Oposição promete combater constituinte de Maduro
2 de maio de 2017Um dia após o anúncio da convocação de uma Assembleia Constituinte pelo presidente Nicólas Maduro, a oposição venezuelana afirmou que vai combater a tentativa de modificar a Constituição e pediu que a população se rebele contra a iniciativa, considerada uma tentativa de marginalizar o Legislativo.
"Se todos não derem tudo, corremos o risco de que ocorra o que o mundo inteiro está lutando, junto conosco, para evitar, que é o aniquilamento da democracia", disse nesta terça-feira (02/05) o líder do Parlamento, o opositor Julio Borges, que classificou a Constituinte como um golpe de Estado e pediu aos venezuelanos que continuem protestando.
No primeiro protesto contra a Constituinte, centenas venezuelanos em Caracas e em várias cidades do país bloquearam ruas e avenidas. A ação faz parte da estratégia da oposição, reunida na aliança Mesa da Unidade Democrática (MUD), para pressionar o governo através de manifestações populares e evitar, desta maneira, a convocação do processo.
A iniciativa impulsionada pela MUD para fechar as principais vias de circulação do país foi colocada em prática em dezenas de pontos da capital venezuelana e do interior.
Durante os bloqueios, os participantes seguravam cartazes pedindo a renúncia do presidente chavista e o acusavam de violar a Constituição, criada há 16 anos por iniciativa de seu antecessor, Hugo Chávez, num processo similar. A oposição convocou ainda um megaprotesto para esta quarta-feira.
Os bloqueios desta terça-feira, que se somam a mais de um mês de manifestações, ocorreram um dia após o anúncio de Maduro sobre a Constituinte, que, segundo o líder, seria a única solução para a crise. A oposição acusa o presidente, porém, de tentar adiar as eleições deste ano e a presidencial marcada para 2018. Pesquisas indicam que os chavistas seriam derrotados em ambos os pleitos.
Presidente sob pressão
Maduro não deu cronograma para o processo e não esclareceu se a Constituinte vai se encarregar de redigir uma nova Carta ou se vai se limitar a reformar a atual, aprovada por Hugo Chávez há 18 anos, após chegar ao poder, e que deu início à chamada "República Bolivariana".
A assembleia, limitou-se a dizer o líder venezuelano, será "cidadã, e não de partidos políticos". Ela seria eleita com o voto direto do povo e teria cerca de 500 integrantes – metade deles escolhidos diretamente por movimentos sociais, como sindicatos e grupos indígenas.
Opositores dizem que o anúncio é outra tentativa de marginalizar o atual Legislativo, liderado pela oposição, e manter o impopular Maduro no poder em meio à recessão e a uma onda de protestos.
As manifestações costumam ser duramente reprimidas pela polícia. Pelo menos 29 pessoas morreram desde o início da ação. O estopim para a onda de protestos foi a decisão do TSJ de assumir as competências do Assembleia Nacional, de maioria opositora.
O golpe institucional foi amplamente condenado internacionalmente, e, sob pressão, a Corte acabou revogando a decisão, o que não foi suficiente para reverter a profunda queda na popularidade de Maduro.
Maduro e seus partidários afirmam que a oposição quer derrubá-lo à força como parte de uma conspiração apoiada pelos Estados Unidos para colocar um governo de direita no comando da Venezuela.
Entre outras coisas, opositores pedem eleições, o resgate da autonomia do Legislativo, liberdade para mais de 100 ativistas presos e um canal de ajuda humanitária do exterior para aliviar a crise econômica da Venezuela, onde faltam produtos básicos.