Fim de Berlusconi?
14 de novembro de 2010A crise governamental na Itália atinge um ápice. O primeiro-ministro Silvio Berlusconi encontra-se sob a mira tanto da direita como da esquerda.
A oposição espera derrubá-lo com uma moção de censura. Ao mesmo tempo, o presidente da câmara dos deputados, Gianfranco Fini, aumenta a pressão na luta de poder dentro da direita italiana e anunciou que retirará seus adeptos do governo nesta segunda-feira (15/11). Desse modo, Berlusconi perderá o ministro da Política Comunitária, Andrea Ronchi, um vice-ministro e dois secretários de Estado. Mas será que isso representa o fim da era Berlusconi?
A última declaração do premiê é que jamais renunciará. Mesmo que, agora, não passe do chefe de um governo de minoria. Mas não há dúvida que, desde que o antigo aliado Fini retirou seu apoio, exigindo a renúncia de Berlusconi, a questão é apenas uma: quando se apagarão as luzes no palácio do governo. E, acima de tudo, quem acionará o interruptor.
No momento, Fini encontra-se numa posição bastante confortável, podendo fazer o que quiser do premiê. Sem sua aprovação, o governo não consegue passar mais nenhum projeto no Parlamento.
A resistência de Berlusconi a renunciar tem, sobretudo, a ver com o que pode acontecer em seguida. E aqui os prognósticos são muito diversos.
Se o governo cair, isso não significa automaticamente que vá haver novas eleições. É também concebível que o presidente da República indique um governo interino, caso se encontrem maiorias para tal. Essa variante não é improvável, e Berlusconi a teme como o Diabo tem medo da cruz.
Um governo formado pelas forças políticas do centro concentradas em torno de Fini, e tolerado pelos esquerdistas, seria capaz de levar a cabo determinados projetos, antes que ocorressem novas eleições.
Um desses projetos poderia ser a reforma da legislação eleitoral, por exemplo, a qual prejudica os pequenos partidos e favorece as grandes coalizões eleitorais, garantindo, assim, que o primeiro-ministro seja sempre reeleito. Por isso, tal reforma é uma das exigências centrais de seu adversário, Fini.
Entretanto, o chefe de governo se vê como vítima de uma grande intriga e quer novas eleições já, bem sabendo que teria chances de vencê-las. Fica, porém, em aberto o que ocorrerá de fato – e, acima de tudo, quando.
Silvio Berlusconi dividiu profundamente a Itália, como, antes dele, só mesmo o ditador Benito Mussolini. Ou se é a favor ou contra, não há nada no meio.
Para os italianos não tem quase significado o fato de o populista de direita de 74 anos ter uma imagem deplorável no exterior, que tenha relegado o país ao ridículo com seus deslizes fascistóides ou racistas, com suas afetações machistas e escândalos envolvendo menores de idade, com suas vaidades pessoais e superficialidades.
Uma coisa está certa: caso ocorram, de fato, novas eleições, o multibilionário voltará a concorrer e assolará a Itália com uma campanha midiática como nunca se viu.
Ou seja: essa legislatura do populista terminará em breve; a era Berlusconi, contudo, está longe do fim. Ainda que seja totalmente incompreensível por que esse homem sequer está no poder.
Autor: Stefan Tröndle (av)
Revisão: Carlos Albuquerque