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Água mole em pedra dura…

7 de junho de 2023

Visita de ministros alemães a Brasília e São Paulo não ganhou as manchetes, mas é importante que Berlim continue procurando entendimentos com parceiros estratégicos como o Brasil, avalia o jornalista Alexander Busch.

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 Hubertus Heil (SPD) e Annalena Baerbock (Verdes) concedem entrevista em frente ao Ministério das Relações Exteriores em Brasília.
Visita de ministros alemães serviu para marcar presença no BrasilFoto: Annette Riedl/dpa/picture alliance

Após um processo eleitoral turbulento, a posse de Lula e a tentativa de golpe de 8 de janeiro, a vida segue como antes no dia a dia da política brasileira. Isso é o que os ministros alemães Annalena Baerbock (Relações Exteriores) e Hubertus Heil (Trabalho e Assuntos Sociais) puderam constatar.

Se a visita do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, no final de janeiro, ao lado da ministra do Desenvolvimento, Svenja Schulze, logo após os distúrbios em Brasília atraíram muita atenção, já a viagem dos dois ministros a Brasília e São Paulo foi rotineira e profissional — mas acabou em grande parte ofuscada pelo momento turbulento atualmente em curso na política interna brasileira.

Ao contrário do que foi retratado em alguns meios de comunicação na Alemanha, o fato de o presidente Lula não ter cumprimentado pessoalmente a ministra verde Baerbock ou o social-democrata Heil não deve ser visto como uma afronta. Heil foi para o Brasil assinar um acordo com seu homólogo brasileiro, Luiz Marinho, visando facilitar a migração de mão de obra entre os países.

Baerbock, por sua vez, encontrou-se com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e com Celso Amorim, a figura mais importante da política externa do governo Lula. Mas ela também conversou com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria e Comércio, e, em São Paulo, com o governador Tarcísio de Freitas – ambos pesos-pesados ​​da ala conservadora brasileira.

Na Alemanha, quem esperava que o presidente Lula recebesse os ministros pessoalmente superestimou a importância da Alemanha e subestimou a do Brasil na política mundial. No momento, muitos ministros, diplomatas e chefes de Estado estrangeiros têm vindo ao Brasil – como não ocorria há 15 anos.

De longe o maior país da América Latina em termos de população, poder econômico e extensão territorial, O Brasil ganhou um status geopolítico com o conflito na Ucrânia e as tensões entre a China e os Estados Unidos, sendo hoje cortejado tanto pelos russos quanto pelos chineses, pelos americanos e também pela Europa. Nesse sentido, a Alemanha é de fato um parceiro importante — mas não tão relevante assim na questão geopolítica.

Mais importante ainda é o que Baerbock fez no Brasil: ela esclareceu a posição da Alemanha sobre a guerra na Ucrânia sem varrer para debaixo do tapete as diferenças na avaliação do conflito na América Latina. Ela também explicou por que o planejado acordo entre a UE e o Mercosul não deve ser interpretado como uma nova forma de protecionismo da Europa. Heil, por sua vez, defendeu o papel da Alemanha na reindustrialização do Brasil.

Tudo isso soa como rotina — e é, de fato. Mas isso não desmerece tais esforços. Na diplomacia, afinal, assim como em outras áreas da política, a regra é a mesma: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Se a Alemanha tem uma posição diferente em questões políticas globais, isso deve ficar claro a um país parceiro estratégico como o Brasil — e, inversamente, é importante que os ministros alemães saibam exatamente como o Brasil vê o restante do mundo.

Já faz um tempo que as relações e forças na geopolítica vêm mudando num ritmo não visto há muitos anos. Isso só reforça a importância de que os países que se complementam e que podem se ajudar permaneçam em contato.

Ao contrário do que se passou nos últimos quatro anos, a diplomacia e o governo alemão não podem mais ser acusados ​​de não marcar presença no Brasil.

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Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América Latina do grupo editorial Handelsblatt e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Quando não está viajando pela região, fica baseado em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.