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Um passeio despreocupado no campo minado da Coreia do Norte

1 de julho de 2019

Se, do seu jeito anticonvencional, Donald Trump tiver obtido com sua visita um avanço real no conflito da Península Coreana, então vai merecer o reconhecimento do mundo, opina Alexander Freund.

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Donald Trump e Kim Jong-un na zona desmilitarizada da Coreia do Norte
Trump (de costas) e Kim em encontro "histórico" na zona desmilitarizada da Coreia do NorteFoto: picture-alliance/Xinhua News Agency

"Não há nada de bom, além daquilo que se faz", diz o ditado alemão. É mesmo fascinante a facilidade com que o presidente americano ultrapassa barreiras que pareciam totalmente instransponíveis e, de repente, volta a colocar movimento no conflito da Coreia.

Antes Donald Trump tuitara que, se Kim Jong-un tivesse vontade, ambos poderiam se encontrar: ele estava bem na região, na cúpula do G20 no Japão, então, se calhasse, por que não?

E é claro que Kim aceitou grato esse convite. Afinal, a supostamente tão amistosa relação entre os dois esfriara sensivelmente desde a cúpula fracassada em Hanói. O líder da Coreia do Norte até mesmo lançara alguns mísseis para o céu, a fim de se fazer notar novamente.

Portanto eles se encontraram em Panmunjom, aquele absurdo lugar onde tropas norte-coreanas e aliadas se observam, desconfiadas, simbolizando todo o absurdo do conflito congelado. E da mesma forma descompromissada, Trump perguntou se não poderia dar um pulinho na Coreia do Norte. Visivelmente espantado, Kim disse que seria uma grande honra, e assim pela primeira vez um presidente americano pisou o solo norte-coreano.

Simples assim. Sem grande alarde. Dá para fazer sim, foi a simples mensagem: não refletir longamente, fazer. Se se tratasse de um presidente democrata, ele seria linchado em casa pelos conservadores: como é possível valorizar um regime desses sem concessões prévias? Traidor!

Mas Trump simplesmente o faz, surpreende a todos e, após décadas de confrontação, finalmente coloca o conflito em movimento. Da mesma forma descomprometida, já ao assumir a presidência ele anunciara sua disposição básica para dialogar com Kim. Por que não?

Claro que, ao que tudo indica, Trump exagerou na cúpula de Cingapura com o papo de camaradagem. Seu "amigo Kim" continua sendo um déspota imprevisível, mas pelo menos abriu-se uma promissora plataforma de diálogo.

Igualmente bem correram as conversas subsequentes do lado sul-coreano. Lá, por sorte, entrou novamente em cena o presidente Moon Jae-in, que, de forma decisiva, procurara, nos bastidores, nunca deixar se romper a tênue linha de diálogo.

Os três acordaram em desenvolver em breve um modo de trabalho para voltar a avançar as conversas paralisadas e solver as questões controvertidas. A meta anunciada continua sendo a desnuclearização total da Península Coreana, assim como, finalmente, um acordo de paz entre a Coreia do Norte e o lado aliado.

Para que o nível necessário de pressão permaneça e a Coreia do Norte se mostre de fato disposta a negociar, inicialmente serão mantidas em toda sua extensão as rigorosas sanções. Trump pode parecer desastrado, mas ele sabe como acordos funcionam. Ah, sim, ele informou ainda a seu surpreso amigo Kim, caso ele tenha tempo e vontade, que pode também vir a Washington.

A coisa soa muito tranquila: os garotões primeiro se encontram, marcam seu território, e depois de terem se conhecido e apreciado, os probleminhas são resolvidos.

Só que não é tão fácil assim, pois também o visivelmente surpreso Kim estabeleceu sua posição de negociação de forma extremamente habilidosa nos últimos meses. Ele sabe que o presidente da Coreia do Sul está honestamente interessado numa solução de paz, e disposto a fazer-lhe grandes concessões.

Além disso, obteve importante cobertura estratégica, não só do presidente russo, Vladimir Putin, mas sobretudo da potência protetora China. Após ter visitado o presidente Xi Jinping diversas vezes em Pequim, conseguiu de fato que aquele que hoje é o segundo mais importante protagonista da política mundial fizesse uma visita oficial à Coreia do Norte, logo antes da cúpula do G20.

Com essa demonstração de solidariedade, Xi não só concedeu seu apoio ao abalado país comunista, mas simultaneamente instou Trump a retomar o diálogo com Kim. O conflito comercial entre os EUA e a China já cria problemas suficientes a ambos os lados e à economia mundial, não há por que mais ter um conflito na vizinhança.

Por mais que a instabilidade ou imprevisibilidade de Donald Trump tantas vezes tenha deixado o mundo em suspense, no conflito da Coreia seu procedimento anticonvencional alcançou mais em poucos meses do que em todas as décadas anteriores.

Se no fim se chegar a um tratado sustentável que leve a paz a toda a região, então esse tão criticado presidente mereceu reconhecimento internacional, pelo menos por esse feito. Se é para melhorar o mundo, às vezes é preciso justamente trilhar caminhos anticonvencionais. "Não há nada de bom, além daquilo que se faz."

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