Oposição tenta intensificar pressão sobre Maduro
18 de julho de 2017Animada com os resultados expressivos contra o presidente Nicolás Maduro em um referendo não oficial, a oposição venezuelana pretende intensificar as ações contra o governo para impedir a formação de uma Assembleia Constituinte que pode dar ainda mais poderes aos chavistas.
Entre as táticas contempladas pelos opositores estão bloqueios e ocupação de vias, a convocação de uma greve nacional e até mesmo uma marcha até o palácio presidencial - ações que já foram adotadas em outros momentos de tensão com o regime, como na fase que antecedeu o golpe frustrado de 2002.
A greve geral foi convocada para a próxima quinta-feira (20/07) e deve durar 24 horas. "Convocamos todo o país a realizar nesta quinta-feira, em protesto maciço e sem violência, uma greve cívica nacional ativa de 24 horas como mecanismo de pressão e preparação para a escalada definitiva que será na semana que vem”, disse o dirigente opositor Freddy Guevara.
Guevara afirmou que a greve é mais uma etapa dos protestos que começaram há quase quatro meses no país - e que resultaram na morte de 96 pessoas. Segundo ele, a greve vai "enfrentar a fraude constituinte e conseguir a restituição da ordem constitucional” na Venezuela.
Parlamento
A oposição, que domina o Parlamento venezuelano, também deve participar das ações para pressionar o governo. Os deputados devem nomear na sexta-feira novos magistrados para o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Eles acusam a Corte de dar um "golpe de Estado” na Venezuela com decisões que sabotam as funções do Legislativo.
Além disso, partidos da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) assinarão na quarta-feira um compromisso para a formação de um futuro "governo de união nacional”.
Apesar do anúncio de sua ofensiva, Guevara assegurou que a MUD está disposta a dialogar, desde que o governo desista de convocar os 545 membros da Assembleia Constituinte, em um processo de escolha que deve ocorrer em 30 de julho.
"Se o regime acatar a decisão soberana do povo, retirar sua proposta constituinte, os venezuelanos e sua liderança estão dispostos (…) a discutir de maneira aberta e transparente, sem manipulações nem enganos, de frente para o país com propostas sérias”, apontou Guevara.
Hora zero
As ações planejadas pela oposição fazem parte do que a MUD está chamando de a "hora zero”, uma estratégia para intensificar a pressão contra o governo. O plano foi anunciado após os opositores conseguirem reunir 7,2 milhões de pessoas em um plebiscito simbólico no último domingo. Segundo os resultados, 98% dos votantes rejeitaram a convocatória de Maduro para formar uma Constituinte.
"Hoje, a Venezuela se levantou com dignidade para dizer que a liberdade não anda para trás, a democracia não é negociada", disse Julio Borges, que lidera a Assembleia controlada pela oposição, logo depois que os resultados do referendo informal foram anunciados.
"Nós não queremos uma Assembleia Constituinte fraudulenta imposta a nós. Não queremos ser Cuba. Não queremos ser um país sem liberdade", acrescentou.
Maduro, cujo mandato está previsto para terminar no início de 2019, rejeitou o referendo da oposição, dizendo ter sido um exercício interno sem influenciar seu governo.
Na segunda-feira (17/07), ele disse que manterá a convocação da Constituinte. "Assim a convoco, uma constituinte pela independência e soberania, e a Europa que diga o que quiser, não nos importa o que a Europa diz", declarou Maduro em pronunciamento no palácio presidencial de Miraflores em referência ao apelo que a União Europeia (UE) fez para que ele desistisse da iniciativa.
JPS/afp/Ap/efe