saída da zona euro em mente, ele reconheceu muito tardiamente que a Grécia estava ameaçada de cair num poço sem fundo, caso ficasse sem a moeda europeia. Ele concordou, diante da necessidade extrema, em repassar aos credores patrimônio estatal. Ele praticamente aceitou tudo para conseguir dinheiro o mais rápido possível. Há suspeitas de que ele só faz promessas para obter empréstimos, mas sem garantias de que vá realmente cumpri-las.

Como primeiro-ministro, ele quer, sobretudo, permanecer no poder, não se importando em realizar mudanças de rumo, por mais abruptas que elas sejam. Não se pode confiar nele. Por isso, foram incluídas seguranças e verificações adicionais no contrato do terceiro pacote de ajuda. O tempo dirá se elas são eficazes. É importante recordar que, na Grécia, até o fim de 2014, tudo parecia estar como se o pior já tivesse passado. Após a mudança de governo e as táticas incrivelmente irresponsáveis ​​lançadas pelo grupo de Tsipras no primeiro semestre de 2015, a Grécia entrou novamente em recessão, os bancos foram à falência, o Estado insolvente mergulha no déficit. Esse é um balanço frustrante.

Se as coisas vão melhorar com um terceiro pacote de resgate, cujos termos na verdade não são aceitos nem pela população nem pelo partido do governo, isso é algo realmente questionável. Eles conseguiram ganhar tempo. Será que eles conseguirão usá-lo? Agora, é mãos à obra. Se o terceiro pacote de ajuda não tiver sucesso, então a saída da Grécia da zona do euro será algo inevitável.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.