Para agentes, Amri era "ameaça improvável" de ataque
29 de dezembro de 2016Os serviços de informação alemães consideravam improvável que o tunisiano Anis Amri fosse cometer um atentado terrorista, apesar de ele ser um islamista conhecido que havia se oferecido para realizar um ataque suicida, segundo reportagem publicada nesta quinta-feira (29/12).
As autoridades também sabiam que Amri, suspeito de executar o atentado de Berlim, tinham fortes ligações com a cena radical islâmica alemã e que havia procurado instruções na internet para construir artefatos explosivos, de acordo com o jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
Segundo o periódico, os registros sobre o tunisiano mantidos pelos serviços de informação alemães incluem informações sobre as oito identidades usadas por Amri e foram atualizados pela última vez em 14 de dezembro – apenas cinco dias antes do ataque com um caminhão contra um mercado de Natal em Berlim.
Os dados incluem informações de que o tunisiano mantinha contato com membros do "Estado Islâmico" desde o início de fevereiro e teria se oferecido para realizar um atentado suicida através de mensagens codificadas.
Segundo o jornal, Amri teria sido citado pelo menos sete vezes entre fevereiro e novembro deste ano em reuniões do Centro Comum de Defesa contra o Terrorismo (GTAZ), nas quais em pelo menos duas ocasiões foi debatido se ele teria planos concretos para um atentado na Alemanha. Em ambas as vezes, a hipótese foi considerada improvável.
Além disso, Amri teria dito diversas vezes em 2015 a um informante da polícia do estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália que pretendia executar um atentado. A polícia de Düsseldorf o considerava um salafista e um fundamentalista radical, enquanto a polícia de Dortmund sabia que ele era simpatizante do grupo jihadista "Estado Islâmico".
Escola muçulmana
Os serviços antiterrorismo alemães tinham conhecimento de que Amri visitava regularmente uma escola religiosa muçulmana em Dortmund, tida como um local de recrutamento de jihadistas e dirigida por um notório radical conhecido como Boban S.. Amri também mantinha contato com outro apoiador do "Estado Islâmico", Hasan C, de Duisburg. Boban S. e Hasan C. são figuras centrais na rede do clérigo Abu Walaae foram detidos junto com este em novembro passado.
Mesmo com todas essas informações, Amri era classificado com a nota "cinco" numa escala de oito pontos de avaliação do perigo potencial de um indivíduo, em que "um" é a ameaça máxima. Isso significa que os especialistas em contraterrorismo consideravam um ataque possível, mas improvável.
Pouco depois do ataque ao mercado de Natal, as autoridades admitiram que os serviços de contraterrorismo estavam monitorando Amri, por suspeitas de que ele poderia estar planejando um ataque. Mas a vigilância, que durou seis meses, foi suspensa em setembro passado.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, ordenou uma revisão abrangente do aparelho de segurança após o ataque, para que quaisquer reformas necessárias possam ser acertadas e implementadas rapidamente.
Selfie no caminhão
Procuradores da cidade de Duisburg informaram nesta quinta-feira que Amri era investigado desde abril por fraude, por causa da suspeita de que ele usava diferentes identidades. O caso, entretanto, foi arquivado porque as autoridades não conheciam o endereço do jovem. O tunisiano pediu ajuda social em duas cidades alemãs em novembro de 2015, usando duas identidades.
Diversas mídias divulgaram informações de que o suposto autor do ataque de Berlim havia saído da Alemanha via Holanda e França, até chegar à Itália, país em que foi morto a tiros pela polícia.
A televisão pública alemã informou nesta quarta-feira que Amri teria feito um selfie da cabine do caminhão pouco antes do atentado e enviado a foto para um amigo. "Meu irmão, está tudo bem, como Deus quiser. Agora estou no veículo. Reze por mim, irmão, reze por mim", escreveu.
MD/ap/dpa/afp