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Ordem de Trump desencadeia onda de críticas pelo mundo

30 de janeiro de 2017

Líderes europeus condenam proibição de entrada de refugiados muçulmanos e afirmam que acolhimento é dever. Governos muçulmanos veem fortalecimento do terrorismo. Obama se manifesta pela primeira vez.

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Protesto contra política migratória de Donald Trump no aeroporto JFK, Nova YorkFoto: picture alliance/AP Photo/C. Ruttle

Líderes europeus e de países muçulmanos, diplomatas, empresas e ativistas dos direitos humanos teceram nesta segunda-feira (30/01) duras críticas à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de proibir o ingresso no país de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. São eles Síria, Irã, Iraque, Sudão, Líbia, Somália e Iêmen.

Em Berlim, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, retomou as críticas ao banimento. "Na minha opinião, o procedimento contradiz o princípio básico da ajuda internacional aos refugiados e da cooperação internacional", afirmou. Segundo ela, a luta contra o terrorismo não justifica que pessoas de uma determinada fé, neste caso a muçulmana, sejam colocadas sob suspeita generalizada.

Em visita a Dublin, a primeira-ministra Theresa May afirmou que o Reino Unido tem uma abordagem diferente da de Trump sobre a questão migratória. O secretário do Exterior, Boris Johnson, disse que o decreto é "divisivo, discriminatório e equivocado", mas rejeitou os pedidos para que o governo cancele a visita de Trump ao país. Johnson disse ter dito a autoridades americanas que é errado estigmatizar pessoas com base em suas nacionalidades.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Marc Ayrault, defendeu a anulação do decreto de Trump. "Acho que isso seria de bom senso", afirmou durante visita a Teerã, no Irã, um dos países afetados pela decisão. Antes, o ministro escreveu no Twitter que "o acolhimento de refugiados é um dever de solidariedade. O terrorismo não é uma questão de nacionalidade, a discriminação não é uma resposta".

O democrata Barack Obama, antecessor de Trump na Casa Branca, pronunciou-se sobre o veto pela primeira vez nesta segunda-feira. Segundo o porta-voz Kevin Lewis, o ex-presidente "discorda fundamentalmente da ideia de discriminar indivíduos por sua fé ou religião". O funcionário afirmou ainda que Obama se sente "encorajado pelo nível de engajamento que acontece em comunidades ao redor do país".

Diplomatas preparam protesto formal

O governos da Suíça, da Holanda, da Suécia, da Bélgica, da Itália e de Luxemburgo também criticaram o banimento, que gerou ainda muitos protestos dentro dos Estados Unidos, principalmente em aeroportos, mas também nas ruas de grandes cidades.

Um grupo de cem diplomatas americanos está elaborando um protesto formal contra a decisão, usando para isso um mecanismo previsto pelo Departamento de Estado para expressar contrariedade com decisões tomadas por superiores, noticiou o The Wall Street Journal. "Esta proibição não alcançará seu objetivo assinalado de proteger o povo de ataques terroristas de cidadãos estrangeiros que ingressem nos Estados Unidos", advertem os signatários. "Além disso, essa política vai contra importantes valores americanos, como a não discriminação e as boas-vindas aos visitantes estrangeiros e aos imigrantes", acrescentam.

Em seu Twitter, Zeid Ra'ad al-Hussein, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, afirmou que a "discriminação apenas sobre a nacionalidade é proibida sob a lei #humanrights. A proibição dos EUA é mesquinha e desperdiça os recursos necessários para uma luta apropriada contra o terrorismo."

Congressistas republicanos também expressaram desconforto com a decisão, entre eles os senadores Marco Rubio, da Flórida, e Tim Scott, da Carolina do Sul, que afirmaram que "a maneira como essas medidas foram elaboradas e implementadas contribuiu grandemente para a confusão, ansiedade e incerteza dos últimos dias". O senador Pat Toomey, da Pensilvânia, disse apoiar um controle maior nas fronteiras, mas que, "infelizmente, essa ordem executiva é defeituosa – ela é muito ampla e mal explicada."

Várias empresas criticaram o decreto presidencial e anunciaram medidas em resposta. A Starbucks e a Airbnb disseram que vão contratar refugiados. "Estamos vivendo numa era sem precedentes, na qual somos testemunhas de como a consciência do nosso país e a promessa do sonho americano estão sendo postas em questão", afirmou o presidente da Starbucks, Howard Schultz, numa carta a seus empregados. Ele disse que a empresa planeja empregar 10 mil refugiados em todo o mundo nos próximos cinco anos. O chefe do grupo financeiro Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, afirmou a seus empregados que não apoia a decisão de Trump.

Incentivo ao terrorismo

Líderes de países muçulmanos criticaram o decreto de Trump. O ministro do Exterior do Catar, xeique Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani, disse esperar que os Estados Unidos revejam sua posição. O governo do Irã chamou o banimento de "ilegal, desumana e contra os direitos humanos" e disse que ela ajuda os terroristas a recrutarem pessoas.

O ministro do Interior do Paquistão, Chaudhry Nisar Ali Khan, afirmou que a decisão dos Estados Unidos prejudica a luta global contra o terrorismo e pode ajudar os terroristas a alcançar seus objetivos. Ele disse que associar o islã ao terrorismo é injustificável, pois apenas algumas centenas de fiéis aderem à militância terrorista num universo de 1,5 bilhão de muçulmanos.

O banimento americano também causou confusão em aeroportos de vários países. Empresas aéreas foram obrigadas a impedir o embarque de cidadãos dos países atingidos em voos para os Estados Unidos. Em Paris, a Air France comunicou que 15 pessoas foram barradas nesta segunda-feira. O aeroporto de Dubai também confirmou que pessoas foram impedidas de embarcar, mas não divulgou quantas.

Já a Turkish Airlines comunicou que vai reembolsar os passageiros que forem afetados pela decisão, além de não cobrar multa. A empresa não comunicou quantas pessoas foram atingidas pela decisão em seus voos. A Japan Airlines também comunicou ter começado a barrar cidadãos dos países afetados em voos para os Estados Unidos. Emirates, Lufthansa e Etihad Airways afirmaram que estão se adaptando à nova situação.

AS/ap/afp/dpa/efe