Religião tem papel secundário para imigrantes
25 de agosto de 2013Juan Diaz conta que se mudou para Berlim por causa do amor. Ele diz ter se apaixonado também de imediato pela cidade, na qual vivem pessoas de várias nacionalidades. Juan Diaz é norte-americano, filho de cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro para Miami. "Uma identidade complexa", resume ele, que há sete anos possui também a nacionalidade alemã.
"Pedi o passaporte porque queria ter o direito de participar. Queria poder decidir também quem vai se tornar chanceler federal e quem vai ocupar cadeiras no Parlamento", completa.
Segundo um levantamento de 2011 do Departamento Federal de Estatísticas, vivem na Alemanha quase 16 milhões de pessoas como Diaz, ou seja, com histórico de migração – que migraram elas próprias para o país ou são filhas ou netas de migrantes.
Boa parte delas é jovem demais para votar ou não tem a cidadania alemã. E só quem tem um passaporte alemão pode participar das eleições no país. A única exceção são os cidadãos de países da União Europeia (UE), que podem votar nas eleições municipais ou europeias, mas não nas parlamentares.
Segundo dados do Departamento Federal de Estatísticas, um terço das pessoas que têm histórico de migração na Alemanha poderá participar das eleições parlamentares em setembro próximo. E a tendência é crescente: em 2011, mais de 100 mil pessoas pediram a cidadania alemã.
Preferência política associada a país de origem
Mas nem todas essas pessoas irão às urnas: uma pesquisa do Departamento Federal de Migração e Refugiados, realizada em 2012, aponta que pessoas com raízes estrangeiras não têm o hábito regular de votar: mesmo assim, 72,3% delas dizem ter votado nas eleições de 2009. Entre a população em geral, esse percentual é de 81,5%.
Para o americano de origem cubana Juan Diaz, não votar é algo absolutamente impensável: "Sempre acho fantástico quando recebo o comunicado sobre as eleições na minha caixa de correio", diz ele, para quem o direito de votar é um direito fundamental valioso, do qual não se quer abdicar. Como mediador de conflitos, ele costuma viajar muito e está com frequência na região dos Bálcãs.
Quando isso acontece, diz ele, a opção é o voto por carta e com antecedência. E quem, como Diaz, vai às urnas, vota sobretudo nos dois maiores partidos: SPD e CDU. Pelo menos as pesquisas eleitorais dizem que os imigrantes preferem, em sua maioria, um dos dois grandes partidos, como aponta Ingrid Tucci, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica.
A cientista social analisou a lealdade das pessoas com histórico de migração aos partidos políticos. Segundo suas pesquisas, as pessoas que chegaram à Alemanha entre os anos 1950 e 1960, como trabalhadores convidados vindos do sul da Europa, da ex-Iugoslávia e da Turquia, tendem a votar no Partido Social Democrata (SPD).
Segundo Tucci, essas pessoas vêm do "meio operário tradicional". Já os estrangeiros de origem alemã do Leste Europeu, que migraram da União Soviética para a Alemanha depois do fim da Guerra Fria, tendem mais a votar nas conservadoras CDU/CSU.
A importância da história de migração
Tucci acredita que essa lealdade aos partidos esteja intimamente ligada à experiência de migração das pessoas. Ou seja, a CDU, por exemplo, se empenhou em prol dos estrangeiros de origem alemã, possibilitando a migração para a Alemanha e disponibilizando medidas de integração.
Alguns políticos democrata-cristãos, segundo ela, ainda costumam mencionar os trabalhadores convidados com uma postura de desprezo. A religião, por outro lado, explica Tucci, desempenha um papel secundário: suas pesquisas mostraram que a religião, o grau de escolaridade e a situação profissional exercem "mínima influência" sobre a preferência partidária.
Tucci supõe que haja uma ligação direta entre o comportamento nas urnas e a experiência de migração – algo que, segundo ela, ainda precisa ser melhor pesquisado. Pois a preferência clara pela CDU e pelo SPD não se perpetua nas gerações seguintes: segundo os dados de 2011, 18% da segunda geração, ou seja, dos filhos de migrantes, votam nos Verdes. E apenas 40% na CDU ou no SPD. Sendo assim, as pessoas com histórico migratório pouco ou nada se diferem, neste sentido, da maioria da população, explica Tucci.
Diaz não conta em quem vai votar nas próximas eleições. No passado, ele chegou a trabalhar para políticos da CDU, tendo também participado de várias sessões dos Verdes e visitado rodadas de discussão política de todos os partidos em Berlim. Antigamente, diz ele, os alemães teriam dito a ele: "Você é estrangeiro. Você não tem direito de dizer qualquer coisa". Observações que o deixavam irado. Agora, conclui o cubano-americano, ele dispõe oficialmente do direito de voto.