Se o novo Aeroporto Internacional Berlim-Brandemburgo (BER) já estivesse há cinco anos em funcionamento, como planejado, provavelmente a nova fábrica da Tesla já poderia ter sido construída no terreno do Aeroporto de Berlim-Tegel, atualmente em funcionamento, e portanto, na capital alemã.
Mas parece que o desastre do BER chegou aos ouvidos da diretoria da Tesla, pois o hiperativo e muitas vezes polêmico Elon Musk não se poupou uma alfinetada: vai ser definitivamente preciso adotar uma velocidade mais alta do que a dos planejadores do aeroporto.
Agora, a fábrica – chamada "Gigafactory", já que para Musk tudo tem que ser um pouquinho maior – será construída em Grünheide. Um lugar que ninguém conhece, mas que fica a sudeste de Berlim, nas proximidades do talvez futuro aeroporto e, acima de tudo, no estado de Brandemburgo. Portanto o tesoureiro municipal de Berlim sairá de mãos abanando, em termos de impostos comerciais.
Mas, mesmo ignorando o fato de que se festeja em Berlim, embora a música esteja tocando em Brandemburgo, nada disso interessa a um Elon Musk. Ou ele simplesmente não confia que os berlinenses possam ser suficientemente rápidos. A capital teria tido suficientes terrenos para as instalações, sobretudo na parte leste, mas Musk tem pressa com sua fábrica, é preciso andar rápido.
Pois neste ínterim as montadoras alemãs (finalmente!) entenderam os sinais do tempo e investem também no automóvel movido a eletricidade. E Musk certamente ficou sabendo que a Volkswagen, por exemplo, há pouco mais de uma semana deu a partida para sua própria fábrica de eletromóveis em Zwickau, no estado da Saxônia. Lá, em 2021, quando a unidade estiver totalmente convertida da produção de veículos a combustão para elétricos, a maior montadora do mundo pretende fornecer por ano 330 mil carros inteiramente movidos a eletricidade.
Isso não é tudo, duas outras locações da Volks na Alemanha estão começando sua reestruturação, e ela também está começando com a produção elétrica na China e nos Estados Unidos. Se de início os fabricantes alemães riam da Tesla por ser "metida a grande" e depois passaram a considerá-la uma concorrente para se levar a sério, agora a coisa ameaça se inverter. Pois a companhia americana continua tendo problemas com a produção em massa, além de arrastar consigo uma gigantesca montanha de dívidas.
Portanto, se agora a Volkswagen – a maior produtora do mundo em termos de volume, ao lado da Toyota – entrar para o setor de forma tão maciça (embora atrasada), então constituirá uma ameaça séria para a Tesla. Portanto deve-se realmente entender como uma declaração de guerra a decisão da Tesla de inaugurar uma unidade na Alemanha.
Atualmente é da Alemanha que vem a maior concorrência à Tesla, também no segmento premium, de altos preços: a Porsche (com o Taycan) e Audi (série E-Tron) ou Daimler (Mercedes EQC). Também na China, onde a Tesla ergueu em apenas dez meses sua terceira "Gigafactory" e a produção experimental acaba de se iniciar, estão prontas para dar a partida dezenas de concorrentes diretas, como a Byton, Wey ou Hongqi. Com a opção da americana pela Alemanha, abriu-se oficialmente a corrida pela supremacia elétrica no país em que foi inventado o automóvel a combustão.
Deixando de lado as numerosas questões que agora se apresentam, trata-se de uma notícia especialmente boa para os habitantes da região, aonde os milhares de novos postos de trabalho chegam bem na hora certa. Pois ao sul da fábrica planejada, a região de Lausitz deverá perder milhares de empregos devido ao abandono da extração de linhito.
E desde já estão abertas as apostas: o que ficará pronto mais cedo, o novo aeroporto de Berlim ou a "Gigafactory" alemã da Tesla?
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