Lucas Papademos
10 de novembro de 2011Lucas Papademos, designado para a chefia do governo de transição em Atenas, pode vir a ser o homem certo para atenuar a crise na Grécia. O ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), de 64 anos, não tem nenhuma ilusão quanto à tarefa hercúlea que tem pela frente. "A Grécia está numa encruzilhada", disse Papademos pouco depois de sua nomeação, nesta quinta-feira (10/11) em Atenas.
Na pior crise por que passa a Grécia desde que entrou na zona do euro, justamente aquele considerado o arquiteto da admissão da Grécia na união monetária europeia assume agora a chefia do governo grego.
Papademos nunca exerceu algum cargo político. Durante muitos anos, ele chefiou o Banco Central da Grécia e representou o país como vice-presidente do BCE por oito anos, até 2010, quando se tornou conselheiro do demissionário primeiro-ministro George Papandreou.
Sereno e tecnocrata
Como economista, Papademos goza de reconhecimento internacional. Para muitos analistas, ele era considerado a força motriz por trás da política do Banco Central Europeu. Muitos veem no estilo sereno e "tecnocrata" de Papademos um bom pré-requisito para acabar com a disputa de meses entre os partidos em Atenas e para conduzir a Grécia até as eleições antecipadas.
Dele, os gregos esperam principalmente uma coisa: que ele ajude a economia grega a reconquistar a confiança da Europa e que assegure a permanência do país na zona do euro. Para Constantinos Michalos, presidente da Câmara de Comércio de Atenas, não existe pessoa mais apropriada para essa difícil tarefa.
"Papademos é um tecnocrata que conhece muito bem o setor financeiro não somente na Grécia, mas também em outros países da Europa", disse Michalos.
Esperança ateniense
Nascido em Atenas, ele estudou física e economia, doutorando-se nos Estados Unidos, onde ensinou na Universidade de Harvard. Em meados dos anos 1980, ele retornou à Grécia, fazendo carreira no Banco Central do país e assumindo a presidência do banco em 1994. Juntamente com o governo socialista, ele preparou a admissão da Grécia na união monetária europeia em 2001.
Papademos é considerado um europeu convicto. Enquanto presidente do Banco Central da Grécia, ele contribuiu consideravelmente para que os gregos dessem adeus à dracma e fossem admitidos na zona do euro.
Por tal, ele granjeou grande respeito em seu país. Posteriormente, veio a público que a Grécia, durante anos, enviou números falsos sobre seu desenvolvimento econômico a Bruxelas.
Em 2002, Papademos assumiu a vice-presidência do BCE em Frankfurt. Sua experiência como representante de um país pobre da zona do euro deveria ajudar os novos países da Europa Oriental admitidos na UE a se prepararem para a introdução da nova moeda.
Tarefa difícil
Após oito anos, Papademos deixou a vice-presidência do BCE em 2010. Há alguns meses, o demissionário Papandreou o convidou para ser seu ministro das Finanças. Após Papademos ter recusado o convite, em junho último, o cargo foi assumido por Evangelos Venizelos.
A pergunta agora é se Papademos conseguirá quebrar a espiral de austeridade econômica forçada e recessão. Apesar de ele ter se mostrado algumas vezes flexível e ter dado a entender que não seria, necessariamente, contra o crescimento através da demanda interna, ou seja, salários mais altos, ele terá primeiro de convencer os gregos a aceitar as duras medidas de economia.
Isso não será tarefa fácil, avalia Angelos Stangos, analista do jornal ateniense Kathimerini. Segundo Stangos, a principal vantagem do novo chefe de governo grego é falar a mesma língua dos parceiros europeus da Grécia. Por outro lado, os partidos gregos foram praticamente obrigados a aceitar seu nome, diz o analista. "Esse foi o motivo da longa demora e da luta de poder antes de sua nomeação".
Autores: Iannis Papadimitriou / Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer