1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Os 30 anos de um outro 11 de setembro

Neusa Soliz11 de setembro de 2003

A data fatídica já marcou um trágico acontecimento na América Latina: o golpe de Estado que acabou com a tentativa de um socialismo democrático no Chile a vida do presidente Allende.

https://p.dw.com/p/440H
Manifestação em Santiago recordou ascensão de Allende ao poderFoto: AP

No Chile, vários atos lembraram os 30 anos do golpe de Estado do general Augusto Pinochet contra o regime socialista de Salvador Allende, que fez 3 mil vítimas entre mortos e desaparecidos. Pinochet instaurou uma das ditaduras mais sangrentas na América Latina, que se estendeu por 17 anos.

Uma porta, pela qual fora transportado o corpo de Allende do Palácio La Moneda, foi reaberta, depois de estar cimentada desde 11 de setembro 1973. Nesse "dia de luto e dor", o presidente Ricardo Lagos conclamou os chilenos à unidade. Embora o país tenha retornado à democracia, muitos consideram que ainda não está concluído o "acerto de contas" com a história.

Não há reconciliação sem justiça

"Há uma tendência a se dizer que ditadura cometeu erros por um lado, e a esquerda - o governo da Unidade Popular - também, mas que agora basta, e é hora da reconciliação", resumiu a situação o escritor chileno Pedro Holz, que se encontra na Alemanha, apresentando seu livro "O pequeno mundo do Sr. Kaiser". Para Holz, que nasceu em Berlim e esteve exilado na Alemanha, o passado não pode ser esquecido enquanto os culpados pelas violações dos direitos humanos não forem punidos e não se fizer justiça.

Na Alemanha, que recebeu 1500 exilados do Chile, e onde houve um forte movimento de solidariedade nos anos 70, realizam-se vários atos políticos recordando o acontecimento, organizados pela Anistia Internacional e ONGs.

Imprensa alemã: CIA de fora

No mais, o 11 de setembro de 1973, é assunto para a imprensa alemã. O jornal Tageszeitung dedica um suplemento especial ao Chile. Em um dos artigos "Traição em Santiago", procura elucidar alguns "mitos" criados em relação ao golpe. Descreve o suicídio de Allende - que não foi assassinado pelos golpistas - e destaca, por exemplo, a forte resistência popular na fase final do seu governo, diante dos crescentes problemas de abastecimento. E chega a sugerindo que o fracasso do governo levou ao golpe, eximindo a CIA.

Salvador Allende
O presidente Salvador Allende discursa nas Nações Unidas em 4 de dezembro de 1972.Foto: AP

Depois de reconstruir a ida do presidente socialista a Moscou, pedir o auxílio negado por Breschnev, o diário escreve: "Às duas superpotências não tem nenhuma serventia o 'socialismo chileno em liberdade". O governo Nixon gostaria de derribar Allende através de pressões políticas e econômicas, mas o serviço secreto, a CIA, recebe a ordem expressa de não participar em planos de rebelião - como o demonstram documentos da CIA a serem publicados em breve." Como se não houvessem suficientes outros exemplos a demonstrar que o serviço secreto americano sempre encontra formas de realizar o que algum grupo no seu interior considera certo, independentemente de ordens oficiais.

No Chile, o rosto de Allende ressurge em algumas bandeiras do Partido Socialista, depois de 30 anos, uma revalorização ou estilização do mito. Em Paris, o ex-presidente chileno ganhou uma praça, neste 11 de setembro de 2003: a outrora "Place Santiago" recebeu seu nome, em cerimônia que contou com a presença do prefeito da cidade, Betrand Delanoe.