Navalny é preso ao desembarcar em Moscou
17 de janeiro de 2021O ativista russo Alexei Navalny, um dos principais opositores do presidente Vladimir Putin, foi detido logo após desembarcar em Moscou neste domingo (17/01). Ele retornava a seu país natal pela primeira vez desde que foi envenenado na Sibéria em agosto de 2020.
Em comunicado, o serviço penitenciário federal da Rússia, FSIN, afirmou que Navalny foi detido por "múltiplas violações" de uma sentença de liberdade condicional de sete anos atrás, e que ele "será mantido sob custódia" até uma decisão judicial sobre o caso.
Em 2014, o ferrenho crítico do Kremlin foi condenado por fraude, num processo considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
Segundo afirmaram testemunhas à agência de notícias Reuters, Navalny foi preso assim que mostrou seu passaporte para os agentes de fronteira, antes de entrar formalmente na Rússia. Sua esposa Yulia, sua porta-voz e seu advogado foram autorizados a ingressar no país.
O opositor russo vinha da Alemanha, onde passou os últimos cinco meses se recuperando de um ataque com um agente neurotóxico que ele atribuiu ao governo russo. O Kremlin, por sua vez, nega qualquer participação no envenenamento.
Apesar de ter sido advertido pelas autoridades russas de que seria detido ao desembarcar, Navalny decidiu voltar a seu país por conta própria, não estando sob qualquer pressão aparente para deixar o território alemão.
Em conversa com jornalistas que o acompanhavam no voo, ele disse não estar com medo e que não acreditava que seria preso. Também a repórteres que o questionaram ao embarcar em Berlim neste domingo, Navalny replicou: "Eu, preso? Impossível. Sou inocente."
Apoiadores do opositor e jornalistas chegaram a se dirigir ao aeroporto Vnukovo, em Moscou, onde o avião estava programado para chegar, mas a aeronave acabou pousando no aeroporto Sheremetyevo, a cerca de 40 quilômetros de distância.
As autoridades não explicaram imediatamente por que ordenaram o desvio do voo no último minuto, mas pareceu ser um esforço para frustrar os repórteres e apoiadores que o aguardavam.
Reações à prisão
A prisão de Navalny foi rapidamente condenada por líderes europeus. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, classificou a prisão de "inaceitável" e pediu sua libertação.
"A detenção de Alexei Navalny na chegada a Moscou é inaceitável. Peço às autoridades russas que o libertem imediatamente", escreveu Michel no Twitter.
Os governos da Lituânia, Letônia e Estônia, membros da União Europeia (UE), também pediram a soltura de Navalny e a "imposição de medidas restritivas" contra a Rússia.
"A detenção de Navalny pelas autoridades russas é completamente inaceitável. Exigimos sua libertação imediata", escreveu no Twitter o ministro do Exterior lituano, Gabrielius Landsbergis. "A UE deve agir rapidamente, e se ele não for libertado, precisamos considerar a imposição de medidas restritivas em resposta a esse ato flagrante."
Reação semelhante foi adotada pelo primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, que também apelou às autoridades da Rússia para que o liberem "imediatamente".
"A detenção de Navalny é mais uma tentativa de intimidar a oposição democrática na Rússia. Uma resposta rápida e inequívoca da UE é essencial. Respeito pelos direitos dos cidadãos é a pedra angular da democracia", disse o premiê no Twitter.
O envenenamento
Em agosto de 2020, Navalny foi transportado de avião em coma para tratamento médico em Berlim, após sobreviver a uma tentativa de assassinato com o agente nervoso Novichok na Sibéria.
Moscou vem rechaçando todas as imputações de ter envenenado o ativista anticorrupção, embora cientistas da Alemanha, Suécia e França tenham atestado nele vestígios de Novichok – diagnóstico confirmado por testes da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq).
Além disso, alegando pertencer ao serviço de inteligência russo FSB, o próprio Navalny gravou um telefonema com um agente que admitiu ter participado do atentado com a substância tóxica procedente da era soviética. Moscou alega que a gravação é falsa.
O envenenamento do oposicionista russo e seu posterior tratamento na Alemanha têm sido objetos de atrito entre a Rússia e a União Europeia. No fim de 2020, a UE impôs proibições de ingresso e congelou as contas bancárias de diversas autoridades russas, entre as quais o diretor do FSB, Alexander Bortnikov.
EK/ap/afp/rtr