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Opinião: Trump abre espaço para a China

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Thomas Latschan
25 de janeiro de 2017

Ao retirar os EUA do TPP, presidente frustra aliados e abre terreno para a China ampliar sua influência na Ásia-Pacífico. E os chineses já estão prontos para ocupar esse espaço, analisa o jornalista Thomas Latschan.

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Thomas Latschan é jornalista especializado em Ásia-Pacífico da DW

Durante sete anos, os EUA negociaram com 11 parceiros comerciais ao longo do Oceano Pacífico para formar a maior área de livre comércio do mundo, a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês). Donald Trump não precisou nem de sete horas no seu primeiro dia oficial de trabalho no novo cargo para acabar com ela.

Leia também: O que é o TPP?

Que isso iria acontecer já dava para perceber no discurso de posse. O novo presidente americano anunciou que vai orientar sua política econômica e comercial por dois princípios básicos: "Os Estados Unidos em primeiro lugar" e "Compre produtos americanos, empregue trabalhadores americanos!" É por esses motivos que Trump retira os EUA do TPP.

É claro que, no mundo todo, há inúmeras críticas perfeitamente justificáveis a acordos desse tipo. Muitos europeus temem, por exemplo, que serão obrigados a reduzir seus padrões de qualidade.

Só que Trump não está interessado em padrões de qualidade. Para ele, os gigantescos acordos comerciais multilaterais servem de principal motivo para justificar por que a economia dos EUA supostamente se encontra numa crise profunda, por que fábricas fecham em muitos pontos do país e por que a produção foi transferida para países mais baratos. A resposta do novo presidente americano a tudo iso é tão simplista quanto errônea: Fora! Fora do TPP, fora do TTIP (Parceria com a União Europeia), fora do Nafta. E quanto antes, melhor. Os EUA se retiram, isolam-se, querem erguer muros e barreiras comerciais.

Pode até ser que, no curto prazo, sair do TPP beneficie os EUA. Pois, se as mercadorias produzidas no Sudeste Asiático forem taxadas com altas tarifas de importação, muitos americanos de fato vão se ater ao princípio "Compre produtos americanos, empregue trabalhadores americanos!" Mas o tiro vai sair pela culatra: no caso de muitos produtos, é impossível produzir nos Estados Unidos de forma tão barata como no exterior. Celulares, eletrônicos, carros: com o selo made in USA, todos vão encarecer. Principalmente os cidadãos de camadas de baixa renda vão sentir o impacto. Além disso, muitas outras nações vão introduzir tarifas punitivas sobre os produtos americanos, em reação às barreiras comerciais de Trump. Isso, por sua vez, é um veneno para as exportações americanas.

As implicações além do aspecto econômico são ainda mais devastadoras. Na prática, Trump deu a largada para uma ampla redistribuição de poder no mundo – e em detrimento próprio. Pois o TPP também era parte fundamental da tática de Barack Obama conhecida como "pivô para a Ásia", uma estratégia que visava limitar política, militar e economicamente a influência da China na região.

Foi esse o motivo que levou o antecessor de Trump a se aproximar, durante anos, dos países do Leste e Sudeste Asiático. Japão, Cingapura, Vietnã e Malásia – todos esperavam um boom econômico com o acordo. Agora, essa estratégia dos EUA encontrou um fim abrupto, e, ao contrário, a reviravolta radical de Trump em direção ao "EUA em primeiro lugar" deixa a impressão, para os países em torno do Oceano Pacífico, que os EUA são um parceiro hesitante e pouco confiável. Por isso, aliados de longa data reagem com irritação, procuram novas alianças, e Washington ameaça simplesmente entregar a sua influência no Extremo Oriente.

Justamente a Austrália, um antigo aliado dos americanos, tenta agora salvar o TPP – substituindo os EUA pela China. Em termos econômicos, esse "TPP alternativo" também seria a maior área de livre comércio do mundo, só que sem os EUA. E os chineses já se encontram à espera para preencher o vácuo de poder deixado por Trump. Pelo cálculo correto dos chineses, influência econômica sempre pode ser convertida em influência política.

Assim, não é de se admirar que justamente o presidente Xi Jinping, conhecido por seu curso econômico protecionista, tenha se posicionado como um defensor do livre comércio em seu discurso, muito aclamado, no Fórum Econômico de Davos. A mensagem aos países asiáticos do TPP era clara: "Nós sempre estaremos lá, os EUA só quando lhes interessar." Trump mostra agora, e de forma muito clara, que não tem interesse. Isso pode custar caro aos EUA, tanto no aspecto econômico como no político.