Entusiasmo e cautela
25 de agosto de 2008O presidente da Confederação das Indústrias Alemãs (BDI), Jürgen Thumann, não esconde o entusiasmo: "Os investimentos de empresas alemãs no Brasil estão em nível recorde." "O Brasil vai investir cerca de 200 bilhões de euros em infra-estrutura até 2010." "O Brasil é o principal parceiro da Alemanha na América Latina."
As frases de Thumann deram o tom das discussões do segundo dia do Encontro Econômico Brasil-Alemanha nesta segunda-feira (25/08), em Colônia, onde um amplo leque de boas oportunidades de investimento no Brasil foi apresentado por representantes tanto da Alemanha quanto do Brasil.
Parceria fundamental
"O Brasil será uma das cinco maiores potências econômicas do mundo", disse Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base. "O que estamos discutindo é quando isso vai acontecer. Podemos ser mais rápidos ou lentos em galgar essa posição. A velocidade depende tanto de questões internas quanto de parcerias estratégicas com outros países, e a Alemanha é um dos parceiros fundamentais."
A discussão não abrangeu apenas as boas oportunidades de investimento no Brasil, como também obstáculos que devem ser superados para que os investimentos aumentem. Godoy falou, por exemplo, da necessidade de se modernizar instituições brasileiras e repensar o modelo de gestão dos recursos públicos no país.
Thumann falou da vontade de empresas alemãs investirem nos preparativos brasileiros para a Copa de 2014, mas lembrou: "Neste caso falamos de parcerias público-privadas, e para uma empresa alemã nem sempre é fácil firmar uma PPP com o Brasil." Alcântaro Corrêa, vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria do Brasil (CNI), citou a burocracia e entraves tributários como principais obstáculos.
Temor pela Copa 2014
O apelo das oportunidades que se apresentam, porém, falou mais alto. A Alemanha tem a experiência e a tecnologia para investir num dos setores em que o Brasil tem mais urgência: infra-estrutura. Não é de hoje que se fala na necessidade de se investir em portos, estradas, ferrovias e aeroportos no Brasil. Mas, neste 26º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, a discussão ganhou tom de urgência, com a entrada da Copa do Mundo de 2014 na discussão.
No painel que discutia os temas do lema do evento – "Mobilidade, segurança energética e proteção climática" –, Alcântaro Corrêa fez um apelo à aceleração dos preparativos para a Copa. "Não temos conhecimento nenhum nessa área e temo que não vamos conseguir deixar tudo pronto para que o evento seja um sucesso", disse ele, propondo que uma delegação alemã fosse para o Brasil transmitir seu know-how.
Além disso, os investimentos em infra-estrutura previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula abre grandes chances para empresas alemãs, segundo Thumann. "Há uma série de projetos interessantíssimos, com grande potencial para empresas alemãs investirem. Como por exemplo a linha de trem rápido que está sendo planejada para conectar Rio e São Paulo. Afinal, em trem a Alemanha tem experiência de sobra", ressaltou Thumann.
Como um namoro
Samuel Pinheiro Guimarães, vice-ministro das Relações Exteriores do Brasil, comparou o Brasil atual ao Brasil à época do Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek. "Hoje, PAC é como um novo Plano de Metas, voltado para a modernização e expansão da infra-estrutura brasileira – nas áreas energética, de transportes, de comunicações. Aguardamos uma participação significativa da Alemanha nesse processo."
Também promissoras, segundo Thumann, são as parcerias no setor de biocombustíveis – ou melhor, etanol. A desconfiança que se disseminou na Alemanha e na Europa – onde biocombustíveis não raro são associados ao desmatamento da Floresta Amazônica e ao aumento do preço de alimentos – está longe de ter atingido o setor industrial. "Brasil e Alemanha têm um futuro de parcerias muito promissor na área de biocombustíveis. Mas temos que fazer um trabalho de esclarecimento para mostrar às pessoas que a produção de etanol não tem nada a ver com a de alimentos."
Quanto a parcerias concretas geradas pelo evento, Alcântaro Corrêa, da CNI, diz que muitas deverão sair, mas é impossível dizer quando."Esses encontros são como um namoro. Primeiro os dois se conhecem, depois vem o noivado, depois o casamento. As relações vão sendo trabalhadas até que saia um acordo."
Ele, que também é presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina, disse o encontro de 2007 em Blumenau rendeu frutos de longo prazo. "Depois do evento, foi aberta uma filial da Câmara de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha em Blumenau para atender todo o estado de Santa Catarina", exemplifica. "Agora os empresários que têm ou que querem buscar parcerias com empresários alemães podem ir direto para lá".