Palestinos condenam representação brasileira em Jerusalém
1 de abril de 2019A Autoridade Palestina convocou seu embaixador no Brasil para consultas após a decisão do governo brasileiro de abrir uma representação comercial em Jerusalém. O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina afirmou neste domingo (31/03) que adotou a medida "a fim de tomar as decisões apropriadas para enfrentar tal situação", que condenou "nos termos mais fortes".
O ministério considerou a decisão uma "flagrante violação da legitimidade internacional e suas resoluções; uma agressão direta ao nosso povo e a seus direitos e uma resposta afirmativa para a pressão israelense-americana que visa reforçar a ocupação e a construção de assentamentos na área ocupada em Jerusalém".
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Após a reação de descontentamento dos palestinos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que "é direito deles reclamar". "A gente não quer ofender ninguém. Agora, queremos que respeitem a nossa autonomia", disse ele em Israel nesta segunda-feira.
A abertura da representação brasileira em Jerusalém surgiu como uma solução para a controvérsia gerada por Bolsonaro, que durante a campanha eleitoral prometeu transferir a embaixada brasileira para a cidade disputada por palestinos e israelenses como sua legítima capital.
A atitude, que seguia medida semelhante adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou atritos diplomáticos com os países árabes. Após resistência do setor militar do governo e de ruralistas, que temiam dificuldades nas relações comerciais e diplomáticas com esses países, o governo acabou revendo sua posição.
Em meio ao impasse em Brasília, o governo israelense acenou que aceitaria que o Brasil cancelasse os planos de transferir sua embaixada e que se contentaria com a abertura de uma representação comercial.
Com a abertura do escritório, o Brasil segue o exemplo recente da Hungria, que há pouco mais de dez dias inaugurou uma representação comercial em Jerusalém. Apenas dois países mantêm embaixadas em Jerusalém: Estados Unidos e Guatemala.
Bolsonaro, no entanto, negou nesta segunda que sua intenção de mudar a embaixada tenha sido totalmente descartada. "Tenho compromisso, mas meu mandato vai até 2022. Tem que fazer as coisas devagar, com calma, sem problemas", disse ele.
Nesta segunda-feira, o movimento radical palestino Hamas também condenou a decisão brasileira de abrir um escritório em Jerusalém, bem como a viagem de Bolsonaro a Israel.
Em nota, o grupo afirma que a visita viola leis internacionais e vai de encontro à postura histórica do Brasil de apoio à causa palestina. O Hamas pede ainda que a Liga Árabe faça pressão sobre o governo brasileiro para que o país reverta suas políticas para a região.
Segundo o jornal Jerusalem Post, a Autoridade Palestina abriu consulta junto aos países árabes para determinar uma posição árabe unificada em relação à decisão brasileira.
Embaixadores de países árabes no Brasil já teriam feito um pedido formal de reunião com Bolsonaro e o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assim que eles voltarem de Israel.
A visita de Bolsonaro também ocorre num momento difícil para o premiê israelense, Benjamin Netanyahu. Em poucos dias, o país vai passar por eleições legislativas. Netanyahu vem fazendo esforços para se projetar para os eleitores como uma liderança mundial, o que faz com que parte da imprensa israelense encare a visita de Bolsonaro como um ato de campanha.
No início da semana, o premiê fez uma visita relâmpago aos EUA e foi recebido pelo presidente Donald Trump. Os encontros têm sido usados por Netanyahu para apresentar uma agenda positiva enquanto cresce a expectativa de que ele seja alvo de uma denúncia criminal por suspeita de corrupção.
Nos próximos dias da visita, Bolsonaro terá reuniões com empresários, representantes políticos e membros da comunidade brasileira em Israel. Ele já visitou alguns dos lugares santos de Jerusalém, como o Santo Sepulcro, o templo mais sagrado do cristianismo, e o Muro das Lamentações, local de culto mais sagrado para os judeus.
Estes dois últimos locais ficam na parte ocupada de Jerusalém, o que gerou protestos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Netanyahu acompanhou Bolsonaro na visita ao muro, algo que raramente ocorre durante viagens de líderes estrangeiros, que preferem evitar a companhia de membros do governo israelense numa área tão sensível para evitar problemas diplomáticos com países árabes.
RC/ots
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