Parlamento Europeu pede que Turquia reconheça genocídio
16 de abril de 2015O Parlamento Europeu pediu nesta quarta-feira (15/04) que as autoridades da Turquia reconheçam o genocídio de mais de 1,5 milhão de armênios durante o Império Otomano, há 100 anos. A moção foi aprovada pela maioria dos eurodeputados.
Embora a resolução repita a linguagem usada pelo Parlamento em 1987, há o risco de novas tensões com a Turquia. O país reconhece que muitos cristãos armênios foram mortos em confrontos com soldados otomanos a partir de 1915, quando a Armênia era parte do império, governado de Istambul.
O país, porém, nega que centenas de milhares de pessoas tenham sido assassinadas por razões étnicas, o que qualificaria um genocídio. O termo é usado por alguns países europeus e da América do Sul, mas evitado por EUA e outras nações para manter boas relações com a Turquia.
"Não podemos esquecer que pessoas foram assassinadas e que esses eventos são corretamente descritos como um genocídio", afirmou o eurodeputado alemão Elmar Brok, da União Democrata Cristã (CDU).
Por sua vez, a vice-presidente da Comissão Europeia, Kristalina Georgieva, disse que "não se pode negar a realidade histórica". Ela reconhece a divergência de pontos de vista entre a Armênia e Turquia, país candidato a ingressar na União Europeia.
No ano passado, quando era primeiro-ministro, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ofereceu condolências aos descendentes de armênios mortos durante a 1ª Guerra Mundial. A resolução aprovada nesta quarta-feira pelo Parlamento Europeu reconhece que as declarações de Erdogan foram um passo na direção certa, mas pediram ao governo da Turquia que vá adiante e reconheça o genocídio.
Turquia ignora votação do Parlamento
De forma antecipada, Erdogan disse que iria ignorar o resultado da votação. Em declaração à imprensa, o presidente turco afirmou que "seja qual for o resultado, ele entrará por um ouvido e sairá imediatamente pelo outro, porque a Turquia não cometeu nenhum pecado ou crime como esse".
O ministério do Exterior turco afirmou que os parlamentares europeus que apoiaram a moção estavam "tentando reescrever a História" e tinham se aliado "àqueles que não têm nada a ver com os valores europeus e se alimentam de ódio, da vingança e da cultura do conflito".
A moção aprovada pelo Parlamento Europeu inclui também uma emenda que louva o papa Francisco por seu discurso realizado no último domingo. O pontífice usou o termo genocídio para descrever o conflito durante uma missa realizada na Basílica de São Pedro, em Roma.
As palavras provocaram uma reação imediata da Turquia, que pediu explicações ao representante oficial do Vaticano em Ancara. Na missa, o papa afirmou que o massacre dos armênios foi "o primeiro genocídio do século 20".
No mesmo dia, o ministro do Exterior turco, Mevlut Cavusoglu, afirmou que o uso da palavra genocídio por Francisco para descrever a morte de armênios por forças otomanas é "infundado" e "longe da realidade histórica".
"Cargos religiosos não devem ser usados para incitar ressentimento e ódio com alegações infundadas", disse Cavusoglu numa mensagem no Twitter.
Tema controverso
O dia 24 de abril de 1915 marcou o início das perseguições à população armênia, que há séculos vivia sob domínio otomano. Centenas de milhares de armênios foram deportados, e a maioria de seus bens foi confiscada.
Os motivos e a dimensão do que aconteceu é tema altamente controverso e continua a abalar as relações entre a Turquia e a Armênia, uma ex-república soviética. Entre os países que reconhecem o ocorrido como genocídio estão Argentina, França e Rússia.
Enquanto as autoridades da Armênia e diversos historiadores contabilizam cerca de 1,5 milhão de mortos durante as perseguições e deportações, a Turquia fala em 500 mil armênios que teriam morrido de fome ou em combates durante a Primeira Guerra Mundial.
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