Oposição indefinida sobre CPI do serviço secreto
20 de janeiro de 2006O Partido Liberal Democrata (FDP) e o Partido de Esquerda voltaram a defender nesta sexta-feira (20/01) a instituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a participação do Serviço Federal de Informações (BND) na Guerra do Iraque.
Já o Partido Verde, que participou do governo anterior, condicionou seu apoio à definição das tarefas da comissão. Caso a comissão se ocupe de "manipulação da história", os verdes não darão seu aval, afirmou a líder da bancada do partido, Renate Künast.
Uma decisão dos três partidos sobre o assunto pode sair ainda no início da semana que vem. Sem o apoio dos verdes, os liberais e os de esquerda não terão o número suficiente de votos para instalar a comissão.
CDU/CSU e SPD, que integram a grande coalizão, estão apelando insistemente à oposição para que renuncie à CPI, sob a alegação de não colocar em risco os trabalhos do serviço secreto e, com isso, o grau de segurança na Alemanha.
Escândalo encenado
O ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, classificou as críticas à ação do BND em Bagdá como um "escândalo encenado". Tema da CPI seria não só o trabalho de agentes que ficaram em Bagdá durante a Guerra do Iraque, mas também o papel de Steinmeier, então chefe da Casa Civil no governo Schröder.
Steinmeier afirmou que a manobra da oposição é uma tentativa de obscurecer o claro "não" da Alemanha à guerra no Iraque. Segundo ele, a CPI tem por objetivo desacreditar a correta decisão do governo anterior, de se opor à guerra. Ele disse que os integrantes do Partido Verde deveriam se perguntar se é inteligente se eximir de uma política externa pela qual os dois partidos foram responsáveis.
O presidente do Partido Liberal Democrata, Guido Westerwelle, já afirmou que não se pode excluir a possibilidade de que também seja "amplamente esclarecido" o papel do ex-ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, no caso. Fischer é a maior estrela do Partido Verde e integrou o gabinete do governo Schröder.
Steinmeier também reservou munição para os liberais. Segundo ele, a atual tentativa de desacreditar a política exterior alemã poderá atingir também líderes do partido, como Hans-Dietrich Genscher, ministro das Relações Exteriores nos governos de Helmut Schmidt e Helmut Kohl.
Em debate no Bundestag (câmara baixa do parlamento) nesta sexta-feira, ele defendeu a permanência dos agentes do BND em Bagdá após o início da guerra e disse que eles foram claramente instruídos a não fornecer nenhum apoio aos comandantes da ofensiva militar.
Linha vermelha
Os dois agentes acusados de fornecer informações aos norte-americanos negaram as acusações durante depoimento de cerca de seis horas ao Grêmio Parlamentar de Controle do Bundestag. Eles negaram participação no bombardeio de um restaurante no bairro de Mansur em 7 de abril de 2003.
Os integrantes do grêmio disseram não haver indícios de que os agentes tenham cometido erros durante suas tarefas. Eles trabalhavam na coleta de informações para o serviço secreto alemão em Bagdá.
O ex-ministro Fischer justificou o trabalho dos agentes. "Algumas informações do BND na Guerra do Iraque foram muito importantes para nós", afirmou ao jornal semanal Die Zeit. "Pelo que eu sei, nós nunca ultrapassamos a linha vermelha, a linha político-moral que nós mesmos nos impusemos."