Os EUA no Iraque: por um mundo melhor? – Parte 2
5 de abril de 2003Após a Segunda Guerra, os Estados Unidos galgaram o status de superpotência, encontrando no comunismo – anti-religioso, porém igualmente centrado no poder – os antípodas exatos de sua devota visão política do mundo. Sob o presidente Dwight D. Eisenhower, as tônicas desse conflito Oriente/Ocidente eram a "política da força" e a "disposição de ir até a beira do abismo". No caso de confrontações bélicas, pairava a ameaça de uma "represália maciça".
O mundo polarizado
No palco da política mundial, criaram-se circunstâncias que perigavam desembocar em catástrofes dramáticas: as guerras da Coréia, Cuba, Vietnã, armamento nuclear, guerra fria, o Muro de Berlim, o fim dos últimos domínios coloniais na África, a Nicarágua e o assim chamado "perigo vermelho no quintal" dos EUA, guerra no Oriente Médio, com a luta de Israel pela existência, fundação de um "regime de aiatolás" islâmico no Irã, a guerra entre o Iraque e o Irã, a guerra do Golfo Pérsico contra o Iraque, o colapso do poder soviético e do comunismo no Leste Europeu, guerra no Sul da Europa – até a nova, atual guerra contra o Iraque.
A cor do perigo
Os Estados Unidos estiveram envolvidos em cada um desses conflitos e guerras. Perseguindo suas metas com todos o meios: com diplomacia, embargos econômicos, intervenção cultural e na política de mídia – a exemplo das emissoras Voice of America e Radio Free Europe –, com ações ilegais de seu serviço secreto – como em 1954 na Guatemala e em 1973 no Chile – e com violência declarada.
Por vezes os norte-americanos vêem em perigo sua própria segurança e suas metas na política externa – como expressou-se o presidente George W. Bush ainda no início de março de 2003 em relação à República Islâmica do Irã –, por outras trata-se de interferir, com mão ordenadora, nos acontecimentos da política mundial. E nesse caso vale a experiência acumulada de que meios pacíficos, diplomáticos, discussão e discurso em geral só têm efeito muito restrito, se os outros países estão dispostos à violência.
A única forma de enfrentar uma tal situação é através de ameaças e da prontidão para violência ainda maior. Tal constatação levou à escalada armamentista das duas potências mundiais, Estados Unidos e União Soviética, e ao "equilíbrio do terror" – e, finalmente, ao colapso do sistema ligeiramente mais fraco, cuja inferioridade a América define não apenas como militar e econômica, mas também moral. Por princípio, a questão para os EUA é sempre sua meta idealista de um "mundo melhor".
Assim, seria simplista acreditar que eles queiram apenas expandir seu poderio político e econômico. Os norte-americanos vêem-se no dever auto-imposto de não só preservar, mas também de difundir pelo mundo o bem comum euro-americano da democracia, bem-estar e liberdade individual e social. Sob o signo desta missão política, fundada na herança ocidental, está sua luta contra tudo o que constitua uma outra cultura política, não democraticamente legitimada.
Quem, ao buscar a motivação do comportamento norte-americano, não considerar isto, quem atribui aos EUA uma míope caça de vantagens, subestima o caráter fundamental dessa missão, a ânsia de sucesso e o longo fôlego dos Estados Unidos. Não foi apenas há pouco que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, concitou à luta contra o Iraque. Há cinco anos, antes de pertencer ao governo, ele já exigia a queda daquele sistema político.
Os fins e os meios
Nos últimos 60 anos, os EUA perseguiram alvos políticos e militares incompreendidos e não legitimados por muitas outras nações, sobretudo a ação de seu serviço secreto, mais do que controvertida do ponto de vista do Direito Internacional. O país tem uma série de êxitos a registrar, mas também amargas derrotas, a exemplo da queda, em 1979, do xá da Pérsia – que nos anos 50 fora recolocado no poder, graças a estratégias do serviço secreto americano –, ou a fracassada operação para libertar os reféns norte-americanos na embaixada de Teerã, ocupada em 1980.
Os próprios Estados Unidos respondem aos críticos apelando para sua incansável batalha contra a opressão, o fascismo e a sede de dominação de outros países. Além disso, assumiram a obrigação de reprimir o crescente terror internacional, não só em nome da própria pátria, mas também pelo resto do mundo. E lembram haver democratizado o Japão e a Alemanha, vencido a guerra contra o comunismo e libertado o Afeganistão.
E hoje eles combatem o extremismo islâmico, fundamentalista, onde quer se apresente. Para tal, formam coalizões, condenadas por muitas outras nações, e que suscitam resistência política. Os Estados Unidos empregam todos os meios em sua missão: pressão política, poder econômico e, até mesmo, as armas. Mas combatem também com a moral, com a atratividade cultural e com a visão de um mundo melhor para todos.