Opção pelos pobres
5 de dezembro de 2011Era o Natal de 1961. Em todas as missas católicas da Alemanha eram feitas coletas. Os bispos recolhiam doações para pessoas que sofriam com a pobreza na América Latina, também como forma de agradecimento.
Afinal, nos primeiros anos do pós-Guerra, a solidariedade havia ocorrido no sentido inverso, como dizia o então bispo de Essen, Franz Hengsbach. "No Brasil uma mulher me mostrou a mesa de sua sala e disse: 'aqui embrulhamos milhares de pacotes para vocês'."
Essas primeiras coletas arrecadaram 23 milhões de marcos alemães, o equivalente a 11,8 milhões de euros em valores da época. O que foi planejado para ocorrer apenas uma vez acabou se tornando a Ação Episcopal Adveniat, nome oficial da organização católica de ajuda à América Latina. Desde então foram arrecadados mais de 2,3 bilhões de euros, com os quais foram apoiados 3 mil projetos anuais de ajuda em toda a América Latina.
Luta contra a pobreza
A luta contra a pobreza e a injustiça está desde o princípio no centro do trabalho da Adveniat. O que faz jus ao significado do nome da organização (Venha a nós o vosso reino, do Pai Nosso), como enfatiza o diretor Bernd Klaschka. "Nesta oração, Jesus pede a Deus que as pessoas tenham diariamente o que elas precisam para viver. E nós ajudamos nisso, em lugares onde a situação é mais urgente."
O nome Adveniat se espalhou rapidamente pela América Latina e é hoje conhecido em favelas da Guatemala e do Paraguai, por exemplo.
Com as doações, a Adveniat ajuda primeiramente a melhorar a assistência espiritual oferecida pela Igreja Católica na América Latina, incluindo, por exemplo, a formação de sacerdotes e leigos, a construção de igrejas e centros comunitários e a compra de camionetas para que seja possível alcançar as regiões mais longínquas do continente.
Novos desafios
Três princípios são até hoje muito importantes: a iniciativa de um projeto deve vir do próprio país, as comunidades locais devem se envolver no projeto, com recursos financeiros próprios e força de trabalho, e todo projeto deve beneficiar os pobres.
Esses critérios são enfatizados pelo bispo responsável pela Adveniat, Franz-Josef Overbeck. Mesmo que o Brasil e outros países latino-americanos estejam hoje incluídos no grupo dos chamados emergentes, a pobreza, com todas as suas consequências, continua sendo o problema principal, uma situação que "deve se manter pelos próximos 50 anos", observa Overbeck.
O bispo e os demais responsáveis veem hoje outros desafios para o trabalho da organização católica. Por exemplo a questão da educação como chave para o desenvolvimento social, bem como a mundialmente difundida tendência de subordinar os interesses econômicos à proteção do clima e do meio ambiente.
Outro desafio é o crescimento de seitas e das chamadas igrejas neopentecostais, que afastam os fiéis da Igreja Católica.
Opção pelos pobres
O tão evocado tema da "opção pelos pobres" é uma espécie de linha invisível unindo todas as atividades da Adveniat durante estes 50 anos, e isso se reflete também num tema central e polêmico: a controversa Teologia da Libertação, que critica a hierarquia da Igreja Católica e coloca as necessidades dos pobres no centro das ações da Igreja.
Muitos católicos, principalmente no Vaticano, nunca viram com bons olhos essa aproximação entre igreja e política, ainda mais por ela ter influências marxistas e socialistas. Mas a "opção pelos pobres" era e é consensual, desde os bispos até o Papa. E o lema oriundo da Teologia da Libertação, "ver, julgar, agir", marca o trabalho da Adveniat na América Latina até hoje.
Como diz Klaschka, os ensinamentos cristãos de nada valem sem a ação. "E nós devemos sempre estar lá onde Jesus também esteve: ao lado dos pobres."
A luta contra a pobreza é uma tarefa difícil, e a Igreja Católica brasileira se alegra de poder contar com a ajuda da organização alemã. Segundo o presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis, a Adveniat é um parceiro muito importante e confiável.
O brasileiro foi até pouco tempo presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano. "Nós agradecemos por 50 anos de encontro e enriquecimento", declarou Assis, que disse esperar que esse trabalho de parceria continue ainda por muito tempo. "A igreja daqui e a de lá precisam uma da outra e podem alcançar muito trabalhando juntas."
Autor: Gottfried Bohl (mp)
Revisão: Alexandre Schossler