A resposta veio rápida e implacável: "Steve Bannon não tem nada que ver comigo nem com minha presidência. Quando foi demitido, ele não só perdeu seu emprego, ele perdeu o juízo", reza a declaração do presidente americano, Donald Trump, que além disso anunciou medidas judiciais contra seu ex-estrategista-chefe.
Assim ele reagiu aos excertos previamente publicados do livro Fire and fury: Inside the Trump White House ("Fogo e fúria: Por dentro da Casa Branca de Trump"), do jornalista Michael Wolff, com lançamento previsto para a segunda semana de janeiro.
Nele, Bannon é citado dizendo que o contato do filho de Trump, Donald Jr., e do genro Jared Kushner com a Rússia, durante a campanha presidencial de 2016, seria "traição, antipatriótico, uma bosta ruim". Esses contatos supostamente ilegais de sua equipe eleitoral têm colocado Trump há meses sob pressão considerável.
Desse modo, o presidente dos Estados Unidos repudia definitivamente o homem que o colocou na Casa Branca – depois de ele reaquecer sua vacilante campanha presidencial com tons populistas de direita – e que a revista americana The Atlantic recentemente denominou "o monstro de Frankenstein" de Trump.
Trump tem dois motivos para romper com Bannon. O primeiro é de ordem particular: nos trechos divulgados do livro, ele fala mal da família do presidente republicano. Entre outros, chama Ivanka Trump de "burra como uma porta". E a família é sabidamente sagrada para Trump.
Segundo sua biógrafa Gwanda Blair, em entrevista à DW, a rigor ele não confia em realmente ninguém fora desse círculo mais estreito. Bannon necessariamente sabia que tais declarações representariam a maior provocação possível para Trump. Impulsivo como ele é, portanto, sua reação tinha que ser a mais destrutiva.
O outro motivo é político – e portanto bem mais relevante para todos além do pequeno círculo familiar: ele marca o afastamento definitivo de Trump da ala direitista do Partido Republicano.
Ao fim da declaração presidencial, lê-se, significativamente, que "temos vários grandes membros do Congresso e candidatos republicanos que apoiam muito a agenda Make America Great Again". Como o próprio Trump, a meta deles seria erguer os EUA, "em vez de simplesmente tentar queimar tudo". E assim ele se coloca abertamente do lado do establishment republicano – o grupo a que Bannon e ele próprio haviam declarado guerra desde o início.
É possível que o catalisador dessa mudança de atitude tenha sido o resultado da eleição para o Senado no Alabama, em dezembro, na qual Bannon se alinhou com o candidato de extrema direita Roy Moore. O final é conhecido: o posto de senador do estado do sul foi para o Partido Democrático, pela primeira vez em 25 anos.
Trump detesta esse tipo de derrota, e pelo menos os republicanos moderados responsabilizam Bannon por ela. Agora, nas eleições de meio de mandato marcadas para novembro, o presidente – que concorreu pelos republicanos como reformista radical – busca apoio junto às velhas elites partidárias, odiadas por muitos de seus eleitores.
Caberá ver se a estratégia vinga, ou se os fiéis seguidores do "monstro de Frankenstein" vão arrastar a legenda para o fundo do poço. Donald Trump fez a escolha. Os riscos para o seu partido profundamente dividido permanecem. Essa, pelo menos, é a boa notícia para todos que acham a Casa Branca o lugar errado para esse homem.
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