Emmanuel Macron parece ser a síntese do político bem-sucedido – equipado com bons instintos, raciocínio rápido e assessores certos. Nunca um presidente francês teve um início tão fulminante. A escolha de seu gabinete suprapartidário, as primeiras aparições no cenário internacional e, finalmente, o sucesso nas eleições para a Assembleia Nacional, que ele recebeu quase "de mão beijada", dão a impressão de que Macron pode andar sobre a água.
No entanto: as sondagens eleitorais prometiam muito mais. Falava-se de mais de 400 assentos na Assembleia Nacional, de uma maioria de dois terços, de uma quase aniquilação de qualquer oposição. No fim, não foi isso que aconteceu. É certo que Macron conseguiu uma grande maioria, que torna mais fácil governar. Mas, nela, a proporção de correligionários de centro já carrega consigo o cerne de futuras disputas.
Mas os franceses não lhe deram carta-branca, e essa mensagem também está clara. Quando menos da metade dos eleitores vai às urnas, isso é um sinal de alerta – por um lado. Pelo outro, o verão chegou, e as praias estão lotadas. E os franceses estão simplesmente cansados de política, afinal de contas eles passaram por quatro turnos eleitorais num espaço de dois meses. Não é de se admirar que, depois de uma eleição presidencial extremamente focada nos indivíduos, muitos perderam o interesse pela política. Além disso, todas as pesquisas de opinião apontavam para um avanço dos macronistas, o que desencorajou os apoiadores de outros partidos a entregar seus votos.
Ainda não se vira um começo tão triunfal na política francesa, mas, da mesma forma, o potencial de caos também é elevado. No grupo eclético reunido por Macron há tantos novatos políticos e parlamentares que mudaram de partido que seu primeiro-ministro não deverá ter tarefa fácil. Ele terá que lhes ensinar o que é disciplina de bancada. Além disso, o movimento político Em Marcha! terá que se transformar num partido. Isso não deverá acontecer sem conflitos, que poderão custar alguns assentos ao longo desse processo. Reina uma incrível confusão – no entanto, isso não é motivo para pânico, mas sinal de um desenvolvimento normal.
Macron pôde festejar mais uma vez uma vitória neste domingo eleitoral, mas nesta segunda-feira (19/06) tem início o dia a dia político. Agora, o jovem presidente terá que convencer os franceses não de sua pessoa, mas de seus planos e reformas. Isso é algo tradicionalmente difícil para os teimosos franceses e que nenhum governo conseguiu de verdade nas últimas décadas, cedendo diante das batalhas de rua e das greves gerais ou enfraquecendo seus planos de tal forma que eles não podiam mais serem reconhecidos, como foi o caso do infeliz antecessor, François Hollande.
Macron não pode se dar ao luxo de recuar. Sua reputação e seu sucesso vão depender de sua capacidade de modernizar o país e de fazer avançar a economia. E isso, por sua vez, vai depender de ele conseguir manter, de forma duradoura, os seus compatriotas longe das barricadas quando ele lhes retirar parte de suas seguranças sociais. Nesse ponto, o presidente terá de encontrar o difícil equilíbrio entre a calorosa proteção estatal, que inibe a iniciativa e a competitividade, e o frio radicalismo de mercado, que nunca vai receber um apoio majoritário na França.
Basicamente, o que está em jogo são reformas social-liberais que são combatidas como uma obra diabólica tanto pela esquerda radical e pelo que restou dos socialistas como pelos radicais de direita da Frente Nacional. E, no topo dessa luta, vê-se cada vez mais o sindicalismo linha-dura. A primeira prova de fogo para o presidente será romper ou não um círculo vicioso que poderá surgir já em meados deste ano.
Após uma vitória eleitoral, um presidente sempre dispõe de um crédito de confiança. Mas a meia-vida dele é curta. Macron precisa de alguns êxitos rápidos, principalmente no mercado de trabalho. Talvez o bônus positivo da economia francesa possa lhe ajudar, já que a depressão de anos parece estar cedendo. É o que mostra a repentina crença de franceses de todas as faixas etárias de que tanto eles quanto seu país ainda vão chegar lá.
Macron precisa transformar essa mudança de sentimento em projetos concretos, transformar esperanças em oportunidades e ter algo a mostrar já no segundo semestre deste ano. De outra forma, paira a ameaça de que o entusiasmo de seus eleitores se torne rapidamente desgosto político e nova radicalização. O presidente, seus ministros e deputados terão que fazer jus ao nome Em Marcha!, estabelecendo uma verdadeira força política que avance em direção ao futuro.