Eleição no Brasil
1 de julho de 2010O evento organizado pela Fundação Friedrich-Ebert nesta quarta-feira (30/06) em Berlim teve o título "O Brasil vota – a herança de Lula, os candidatos à presidência e suas metas". No entanto, as cerca de 200 pessoas que compareceram à sede berlinense da fundação – ligada ao Partido Social Democrata alemão (SPD) – assistiram menos a um debate sobre os nomes da corrida presidencial brasileira, mas ouviram as conquistas do governo Lula e as qualidades da candidata do PT, Dilma Rousseff.
Luta contra a ditadura
"Dilma é uma pessoa muito competente e não só uma boa gestora", afirmou Iole Ilíada Lopes, diretora da Fundação Perseu Abramo, entidade criada pelo Partido dos Trabalhadores, durante sua explanação sobre a escolha da candidata de Lula. "E tem uma história de luta contra a ditadura", complementou, tendo atrás de si uma foto exibindo um cartaz de campanha de Dilma.
A mesa de discussão era composta também pelo sociólogo Emir Sader, teórico de orientação marxista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que não esconde sua predileção por Lula.
Outro participante foi o cientista político alemão Peter Birle, diretor do departamento de pesquisa do Instituto Ibero-Americano de Berlim. Ele fez uma análise da política externa do Brasil e traçou perspectivas da diplomacia do país no caso de uma mudança governamental.
Sem mudanças na diplomacia
"A política externa brasileira é conhecida por sua continuidade a longo prazo. Então, não deve haver uma virada radical, mesmo com uma troca de governo", opinou Birle. Ele lembrou, entretanto, as críticas de Serra à política de Lula em relação a Venezuela, Bolívia, Irã e Mercosul como possíveis mudanças de ênfase na diplomacia brasileira, no caso de uma vitória do candidato do PSDB.
"É com orgulho que viemos aqui para discutir um governo de sucesso no Brasil". Assim abriu sua participação no evento o sociólogo brasileiro Emir Sader. Ele classifica o Brasil como "uma democracia política" que é, ao mesmo tempo, "uma ditadura social", embora veja a atual sociedade brasileira como menos injusta desde que Lula assumiu o governo.
Miséria ainda é grande
"O governo Lula, pela primeira vez, mudou o ponteiro da desigualdade no Brasil. Em oito anos de governo, temos uma sociedade menos injusta. A maior parte da população já não está nas categorias mais baixas, está na metade da pirâmide", afirmou, observando, em seguida, que a pobreza e a miséria ainda são muito grandes no país.
Para Sader, a solução estaria na continuidade e aprofundamento das medidas já iniciadas pelo atual presidente. Ele citou, entre elas, os programas de microcrédito, Bolsa-Família, Luz para Todos e o aumento real do salário mínimo.
Maioria dos problemas foi herdada
O sociólogo admitiu haver problemas na gestão Lula, os atribuiu, entretanto, em grande parte à herança deixada pelos governos anteriores e ao que considera "retrocessos", como a crise econômica e políticas neoliberais.
"O governo Lula não mudou estruturalmente alguns elementos, como por exemplo em relação à hegemonia do capital financeiro. A desregulamentação econômica em escala mundial não levou ao investimento produtivo e sim a uma brutal transferência de recursos do setor produtivo para o especulativo", disse.
"Atualmente, dá mais dinheiro investir na bolsa de valores, embora não crie empregos. O Brasil chegou a ter uma taxa de juros de 48% no período de Fernando Henrique Cardoso, hoje ela está em 10%. Continua tendo a taxa real de juros mais alta no mundo, mas atrai capital que não gera riqueza nem empregos", explicou Sader. "São problemas pendentes que, se não forem enfrentados, dificultarão a continuidade e o aprofundamento da política social."
Oposição é "direita disfarçada"
A oposição ao presidente Lula na pessoa do candidato do PSDB, José Serra, é vista por Sader como uma "direita disfarçada". "A oposição diz que não é anti-Lula, porque quem for anti-Lula perde. Ela é pós-Lula, que seria um aprofundamento do que o Lula já fez", disse. "É uma direita disfarçada, porque se for aberta será frontalmente derrotada", concluiu. O teórico brasileiro afirmou, ainda, que a mídia é a grande opositora do atual governo. "Não há um jornal, rádio e televisão no Brasil que apoie o governo", comentou.
Já a candidata Marina Silva tem, na avaliação da professora Iole Ilíada Lopes, um lado "conservador com relação a muitos temas" apesar de seu perfil de esquerda, ligado à ecologia. A candidata do Partido Verde desempenha, na opinião de Lopes, a função de atrair votos que, de outra maneira, iriam para a candidata Dilma Rousseff.
"Se a candidatura de Serra naufragar, ela [Marina] pode virar a candidata alternativa da direita", disse. "De alguma forma, [Marina] está ajudando os setores conservadores e o seu candidato", concluiu Lopes.
Autor: Marcio Damasceno
Revisão: Roselaine Wandscheer