Papa alemão visita ex-campo de concentração de Auschwitz
28 de maio de 2006O papa Bento 16 encerrou neste domingo (28/05) sua viagem de quatro dias à Polônia com uma visita ao ex-campo de concentração de Auschwitz, onde os nazistas exterminaram mais de um milhão de pessoas, sobretudo judeus, durante a Segunda Guerra Mundial.
Trajando roupa branca e acompanhado por um grupo de cardeais e bispos, o papa cruzou a pé, ao toque de sinos, o portão do campo principal (sobre o qual há o letreiro cínico "Trabalho Liberta"), e seguiu até o paredão de fuzilamentos. No chamado "muro da morte", ele rezou em silêncio e acendeu uma vela com insígnias papais.
A seguir, encontrou-se com 32 sobreviventes do campo de concentração, alguns deles com uniformes de prisioneiros. O papa os cumprimentou um a um, trocou algumas palavras com eles e beijou o polonês Henryk Mandelbaum, de 84 anos. Da primavera de 1944 a janeiro de 1945, ele foi o prisioneiro de número 161.970, destacado para trabalhar num comando especial responsável pela queima de cadáveres.
"Silêncio que é um grito"
Bento 16 ainda visitou a cela em que morreu o frei Maximiliano Kolbe (1894-1941), onde fez uma oração pelos mortos. O frei polonês ofereceu-se para ser executado no lugar de outro prisioneiro. Em 1982, foi canonizado por pelo papa Paulo VI.
Por último, o papa seguiu de carro para uma cerimônia em memória dos mortos em Auschwitz-Birkenau, onde funcionavam as câmaras de gás. Após uma breve oração em alemão, ele falou em italiano sobre as atrocidades cometidas no local:
"Falar neste lugar do terror, do acúmulo de crimes contra Deus e o ser humano, é quase impossível. É especialmente difícil e afligidor para um cristão, um papa, que vem da Alemanha. Neste local, falham as palavras, só pode haver um silêncio comovente – silêncio, que é um grito interior a Deus: Por que silenciaste?", disse o papa.
Maior crime contra a humanidade
Auschwitz é considerada a maior máquina de extermínio da História. Não muito distante de Cracóvia, o campo de concentração foi libertado em 27 de janeiro de 1945 por tropas russas. Calcula-se que em suas câmaras de gás foram mortos de 1940 a 1945 entre 1,1 milhão e 1,5 milhão de pessoas, a maioria judeus. Muitos historiadores consideram o Holocausto o maior crime cometido até hoje contra a humanidade.
Observadores disseram que a visita a Auschwitz foi o momento mais difícil e mais simbólico da viagem de Bento 16 à Polônia, devido à sua origem alemã e pelo fato de que, durante a sua adolescência, foi obrigado a se alistar nas Juventudes Hitlerianas.
O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro Vals, disse antes da chegada do papa, que Bento 16 ía para Auschwitz "como filho do povo alemão", assim como, em 1979, João Paulo 2º o fez "como filho do povo polonês".
Missa para um milhão
No último dos quatro dias de sua viagem ao país de seu antecessor (João Paulo 2º), Bento 16 ainda celebrou uma missa no centro de Cracóvia, que foi acompanhada por cerca de milhão de fiéis.
Embora a Igreja Católica ainda tenha bastante peso na vida pública polonesa, o papa evitou na homilia referências a questões políticas atuais ou passadas do país. Bento 16 pediu aos poloneses (90% são católicos) que defendam o cristianismo na Europa e no mundo.
No sábado à noite, depois de visitar Wadowice (cidade natal de João Paulo 2º), o papa falou a cerca de 600 mil jovens reunidos no campo de Blonia, em Cracóvia. "Uma fé forte precisa resistir a provas e crescer sempre", disse, sublinhando o caráter religioso da viagem.