Otan debate estratégia para retirada do Afeganistão sem mudar cronograma
18 de abril de 2012Os ataques do Talibã no final de semana passado, no Afeganistão, foram rapidamente minimizados por oficiais da Otan. Para a imprensa, vale a declaração dada pelo general americano John Allen, comandante da Força Internacional de Assistência para Segurança (Isaf, na sigla em inglês): "Estou extremamente orgulhoso do quão rápido as tropas de segurança afegãs reagiram ao ataques em Cabul".
A reação aos ataques mostra que as tropas afegãs são profissionais e empenhadas, completou a porta-voz da Otan, Oana Lungescu. E assim os ataques mais violentos do Talibã em Cabul nos últimos dez anos se transformaram num caso de sucesso, segundo a visão da Otan.
Diplomatas da Otan, que não quiseram ser identificados, não demonstraram o mesmo otimismo sobre a capacidade das forças de segurança afegãs. Afinal, os confrontos só chegaram ao fim com a ajuda de helicópteros dos Estados Unidos.
"Está claro que ainda existem desafios em termos de segurança", admitiu Lungescu, em Bruxelas. Mas nada que altere o cronograma de retirada da Isaf, um dos temas em debate da reunião dos ministros da Defesa e do Exterior dos países da Otan que começa nesta quarta-feira (18/04), em Bruxelas.
O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, já afirmou: "O plano deve ser mantido." A retirada dos 130 mil soldados do Afeganistão deve ser levada adiante como o planejado.
Transferência em andamento
A Otan está transferindo a responsabilidade da segurança nas províncias do Afeganistão aos comandantes das tropas afegãs. A metade do território já está sob controle afegão, e até meados de 2013 a transferência deve ser finalizada. Até o fim de 2014, a grande maioria das tropas da Isaf, formada por soldados de 49 nações, terá deixado o país. Isso já havia sido decidido no último encontro da Otan, em novembro do ano passado, em Lisboa.
Agora, os lideres vão verificar se o calendário pode ser mantido. No próximo encontro, que acontece em maio, em Chicago, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deve anunciar quando e quantos soldados norte-americanos voltarão para casa. Vale lembrar que Obama busca a reeleição.
Quem paga a conta
A Otan está treinando cerca de 350 mil soldados e policiais afegãos. Esse número deve cair novamente depois de 2014, provavelmente para a marca de 235 mil homens. O encontro em Bruxelas entre ministros deve discutir também quem vai arcar com os custos dessas forças de segurança.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, que visitou o presidente afegão, Hamid Karzai, na semana passada, disse que os custos serão assumidos pelos países da Isaf. "Continuaremos comprometidos com o Afeganistão depois de 2014." Segundo estimativas, 4 bilhões de dólares serão necessários por ano para pagar os salários de soldados e policiais no Afeganistão.
Além disso, os ministros precisam decidir como será organizada e coordenada a complexa logística que envolve a retirada de 130 mil homens e mulheres e 70 mil veículos por meio do Paquistão e da Ásia Central. "Provavelmente esta seja uma operação separada, com necessidade de um mandato próprio", declarou o ex-general da Otan Egon Ramms à Deutsche Welle.
"A Alemanha é a força regional no norte e lidera o comando regional do norte. Ou seja, nós somos responsáveis por certos planos logísticos, apoio e abastecimento. Isso quer dizer que os alemães precisam cuidar também da retirada dos noruegueses, suecos e de tropas de outras nacionalidades", analisou o general.
Ainda segundo Rammns, o fato de a Bundeswehr ser responsável pela retirada por uma das rotas principais pode significar que os 4.400 soldados alemães tenham que ficar mais tempo em operação no Afeganistão. Eventualmente, a tropa teria até que ser fortalecida em curto prazo, porque será preciso enviar peritos em logísticas ao país asiático, completou Ramms.
O caso Rússia
Os 56 ministros irão receber em Bruxelas também convidados de países parceiros da Otan. O mais importante deles é o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov. A saída do Afeganistão também será um tema a debatido com os russos. A cooperação russa é extremamente necessária, já que o território do país deve servir de passagem.
Outro tema será o polêmico sistema antimíssil que a Otan quer criar na Europa. A Rússia se opõe ao plano, enquanto que a Otan deve estabelecer a operacionalidade inicial de parte do sistema no próximo encontro de cúpula, em Chicago. Segundo informações internas da Otan, a Rússia vê no sistema antimíssil uma redução da sua capacidade de se defender de ataques nucleares. No entanto, a Otan diz que a capacidade de revidar um ataque sofrido não será de modo algum afetada.
Comenta-se que o presidente eleito da Rússia, Vladimir Putin, teria cancelado sua participação na cúpula como protesto ao sistema antimíssil. A versão oficial do Kremlin diz que, à época do encontro, Putin terá assumido a presidência há poucos dias e terá dificuldades em comparecer a outros compromissos.
Apesar desse contratempo, a relação com os russos em nível de trabalho seria boa, dizem diplomatas da Otan em Bruxelas. Numa simulação por computador do sistema antimíssil, há algumas semanas, oficiais da Otan e russos teriam cooperado bem, considerando vários cenários de ataques de mísseis na Europa.
Passados mais de 20 anos do fim da Guerra Fria, a ameaça vem de países como Irã e Coreia do Norte, que são difíceis de avaliar. Pelo menos nesse ponto os representantes da Otan e a Rússia estão de acordo.
Autor: Bernd Riegert (np)
Revisão: Alexandre Schossler