"Ostalgie" enche bolsos de camelôs e lojas de internet
30 de setembro de 2005Quinze anos após sua "morte", a Alemanha Oriental continua viva em uma onda retrô que se espalhou pela internet: é a Ostalgie, jogo de palavras que mistura Ost (em alemão, Leste) e nostalgia, que atingiu seu ápice. O design da ex-Alemanha Oriental, que parou no tempo – quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, ainda seguia o estilo dos anos 50 e 60 –, deixou muitos "órfãos" no Leste, mas também conquistou novos adeptos no Oeste.
Sorte de quem previu que a tendência se acentuaria com o passar dos anos: em 2005, o comunismo é, antes de tudo, uma ótima mercadoria. Sites na internet vendem tudo o que se encontrava no Leste alemão antes do colapso da Cortina de Ferro – de produtos alimentícios a acessórios militares, de jogos infantis a sinais de trânsito – e transformam a saudade do socialismo em lucro capitalista. Na era da globalização, é possível comprar um quepe da polícia socialista com cartão de crédito.
Shopping center virtual
O site Osthits.de é um verdadeiro shopping center retrô, oferecendo centenas de produtos, entre relíquias e reproduções (ou, para os mais puristas, falsificações). Nas variadas prateleiras virtuais do site, cabe de tudo um pouco: gravações de programas da tevê estatal em VHS, CDs, bonecos, símbolos militares – quepes, uniformes e medalhas de honra, por exemplo –, produtos de limpeza e até o mais anticapitalista dos símbolos: a Vita-Cola, resposta socialista ao estilo Coca-Cola de ser e de viver.
Entre os achados estão o ATA, um jogo de memória que só se encontrava do lado "de lá" do Muro, e os bichos de pelúcia para crianças, com sua cara de "feito em casa". Entre os personagens infantis comunistas, Schnappi, o "pequeno crocodilo", foi o que teve a mais bem-sucedida "carreira" após a reunificação. No ano passado, virou hit com uma canção pop insuportável e chegou aos "dez mais" entre os toques especiais para telefone celular. Entretanto, os sinais de trânsito para pedrestre são, de longe, o melhor item, além de bem mais imaginativos do que os da Berlim de hoje.
Retrô ou kitsch?
A única coisa que há de comunista nos sites que vendem produtos do Leste alemão – além do Osthits.de, há também o Ostprodukteladen.de e pelo menos 30 outros – são os produtos. E às vezes nem isso: há também uma série de camisetas em silk screen que foram estampadas bem depois de 1989 e são vendidas por 16 euros (cerca de 40 reais). O mesmo se pode dizer das canecas de chá e dos "chaveiros" que os alemães de hoje em dia usam em volta do pescoço e que só viraram moda na Europa há dois anos.
E os comerciantes partem para a apelação na hora de conquistar clientes. Há uma verdadeira disputa de preços entre os sites: um cobra 2 euros de postagem; o outro cobra 4, mas se o cliente fizer uma compra de pelo menos 50 euros, a entrega é gratuita. Para aniversários e épocas de festas, algumas cestas temáticas foram criadas "para ele", "para ela" e "para crianças". Nos sites, todos os cartões de crédito são aceitos, o atendimento é 24 horas – coisa raríssima na Alemanha – e os pedidos também podem ser feitos por telefone.
A maioria das empresas do setor alimentício da República Democrática Alemã – como era o nome oficial da ex-Alemanha Oriental – foi fechada após a queda do Muro. Na época, os ossis, como são chamados os alemães que viviam no lado comunista até 1989, estavam interessados em experimentar a variedade de sabores do capitalismo. Como bem mostrou o filme Adeus, Lênin, de Wolfgang Becker, a Coca-Cola foi uma das primeiras a chegar.
Empórios e camelôs
De acordo com a revista The Economist, porém, o entusiasmo dos ossis pelos produtos industrializados diminuiu rapidamente. Com isso, algumas empresas de alimentos que haviam fechado as portas em 1989 voltaram à ativa. A revista afirma que, em alguns cantos de Berlim, já é possível encontrar empórios em que "99% dos produtos são da ex-Alemanha Oriental". Mas as "ossi stores" já chegaram também a Munique, na Baviera.
Imigrantes que trabalham em Berlim como camelôs também já descobriram a tendência. Nas proximidades do Palácio da República – símbolo comunista que vai ser derrubado nos próximos meses, dando lugar à reconstrução do Castelo de Berlim, destruído na Segunda Guerra –, vendedores turcos chamavam a atenção de turistas que passavam pelas proximidades da catedral berlinense.
Comprar um chapéu de polícia de camelô, porém, nunca foi tão caro. Um vendedor turco informou ao repórter da DW-WORLD que o preço do quepe da polícia comunista era de 50 euros. Como se diria no tempo em que um grande muro ainda dividia ao meio a capital alemã: "uma verdadeira facada".