"Para a maioria dos vírus, não existe terapia"
18 de fevereiro de 2016No Rio de Janeiro, pela primeira vez desde o surto de zika, foi confirmada a morte de um feto no útero materno vítima da infecção. A correlação entre o vírus e a microcefalia fica cada vez mais clara. A presença do agente patogênico foi constatada em muitos recém-nascidos portadores de malformação cerebral.
Em entrevista à DW, o diretor do Instituto de Virologia da Universidade de Colônia, Herbert Pfister, explica que, para a maior parte dos vírus, não existe terapia e o mais importante é evitar tais infecções.
DW: O zika realmente leva à microcefalia, ou seja, à malformação do cérebro?
Herbert Pfister:Temos este desenvolvimento paralelo – um surto de infecções pelo zika e um acúmulo de casos de microcefalia. Tais desenvolvimentos paralelos são sinais de alerta claros. Agora o vírus foi encontrado no cérebro – este é outro componente e também um pré-requisito para que o zika desempenhe um papel na ocorrência de microcefalia. Ainda falta uma confirmação.
Como um vírus consegue entrar no cérebro?
Existe um grande número de vírus que podem entrar no cérebro, causando danos graves. Eles vêm através do sangue ou dos nervos. Por exemplo, o vírus do herpes labial ou o vírus da raiva, que são transmitidos principalmente por carrapatos e mosquitos, chegam ao cérebro através do sangue. Na maioria dos casos, no entanto, o agente patogênico permanece estacionado na parte frontal do cérebro. Todos nós somos infectados com muito mais frequência do que realmente alguma coisa aconteça.
Como o cérebro se protege desses invasores?
O cérebro é uma espécie de área de alta segurança do corpo. Existe ali a barreira hematoencefálica, ou barreira sangue-cérebro, que regula a passagem do sangue para o interior do cérebro. Com a ajuda de células que se movimentam independentemente, um vírus pode atravessar essas barreiras.
Onde os vírus se instalam no cérebro?
Quando o vírus consegue entrar realmente no cérebro, se fala de uma encefalite ou de uma inflamação no cérebro. Ou se as membranas cerebrais se inflamam – trata-se então de uma meningite.
No caso de uma inflamação da medula espinhal, falamos de uma mielite, como no caso da paralisia infantil. Tudo que passa pelo sistema nervoso pode ser muito perigoso. As membranas são as mais inofensivas – aí o paciente tem boas chances.
Há várias formas de encefalite. Se não tratada, uma inflamação do cérebro pelo vírus do herpes oral é fatal em 70% dos casos. Quem sobrevive, permanece com graves danos. A mielite – como na poliomielite – pode levar à paralisia e se também os músculos respiratórios forem afetados, isso significa a morte.
Agora sabemos que o vírus zika no útero pode ser transmitido para o feto. Existem exemplos semelhantes de tais transmissões?
Um exemplo já bastante conhecido é a rubéola. Quando ainda não havia vacinação, uma infecção de rubéola nos primeiros estágios da gravidez significava um imenso risco de malformação nos olhos, no aparelho auditivo e também no cérebro.
Numa primeira infecção durante a gravidez, o citomegalovirus – um vírus do herpes –pode chegar ao feto e causar graves malformações – até no cérebro.
Esses são os dois exemplos conhecidos de uma infecção no útero e agora vem também, provavelmente, o caso do vírus zika.
Os conhecimentos que se adquiriram dessas doenças podem ser aplicados para o vírus zika?
Para a maioria dos vírus, não existe terapia – tal como a penicilina contra as bactérias. Não existe tratamento para muitos vírus que levam a encefalites. Assim não há muito a se aprender disso. O mais importante é evitar tais infecções.