Conservador e reacionário
18 de abril de 2010Para o teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos teóricos da Teologia da Libertação, os cinco anos de pontificado de Bento 16, completados nesta segunda-feira (19/04) "são caracterizadas por conflitos: com os muçulmanos, os judeus, as Igrejas não católicas, as Igrejas às quais negou o status de Igrejas, a Igreja Anglicana, os seguidores de Lefebvre, mulheres, homossexuais. Ele cometeu diversos erros em seu papado. Conforme o Evangelho, sua tarefa é fortalecer a fé, e isso ele não está conseguindo".
Questionado sobre o que admira em Bento 16, Boff, respondeu: "Quase nada. Talvez a obstinação com que se dedica ao seu projeto da Restauração, em que considera o primeiro Concílio Vaticano mais importante do que o segundo. Isto é, ele coloca o Papa como figura central, e não a comunidade cristã. Ele tem muito medo. Deveria acreditar mais no espírito do que em tradições e doutrinas".
Boff, de 71 anos, que renunciou ao sacerdócio em 1992, após ser suspenso várias vezes pelo Vaticano por suas críticas à Igreja, diz que Bento 16 "nunca entendeu a Teologia da Libertação, e muitas conferências de bispos foram severamente controladas por ele".
"Falta-lhe quase tudo"
Em sua entrevista publicada no Süddeutsche Zeitung neste final de semana, Boff disse que tentou convencer sem êxito o ex-prefeito da Congregação da Doutrina da Fé sobre a necessidade de a Igreja ocupar-se com os desamparados. "Mas foi tudo em vão. Nada mudou, ou até piorou", sentenciou. Para o teólogo brasileiro, Ratzinger é refém de uma visão conservadora e reacionária do cristianismo, o que o impediria de efetuar reformas fundamentais.
"Ele não consegue deixar o papel de maestro e se sentir pastor. Falta-lhe quase tudo, e especialmente carisma". "A Teologia da Libertação tornou-se uma obsessão para este papa. No final de março, diante de bispos do sul do Brasil, ele voltou a criticar a Teologia da Libertação marxista. Mas esta teologia existe apenas em sua cabeça e não na realidade. [...] Desde a queda do Muro de Berlim ninguém mais fala em marxismo na Teologia da Libertação."
"Pedofilia é crime a ser levado a tribunal"
Boff também criticou a forma como a Igreja trata os casos de abuso sexual registrados em vários países. Segundo suas palavras, a hierarquia católica tentou esconder o acontecido para não perder credibilidade.
"Esta posição é falsa e farisaica. A pedofilia é um crime que deve ser levado a tribunal." Na opinião de Boff, o Vaticano tenta separar o tema da pedofilia do celibato. "O celibato fica fora de discussão porque ele revela muito sobre a estrutura da Igreja. Ela é uma comunidade religiosa, autoritária, centralizada e monossexual, porque só pode ser servida por homens celibatários."
Questionado sobre o que diria a Bento 16 por ocasião dos cinco anos de papado, Boff respondeu que diria: "Sua Santidade, o senhor é um homem velho, cansado e bastante doente. O senhor serviu à Igreja com as melhores intenções, apesar das contradições que provocou. Chegou a hora de se preparar para o grande encontro com Deus. Retire-se para um mosteiro, cante o canto gregoriano, de que tanto gosta, celebre sua missa em latim e continue rezando pela Terra ameaçada pelo aquecimento global, pela humanidade que talvez seja extinta, e acima de tudo pelos que sofrem e pelas crianças, que se tornaram vítimas da pedofilia na Igreja e na sociedade".
Joseph Ratzinger foi eleito papa a 19 de abril de 2005 no primeiro conclave do século 21, o mais numeroso da história (115 cardeais da Igreja Católica) e um dos mais breves (26 horas). Mão direita de João Paulo 2º, o oitavo papa alemão e sétimo chefe de Estado do Vaticano escolheu para seu pontificado o nome Bento 16.
Em cinco anos, publicou três encíclicas e efetuou 14 viagens fora da Itália. Bento 16 começou 2010, o seu quinto ano de pontificado, afetado pelos escândalos de pedofilia dentro da Igreja Católica.
O cardeal Joseph Ratzinger, nasceu em Marktl (Baviera), na diocese de Passau, em 16 de abril de 1927. Recebeu a ordenação sacerdotal em 29 de junho de 1951, a episcopal em 1977 e, no mesmo ano, foi nomeado cardeal no consistório convocado por Paulo 6º.
RW/lusa/dpa
Revisão: Augusto Valente