Efeitos do vulcão
8 de junho de 2010Poucas pessoas fora da Islândia ouviram falar de Porsmork. O autor J.R.R. Tolkien usou aquela área isolada como base para algumas das locações de seu célebre O Senhor dos Anéis. Em abril último, aquela floresta virgem tornou-se cenário de um espetáculo próprio, com a erupção do vizinho vulcão Eyjafallajokull.
"Está totalmente diferente do que era na mesma época do ano passado. Não era para estar tudo cinza e sem cor (...); a região é conhecida por suas cores brilhantes", disse Arsaeli Hauksson enquanto dirigíamos por uma paisagem lunar deprimente.
Eu vim ver o vulcão que causou tanto caos e bloqueou o espaço aéreo europeu. Com Hauksson como guia, fui uma das primeiras pessoas a receber permissão para adentrar aquele ermo islandês de cinzas.
Deserto turístico
Porsmork, nosso destino, se situa dentro do Parque Nacional de Vatnajokull, que estava fechado desde o início da erupção. Normalmente, o parque é uma atração para amantes da natureza, e suas áreas de acampamento costumam estar lotadas nesta época do ano.
"Esta deveria ser a melhor temporada turística de verão de todos os tempos (...); isso era o que esperávamos, mas agora...". Hauksson deixou a sentença inacabada e apontou em direção à crescente nuvem de cinzas lá fora. Esta foi a primeira vez que retornou ao parque desde a erupção.
O pai de família de 27 anos toma conta de sua própria fazenda, localizada ao pé do vulcão. Ele também é membro da equipe islandesa de resgate e guia turístico. Hauksson viu o impacto do vulcão em sua comunidade, mas continua otimista; sua fala é interrompida por frequentes risos.
Cientistas da Universidade da Islândia estimam que cerca de 300 milhões de metros cúbicos de rochas e cinzas foram expelidos do Eyjafallajokull durante a erupção. O que não foi ejetado pela atmosfera através do continente europeu, depositou-se na região em torno da geleira, transformando-a em um mar de cinzas. Inevitável a comparação com a superfície lunar.
"É engraçado, porque a Nasa, de fato, enviou os primeiros astronautas à Islândia, a fim de prepará-los para pousar numa superfíciel parecida com a Lua", disse Hauksson.
Paisagem mutável
A erupção parece ter chegado ao fim, mas o problema das cinzas continua, pois ventos fortes deslocam imensas colunas da sufocante poeira, espalhando-as pela paisagem. Ao adentrarmos o parque nacional reaberto, passamos por um trator de esteira solitário que abria uma nova estrada entre os montes de cinza.
Nós nos dirigimos para o norte da geleira, onde se descarregou a fúria da erupção. Uma maciça torrente de água glacial descongelada corria montanha abaixo, arrastando tudo em seu caminho.
Como notou Hauksson, os rios mudaram de curso, e a enchente era tal que carregava rochedos do tamanho de um carro. Em muitos lugares, a camada de cinza no ar era tão espessa que tínhamos que parar e engatinhar, já que não podíamos ver mais nada.
"É estranho, conheço esta paisagem e ainda sei onde estou, mas ao mesmo tempo posso dizer que nunca estive antes nesta região, porque ela mudou completamente", afirmou o guia.
Ontem e hoje
Mas os habitantes do local sabem que a atividade vulcânica faz parte, simplesmente, da vida na Islândia. "Esta região foi atingida por enchentes durante séculos e esta área é toda vulcânica, foi sacudida por geleiras e erupções de outrora, e agora esta erupção", explicou Hauksson.
O ar estava limpo o suficiente para descermos do carro. Duas mesas de piquenique de madeira surgiram em meio às cinzas. Atrás delas, via-se uma cratera rochosa que, antes da erupção, era um lago glacial.
Ao continuarmos dirigindo, passamos por uma área ensolarada, livre de vento e cinzas. Só ali pudemos fazer uma ideia do que aquela região costumava ser: matas, montanhas verdes e o céu azul como pano de fundo.
Recuperação já começou
São essas paisagens intocadas que costumam atrair os visitantes a esta região, uma área de acampamento na base do vulcão e nossa última parada. "As cinzas não tinham chegado aqui até poucos dias do fim da erupção, mas então o vento mudou de direção...", explicou Hauksson.
O playground pintado com cores fortes e as cabines do acampamento permanecem abandonados na fuligem negra, esperando por veranistas que não virão.
"Há quem queira vir aqui para ver o local, mas não para passar a noite. Portanto, nada vai ser como antes...", disse Hauksson
O guia disse ainda que a recuperação do terreno vai levar tempo, mas ele vai se regenerar. Pequenos brotos verdes emergem por toda a planície de cinzas, o primeiro sinal de que a recuperação está começando.
Autor: Jonathon Hall (ca)
Revisão: Simone Lopes