Partido no poder vence eleição no Japão após morte de Abe
10 de julho de 2022O Partido Liberal Democrático no Japão obteve uma vitória nas eleições legislativas realizadas no domingo (10/07) e assegurou mais da metade dos assentos na câmara alta do Parlamento.
A legenda garantiu 63 assentos dos 125 em disputa no pleito, e a coalizão que governa o país, que conta também com o partido Komeito, terá agora 76 assentos na câmara alta do Parlamento.
A votação ocorreu com o país ainda em choque pelo assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe durante um evento de campanha na cidade de Nara, no oeste do Japão, na sexta-feira.
"É significativo que tenhamos conseguido realizar esta eleição, em um momento em que a violência estava abalando os fundamentos do pleito", disse o primeiro-ministro Fumio Kishida, um discípulo de Abe.
Já era esperado que o Partido Liberal Democrático recebesse uma onda de apoio após o assassinato de Abe.
"Acabamos de perder o sr. Abe. Gostaria que o Partido Liberal Democrático ganhasse muitos votos para que eles possam governar o país de maneira estável", disse o aposentado Sakae Fujishiro, 67 anos, à agência de notícias Reuters ao votar no partido governista em Tóquio.
Na semana passada, pesquisas de opinião indicavam que o Partido Liberal Democrático ganharia menos da metade dos assentos em disputa. Mas os levantamentos mais recentes indicaram que a votação no domingo solidificaria o poder de Kishida, colocando-o em uma melhor posição para "três anos dourados" nos quais ele não enfrentará novas eleições.
Mesmo assim, o primeiro-ministro conservador ainda precisará enfrentar um aumento dos preços da energia e dos alimentos. Face à invasão da Ucrânia pela Rússia e as pretensões de poder da China, seu partido também defende um aumento acentuado nos gastos militares.
Susposto ódio a grupo religioso
Tetsuya Yamagami, de 41 anos, o homem suspeito de matar Abe num ataque a tiros durante um comício eleitoral apenas dois dias antes da eleição, disse à polícia que tentou construir uma bomba.
Neste domingo, a polícia revistou a casa dele em Nara, confiscando armas semelhantes à encontrada no local do atentado. Ele disse após ser preso que agiu por ódio a um grupo religioso que apoiava Abe, segundo relatos.
A mídia local informou que a família de Yamagami sofreu problemas financeiros como resultado das doações de sua mãe ao grupo.
Ele teria visitado na quinta-feira a região de Okayama, no oeste do país, com a intenção de matar Abe em um outro evento, mas desistiu porque os participantes tinham que se registrar com seus nomes e endereços.
Segurança reforçada
A polícia japonesa aumentou drasticamente sua presença nos eventos eleitorais após o assassinato de Abe, em contraste com a prática anterior, quando os políticos costumavam manter um contato próximo com o eleitorado durante a campanha.
Durante os últimos eventos eleitorais do premiê japonês, Fumio Kishida, nas prefeituras de Yamanashi e Niigata, a polícia esteve bastante em evidência, e o público foi revistado com detectores de metal. "Nunca cederemos à violência. Que a democracia nos proteja", disse o premiê japonês.
Com poucos crimes violentos e leis severas de armamentos, a segurança em eventos de campanha japoneses costuma ser pouco restrita.
A segurança nos locais de votação neste domingo permaneceu normal.
A partir das 14h (hora local), a participação dos eleitores era de 18,79%, ligeiramente superior à última eleição para a câmara alta, há três anos.
Velório e funeral de Abe
O corpo de Abe chegou a Tóquio no sábado vindo de Nara, no oeste do país, onde ele foi morto a tiros um dia antes.
O assassinato abalou a nação e chocou a comunidade internacional, provocando uma onda de simpatia até mesmo de nações com as quais Abe tinha relações difíceis, como China e Coreia do Sul.
Abe fazia campanha para seu partido na região de Nara quando foi morto. A polícia local admitiu no sábado "problemas" com o esquema de segurança planejado para o ex-premiê e prometeu uma "investigação completa" sobre as possíveis falhas.
O escritório de Abe disse à agência de notícias AFP que um velório será realizado na noite de segunda-feira, com um funeral para familiares e amigos próximos apenas na terça-feira. A mídia local disse que ambos deveriam ser realizados no Templo Zojoji, em Tóquio.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que está na Ásia para reuniões, fará uma parada em Tóquio na segunda-feira para oferecer condolências pessoalmente, disse o Departamento de Estado americano.
md (DPA, AFP)