Otan e o Leste
15 de abril de 2011A intervenção militar na Líbia permaneceu controvertida na pauta da conferência dos ministros do Exterior dos 28 países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte nesta sexta-feira (15/04). Entretanto, o grêmio também discutiu em Berlim a reaproximação com os países do Leste Europeu e começou a estudar a criação de um sistema antimíssil em conjunto com a Rússia.
Na véspera, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, já havia abordado o tema. "Na cúpula da Otan em Lisboa, aprovamos uma resolução relativa a um sistema de defesa aérea, em reação às novas ameaças. E deveríamos trabalhar em sua construção o mais próximo possível de nossos parceiros russos."
Discrepâncias nos detalhes
O encontro na capital portuguesa havia sido realizado novembro último. Porém, não foram discutidos detalhes concretos do escudo antiaéreo, cuja implementação está prevista para 2020. Durante o governo de George W. Bush haviam sido apresentados planos para a construção de um sistema de defesa contra mísseis localizado nos países-membros da Otan no Leste europeu – proposta que abalou consideravelmente as relações internacionais devido à resistência da Rússia.
A situação vem se normalizando desde que o presidente norte-americano, Barack Obama, abandonou formalmente os planos de Bush. No entanto, as diferenças entre a Rússia e a Otan já se fazem notar nas discussões preliminares sobre o escudo antiaéreo comum.
Enquanto Moscou defende a criação de um posto de comando conjunto para assegurar que o escudo não seja dirigido contra mísseis russos, a Otan prefere dois sistemas separados, a serem coordenados pelas respectivas autoridades em estreita cooperação.
Geórgia e Ucrânia
Além das conversas com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, os ministros do Exterior da Otan receberam também Grigol Vachadze, colega de pasta da Geórgia, país que, como a Rússia, não é membro da aliança militar.
A Otan prometeu à Geórgia ser aceita como membro tão logo preencha requisitos que incluem reformas democráticas substanciais, de preferência ainda antes das eleições nacionais em 2012.
Os representantes da Otan também se encontraram com o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Konstantin Hrichtchenko. O governo da Ucrânia, favorável a Moscou, não tem intenções de ingressar na aliança internacional. Ainda assim, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, elogiou a cooperação do presidente Viktor Ianukovitch com a organização.
Novas exigências a Kadafi
Lavrov condenou os bombardeios aéreos na Líbia. Em sua opinião, eles extrapolam o mandato do Conselho de Segurança da ONU, sendo preciso "transferir urgentemente a ação para o campo político e diplomático".
Pela primeira vez, a Otan estabeleceu exigências concretas ao líder líbio, Muammar Kadafi: a suspensão das agressões contra civis, o retorno das tropas do governo para as casernas e acesso irrestrito à ajuda humanitária para a população líbia. Permaneceu em aberto, no entanto, a eventual ampliação das operações militares, exigida por Londres e Paris.
Coordenação com a UE
Como declarou o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, no segundo e último dia da conferência, a Alemanha apoia a posição dos Estados Unidos, Reino Unido e França, de que só é admissível um futuro da Líbia sem Kadafi.
Há uma meta comum, que seria a paz e liberdade, afirmou o liberal alemão. Para alcançá-la, não pode haver uma solução apenas militar, mas também política. Ele apelou para que se mantenha a pressão sobre o ditador, afirmando que a as sanções mostram "cada vez mais efeito".
Tanto a Otan quanto a União Europeia tentam, por todos os meios, desmentir as acusações de impasse na crise da Líbia. Os 28 ministros do Exterior reunidos em Berlim concordaram em marcar um encontro com a União Europeia, a fim de deliberar sobre futuras ações contra Kadafi.
A Turquia vinha bloqueando essa alternativa devido a seu atrito com a UE por causa do Chipre, mas Ancara mudou de posição após conseguir impor que o encontro tenha caráter apenas "informal".
AV/dw/afp/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer