Pacientes que fazem autocontrole rígido da diabetes vivem mais
28 de março de 2014Um estudo científico feito na Alemanha comprovou o que médicos repetem diariamente em seus consultórios: pacientes com diabetes tipo dois empenhados no controle da doença têm uma expectativa de vida maior. Essa variação da doença, em geral, acomete pessoas depois dos 40 anos e não exige necessariamente a aplicação de insulina. A pesquisa, coordenada por médicos do Centro Helmholtz de Munique observou 340 pacientes ao longo de doze anos.
Os pesquisadores preferiram não quantificar os resultados, embora os dados colhidos permitissem um cálculo estatístico. "A faixa etária das pessoas é diferente, as condições são diferentes. Seria possível, mas evitamos fazer isso porque não se pode generalizar", justifica o pesquisador Michael Laxy, um dos autores do estudo.
Para definir os bons hábitos, os cientistas usaram um modelo para comparar o empenho pessoal de cada paciente em relação aos cuidados com a doença. A medição frequente dos índices de glicemia, um plano de alimentação organizado e a prática de exercícios físicos foram levados em consideração.
E nesse caso, também não há uma regra geral. Segundo Laxy, em caso de pacientes dependentes de insulina, é preciso medir a glicemia diariamente, por exemplo. Já para os que controlam a diabetes tipo dois, fazer o controle duas vezes por semana já seria o bastante para caracterizar o comprometimento pessoal.
A partir desses dados, os pesquisadores criaram uma relação matemática com os anos de sobrevida dos pacientes com a diabetes tipo dois. O médicos observaram que, ao longo de 12 anos, os pacientes mais comprometidos com o tratamento tiveram um índice de mortalidade significativamente melhor.
Embora o estudo ratifique as recomendações médicas, o autor da pesquisa explica que a novidade é justamente medir a eficácia do empenho do paciente com uma boa amostragem e por um longo período. "Não havia uma comprovação na literatura médica", explica.
Epidemia mundial
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 347 milhões de pessoas são afetadas pela doença no mundo. Só no Brasil, o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Walter Minicucci, estima 13 milhões de diabéticos. "É a primeira doença não-infecciosa a caracterizar uma epidemia", dimensiona. A estimativa é que esse número possa aumentar em até 30% se considerados os casos em que o paciente não sabe que tem a doença.
O endocrinologista enumera quatro vilões modernos da diabetes: obesidade, alimentação inadequada, sedentarismo e estresse. Por isso, existe ainda uma tendência maior a ocorrência de diabetes entre populações de menor renda e escolaridade. Na avaliação do médico, o acesso maior à informação também é decisivo, uma vez que pessoas com maior grau de esclarecimento tendem a cuidar mais da saúde.
Políticas públicas também incentivam as boas práticas de controle. O Ministério da Saúde do Brasil criou um portal para esclarecer duvidas de alimentação e sugerir hábitos saudáveis que possam aumentar a qualidade de vida desses pacientes. No entanto, o próprio ministério pontua que, no país, a doença mata mais que as contaminações por HIV: são mais de 50 mil mortes todos os anos em consequência da diabetes.
Mais ricos vivem mais
Para Minicucci, muita coisa mudou desde o início da década de 1980, quando começaram campanhas de esclarecimento. O acesso à medicação gratuita – o Sistema Único de Saúde distribui remédios básicos para o controle e tratamento da diabetes – prolonga a vida de quem tem problemas com de controle da glicose. "O governo brasileiro é um dos maiores compradores de insulina do mundo", quantifica.
No entanto, o médico observa que o acesso a tratamentos privados ou a planos de saúde tem sido outro diferencial na sobrevida dos diabéticos no Brasil. Segundo ele, quem tem mais dinheiro tem acesso a insulinas mais modernas e, por isso, conquista um padrão de vida muito mais próximo da normalidade, reduzindo os riscos de problemas relacionados a diabetes.
Entre os quadros mais comuns estão o risco de doenças cardiovasculares que, conforme a OMS, atingem metade dos diabéticos. Exposições constantes a altas taxas de glicemia também podem provocar insuficiência renal, cegueira ou complicações circulatórias que levam à amputação de membros. A organização calcula que os riscos de morte são 50% maiores entre diabéticos.
Para o autor do estudo na Alemanha, a prova científica de que o empenho pessoal pode prolongar a vida deve servir de motivação para os pacientes. Já o médico brasileiro acrescenta outra variável. Segundo ele, existe uma larga rede de organização entre os diabéticos que, com a facilidade das redes sociais, tem se unido para trocar informações sobre a doença e para cobrar a inclusão de tratamentos mais modernos também na rede pública de saúde.