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Parada Gay como modelo político tem salvação?

Carlos Albuquerque14 de julho de 2006

No dia do seu orgulho, por que gays e lésbicas vão às ruas? A Parada Gay ainda é um fórum político? Um filme e uma pesquisa tentam responder a essas perguntas.

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'Gays também são europeus', protesto em frente à embaixada polonesa em Berlim, em 2004Foto: dpa

Após o final da Copa 2006, tem início a temporada de celebrações do orgulho gay na Alemanha. Nesta sexta-feira (14/07), é a vez de Colônia iniciar as comemorações de seu Christopher Street Day (CSD).

Segundo o Queer, o jornal de distribuição gratuita para gays e lésbicas mais importante da Alemanha, trata-se da maior e mais glamourosa Parada Gay da Europa. A cidade espera, neste final de semana, cerca um milhão de espectadores para o seu CSD de 2006.

Neste ano, entretanto, observa o Queer, não existem somente razões para comemorar. As provocantes declarações do Vaticano, a política homofóbica do governo polonês e as agressões sofridas pelos homossexuais nas passeatas russas trazem de novo a política ao palco da festa gay.

Numa época em que o hedonismo tomou conta das manifestações gays, o jornal pergunta: o CSD é a plataforma certa para temas políticos? Em países como a Alemanha ou a França, cujos prefeitos de suas capitais são abertamente gays e onde os direitos homossexuais estão cada vez mais próximos de atingirem sua completude legal, existem ainda interesses de gays e lésbicas pelos quais estes devam protestar?

Flag Day in Mexico - Grossbild
Neste ano, não há somente razões para comemorar, afirma o 'Queer'Foto: AP

Parada Gay ainda é fórum político?

Procurando respostas a essas perguntas, o portal de internet do jornal Queer encomendou uma pesquisa de opinião ao instituto sozioland, uma importante plataforma independente de informações sobre temas sociais, culturais e políticos na Alemanha, afirma o Queer.

Qual a sua motivação de ir ao CSD? Qual o seu interesse nas questões homossexuais pelo mundo? Como você vê a política de gerenciamento (Diversity Management) de algumas firmas que valorizam que seus funcionários e clientes reconheçam a sua identidade sexual? Existem ainda temas gays pelos quais vale a pena se engajar? Entre outras, estas foram as informações que o sozioland procurou saber dos leitores do Queer.

Volker Beck bei Demonstration in Moskau angegriffen
Volker Beck, deputado verde alemão, foi agredido por supostos neonazistas em Moscou durante manifestação gay, em maio últimoFoto: AP

Cerca de 45% dos entrevistados afirmam seu desejo de ir ao CSD por razões políticas, 40% se interessam por questões como o apedrejamento de gays no Irã, 50% acham positiva a política de Diversity Management de algumas firmas e 45% afirmam que há ainda muitos temas gays pelos quais se pode lutar.

Pelas respostas, se poderia até verificar um engajamento político gay, não fosse a última pergunta do sozioland: Qual o sua orientação sexual? 63% dos entrevistados se declararam heterossexuais e somente 24% responderam ser homossexuais.

Que surpresas trazem o fim do arco-íris?

A questão do engajamento político gay também motivou os cineastas berlinenses Jochen Hick e Christian Jentzsch a filmarem Am Ende des Regenbogens (No Final do Arco-íris, Alemanha, 2005). O filme foi encomendado pelas emissoras de televisão Arte/ZDF e executado por uma produtora com sede em Hamburgo que atende pelo saudoso nome de Galeria Alaska, célebre passagem que concentrava os bares e as boates gays de Copacabana até a década de 90.

No documentário, os amigos Christian e Marcel – aborrecidos com as eternas baladas e a busca de sexo pela internet – se deparam inesperadamente com a homepage de organizações ativistas gays. Inicia-se aí uma viagem pelos diferentes problemas políticos e humanísticos de gays e lésbicas na Europa de hoje.

Rainbow's end Am Ende des Regenbogens Filmplakat von Filmmachern Jochen Hick und Christian Jentzsch (Deutschland, 2005).
Cartaz do filme 'No final do Arco-Íris'

Vários personagens fazem parte desta viagem. Um inglês que tenta inutilmente impedir a deportação de seu amigo de Belarus, perseguido por ser homossexual em seu país de origem e que havia pedido asilo no Reino Unido. Ativistas gays que protestam em Genebra pela inclusão da proteção dos direitos homossexuais na Carta das Nações Unidas: a primeira tentativa de inclusão dos direitos gays na Carta da ONU, iniciada pelo Brasil em 2004, afirma o filme, foi rejeitada.

O filme mostra ainda o aumento das agressões aos gays de Amsterdã após a morte do cineasta Theo van Gogh por um fundamentalista islâmico em 2004, a repressão às passeatas gays na Polônia e a perseguição homossexual no mundo muçulmano.

Através de casos reais, Hick e Jentzsch mostram em seu filme como a globalização e a expansão européia tornam cada vez mais claro que lutar pelos direitos homossexuais ainda é um projeto com futuro, basta um pouco de curiosidade pelo que está acontecendo além de sua porta. E mostram também que o engajamento gay pode se tornar muito fashion, em tempos de banalização de penteados, piercings e tatuagens.