Origem de suspeitos dá pistas sobre possível motivo para atentado de Boston
19 de abril de 2013Um é descrito como universitário, boxeador e fã de rap. O outro, um bem-sucedido atleta escolar, classificado por um vizinho como um jovem com "coração de ouro". Quando as fotos dos irmãos Tamerlan, de 26 anos, e Dzhokhar Tsarnaev, de 19, começaram a circular, ficou difícil diferenciá-los dos outros milhões de jovens estrangeiros em busca de um futuro nos Estados Unidos.
Os dois são os principais suspeitos de terem realizado o ataque que deixou três mortos e mais de 180 feridos na Maratona de Boston, na última segunda-feira (15/04). E os investigadores ainda tentam decifrar as razões que poderiam tê-los levado a realizar o maior atentado terrorista em solo americano desde o 11 de Setembro.
Tamerlan e Dzhokhar teriam raízes na Chechênia, uma região que, nas últimas duas décadas, viu duas guerras (1994-1996 e 1999-2000) e uma série de atentados terroristas – como o massacre na escola de Beslam, em 2004 – serem realizados em nome de sua luta pela independência.
Residentes legais
Antes de se mudarem para os Estados Unidos, há cerca de uma década, e se estabelecerem como residentes legais, os irmãos foram educados no Daguestão. Na década de 1990, a região acabou arrastada para a violência na vizinha Chechênia e se tornou um dos centros de um crescente movimento islamista insurgente.
Tanto a Chechênia quanto o Daguestão são províncias do Cáucaso do Norte, uma área de montanhas do sul da Rússia povoada principalmente por minorias étnicas muçulmanas. A história de rebelião contra Moscou data de séculos.
Com o fim da União Soviética, chechenos passaram a buscar independência, da mesma forma que as outras 14 ex-repúblicas soviéticas que conseguiram se livrar da tutela de Moscou. Mas, no caso checheno, a Rússia decidiu lutar ao invés de simplesmente se retirar.
Dzhokhar nasceu em 1993 e carrega o mesmo nome do principal líder separatista checheno da época, Dzhokhar Dudayev, morto três anos depois por um míssil russo. A região é hoje comandada, com mão de ferro, pelo ex-rebelde Ramzan Kadyrov, nome apoiado pelo Kremlin.
"A raiz do mal deve ser procurada nos Estados Unidos", afirmou Kadyrov nesta sexta-feira (19/04). "Os irmãos cresceram e estudaram nos EUA, e suas atitudes e crenças foram formadas lá. Qualquer tentativa de fazer uma conexão entre eles e a Chechênia será em vão."
Possível ganho para Putin
Em contas em redes sociais atribuídas aos irmãos, ambos deixaram um rastro sugerindo serem muçulmanos devotos, orgulhosos de sua herança chechena e defensores da busca da região pela independência.
"Soube do ocorrido pela televisão. Minha opinião é que os serviços secretos julgaram os meus filhos porque são muçulmanos", disse Anzor Tsarnaev, pai dos jovens. "Por que mataram Tamerlan? Tinham que tê-lo detido vivo."
De acordo com o perfil de Dzhokhar na rede social russa VKontakte, ele estudava na Cambridge Ringe & Latin School e tinha como prioridade, como ele mesmo diz, construir carreira e ganhar dinheiro. Já Tamerlan tinha uma página no YouTube. Nela, havia uma pasta nomeada “terroristas”, com dois vídeos excluídos, e outra com o nome “islã”, com outros sete vídeos.
Se confirmadas as ligações dos irmãos com o movimento ou as ideais separatistas chechenas, especialistas acreditam que o ataque de Boston poderia ser politicamente útil para Vladimir Putin. O presidente russo sempre argumentou que separatistas chechenos eram terroristas, com conexões com a Al Qaeda, e busca apoio do Ocidente na luta contra eles.
Hoje, apesar de mais calma, a região do Cáucaso do Norte ainda enfrenta a violência de uma insurgência liderada por um movimento islamista, o Emirado do Cáucaso, comandado por um ex-rebelde checheno. Boa parte da violência está centrada hoje no Daguestão.
RPR/ afp/ ap/ dpa/ rtr