Organizações procuram solução para caça ilegal de rinocerontes
16 de março de 2013Os rinocerontes selvagens mais protegidos do mundo estão no Quênia. Os quatro animais são do tipo rinoceronte-branco-do-norte – e são provavelmente um dos últimos exemplares do mundo. Por isso, cada um conta com quatro guarda-costas, que cuidam de sua segurança dia e noite.
A situação dessa subespécie é extremamente delicada, mas o panorama para os demais rinocerontes da África também preocupa. No continente, estima-se que haja cerca de 25 mil exemplares, o que faz dele um animal ameaçado. O comércio é, por isso, proibido. A exceção é na África do Sul e na Suazilândia, onde está a maioria dos exemplares e onde a exportação é legalizada. Por cerca de 20 mil euros, um turista pode caçar e levar o troféu de caça para casa.
Ao mesmo tempo, a caça e o comércio ilegais florescem. Segundo a ONG WWF, o número de rinocerontes selvagens caçados na África aumentou dez vezes nos últimos cinco anos. Ainda há muito a fazer para combater a prática, mas a organização vê avanços.
Pressão sobre Moçambique e Vietnã
Na última Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (Cites), encerrada na quinta-feira (14/03), houve críticas abertas ao Vietnã, principal receptor do tráfico, e a Moçambique, principal porta de saída. "Foi a primeira vez que nomes foram ditos", diz Sylvia Ratzlaff, da WWF.
Segundo ela, os dois países têm agora alguns meses para enfrentar o problema de forma construtiva. Moçambique pode ser pobre, afirma, mas ali também se aplicam as determinações da Cites. O país poderia pedir assessoria a organizações de proteção à natureza e ao meio ambiente, afirma.
"No caso do Vietnã, houve até aqui também falta de vontade política", continua Ratzlaff, afirmando que até pessoas ligadas a representações diplomáticas talvez estivessem envolvidas no tráfico de rinocerontes.
O país já está sob pressão. Se, até janeiro de 2014, não der passos significativos para combater a prática, correrá risco – assim como Moçambique – de sofrer sanções ao comércio legal de animais selvagens, que é controlado pela Cites.
Organizações como a WWF e a Pro Wildlife apostam na informação para lutar contra a caça ilegal. No Vietnã, há a crença de que o pó de chifre de rinoceronte tem propriedade medicinal, o que, segundo Ratzlaff, já foi cientificamente refutado. Mesmo assim, os vietnamitas chegam a pagar 40 mil euros pelo quilo, ou seja, mais do que pagam por ouro.
Legalização como forma de controle
Para o biólogo sul-africano Duan Biggs, campanhas de esclarecimento e o controle sobre a proibição do comércio não são suficientes. Ele e outros especialistas defendem a legalização, o mais breve possível, da venda de chifre de rinoceronte.
"Nós temos agora, com a atual população de rinocerontes saudáveis, uma margem que permite a caça", explica Biggs, que diz que, se a estratégia não funcionar, pode ser interrompida. "Mas, se continuarmos a fazer como agora, então ficaremos em algum momento sem alternativas senão a atual, que claramente falhou."
A ideia é que os rinocerontes passem a ser animais de criação. Os chifres, explica Biggs, crescem como unhas, e os animais não sofrem quando eles são cortados. Segundo ele, um quarto dos rinocerontes vive em fazenda privadas, onde também não é permitido o corte do chifre. A legalização, diz Biggs, reduziria o preço do produto e tornaria a caça ilegal menos atraente. A WWF e outras organizações pensam diferente. Ratzlaff teme um boom na demanda.
"Passaria-se de um comércio de elite a um comércio de massa. Estaríamos acendendo uma chama que não poderá mais ser apagada", argumenta.
Duan Biggs e seus colegas, no entanto, usam como exemplo os crocodilos, para os quais foi implementado um modelo de caça legalizada que funcionou. "Se a demanda cresce, as áreas dos rinocerontes serão mantidas ou até expandidas", afirma o biólogo, que cresceu no Parque Nacional Krüger, na África do Sul.
Autora: Maja Braun (rpr)
Revisão: Carlos Albuquerque