Os impactos do Fundo Amazônia em Alta Floresta
Com ajuda do Fundo Amazônia, produtores rurais recuperaram 5 mil hectares de floresta e 80% das propriedades foram regularizadas na cidade. Em 2012, ela saiu da lista de grande desmatadora para entrar na de cidade verde.
Alta Floresta
Dos 141 municípios de Mato Grosso, 86 fazem parte da Amazônia Legal, incluindo Alta Floresta, que fica a 800 quilômetros da capital Cuiabá. Fundada em 1979 pelo colonizador Ariosto da Riva como parte da estratégia do governo militar de ocupar a Amazônia, a cidade teve o nome inspirado no cenário natural encontrado às margens do rio Teles Pires (foto).
Desmatamento sem controle
Anunciada como terra fértil para atrair moradores do Sudeste e Sul do país, a extração de madeira sempre fez parte da economia de Alta Floresta. Com a devastação desenfreada, em 2008 a cidade entrou para uma lista de municípios do Ministério de Meio Ambiente que reunia os dez maiores desmatadores. Na foto, o flagrante do transporte de madeira na zona rural de Alta Floresta.
Mudança de rumo
Com o objetivo de reduzir o desmatamento, a prefeitura de Alta Floresta criou o projeto Olhos D'Água da Amazônia, que recebeu recursos do Fundo Amazônia. Com participação dos produtores rurais, foram recuperados 5 mil hectares de floresta e 80% das propriedades foram regularizadas. Em 2012, a cidade saiu da lista de grande desmatadora e entrou para o rol de municípios verdes.
Polinizadores
Além da recuperação de mata em áreas de nascentes, o projeto Olhos D'Água também investiu recursos do Fundo Amazônia na criação de um apiário municipal. Os coordenadores estimam que mais de 600 colmeias foram distribuídas para os agricultores na região. A ideia é que as abelhas jataís ajudem a aumentar a produção agrícola com a polinização.
Plantando sementes
O projeto Sementes do Portal, gerido pelo Instituto Ouro Verde, também recebeu recursos do Fundo Amazônia na cidade. Em dez anos, a iniciativa envolveu mais de 1.500 famílias, que faziam coleta e plantio de sementes, e recuperou 2.700 hectares de mata. Com a paralisação do fundo por parte do Ministério de Meio Ambiente, a terceira fase do projeto segue cancelada.
Agrofloresta
A recuperação de área degradada por meio de sistemas agroflorestais fazia parte do Sementes do Portal. Da área cultivada por Diversina Silveira de Jesus, que já foi um pátio de estoque de madeira retirada da mata, hoje brotam limão e banana, entre outros. Em dez anos, o Sementes do Portal recebeu 20 milhões de reais, dos quais 75% foram direcionados diretamente para as famílias participantes.
Avanço da soja
Em Alta Floresta, a atividade agropecuária ainda é dominante, ocupando cerca de um terço da área total do município. O avanço da soja, porém, é notável: antigas pastagens estão dando lugar ao cultivo de grão. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, de 2013 a 2018, a área plantada de soja aumentou quase dez vezes, passando de 2.400 a 20 mil hectares.
Ciência e saber indígena
O avanço da fronteira agrícola é uma preocupação do povo indígena apiaká, do Mato Grosso. Darlisson Peixoto Apiaká, liderança de sua etnia, deixou a aldeia para cursar engenharia florestal na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). Ele diz que quer unir ciência ao conhecimento tradicional de seu povo para proteger a Floresta Amazônica e as terras indígenas.