Os filhos de Thomas Mann
4 de setembro de 2006A difícil tarefa de viver com um sobrenome ilustre potenciou- se nos filhos do escritor e prêmio Nobel alemão Thomas Mann. Como produzir algo original tendo como referência Os Buddenbrooks, A Montanha Mágica e Morte em Veneza ?
Como construir a própria história aproveitando-se da sombra paterna e ao mesmo tempo odiando-a? O escritor Klaus, a atriz Erika, o historiador Golo, a ensaísta Monika, o violinista e literato Michael e a cientista Elisabeth tentaram a vida inteira, cada um à sua maneira.
Filhos de um dos maiores escritores e intelectuais do século 20 e de Katharina Pringsheim, física e matemática de nobre família muniquense, os Mann desde o berço conviveram com os maiores expoentes da cultura e política internacional.
Compartilhando o exílio nos Estados Unidos durante o nacional-socialismo, "os filhos dos Mann" se converteram involuntária e logo conscientemente em cidadãos do mundo. Uma exposição em Munique e Lübeck proporciona uma visão da vida dessas pessoas. A DW-WORLD conversou com Michael Grisco, diretor da Buddenbrookhaus, que coordena a mostra em Lübeck, cidade natal de Thomas Mann.
DW-WORLD: Quais repercussões esta exposição tem causado?
Michael Grisco: Em Munique o êxito foi impressionante. A Casa de Literatura informou que nunca havia tido um número tão grande de visitantes. Mais de 10 mil pessoas entre fevereiro e março foram à mostra. E muitos por mais de uma vez, porque ficaram impressionados com a exposição e também pela riqueza de informações que podiam encontrar.
Como o senhor explica o sucesso da exposição?
O grande interesse por Thomas Mann e sua família existe desde o lançamento da missérie de Heinrich Breloer em 2001. A biografia de Katia Mann, publicada por Inge e Walter Jens, também ajudou na promoção da família, e em 2005 os 50 anos de aniversário da morte de Thomas Mann foi outra ocasião importante. Chegou finalmente o momento em que os filhos de Thomas Mann puderam sair de sua sombra onipresente e, apesar de já terem sido reconhecidos individualmente, agora serem vistos como uma família.
Quais são os pontos altos da exposição?
Temos sete estações que se estendem ao longo da história cultural européia e norte-americana. Desde o nascimento de Klaus Mann em 1905 até a morte de Elisabeth Mann em 2002. Origem, anos 20, a saída para o exílio, no exílio e o trabalho para os aliados, um novo exílio depois da Segunda Guerra Mundial e o trabalho nos anos 80. Oferecemos muitos originais e apostamos na força da autenticidade dos materiais.Também temos filmes e um arquivo de vozes com gravações originais.
A difícil relação com o sobrenome Mann diz algo sobre a relaçáo dos filhos com seu pai?
Falar dos filhos de Thomas Mann sem fazer referência a ele é simplesmente impossível. Os seis filhos cresceram à sua sombra e à sua luz. Mesmo se opondo eles tiraram vantagem do sobrenome. Existe a tentativa de deixar um pouco de lado o pai, ou melhor, tentamos não ressaltar tanto a sua figura, para poder apresentar melhor a personalidade de cada um dos seis. Naturalmente encontra-se a luta contra o pai, mas também a luta dos irmãos entre si, que nem sempre se deram bem e concorreram muito pelo afeto e predileção do pai.
" Alguém como eu não deveria pôr filhos no mundo", disse uma vez Thomas Mann. Como isso foi digerido pelos filhos?
Esse fragmento é encontrado exatamente na entrada da mostra. Confrontamos os visitantes com os pensamentos do pai e da mãe dos Mann, com seus motivos para querer e não querer ter filhos. Como os filhos interpretam isso? De muitas maneiras. Predileções, carinho e recusa do pai marcaram suas vidas, e cada um assimilou isso de maneira muito diversa.
Mesmo sem ter condições de fazer uma análise psicológica, podemos tomar como exemplo a vida de Erika Mann. Nos anos 20 levou uma vida bastante boêmia, foi atriz, viajou pelo mundo, experimentou drogas, aventuras amorosas... enfim, no início do século já tinha experimentado de tudo o que era novo. E logo após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se assistente de seu pai. Retornou a Kirchberg, para perto dele, cuidava de sua correspondência, seus negócios, e teve, inclusive, influência em suas obras. Michael Mann, que por muito tempo acreditava ser independente do pai, com o passar dos anos começou a editar os diários de Mann e sem querer a estabelecer uma relação direta com ele.
Essas pessoas poderiam ter feito suas carreiras sem o sobrenome Mann?
Esta é uma pergunta muito difícil, se levarmos em conta que cresceram num lugar com as mais variadas influências intelectuais, e que a casa dos Mann em Munique era visitada freqüentemente pela elite cultural da época. Os filhos, é claro, foram influenciados por este ambiente. Seu pai e sua posição lhes permitiram acesso a mundos e a um cenário artístico que, provavelmente, sem ele não haveriam tido. E o mais importante foi o fato de que, individualmente, Golo, Erika, Klaus, Elisabeth, Monika e também Michael deixaram sua marca pessoal na literatura, e Elisabeth também na ciência.