Interesses dos EUA
29 de janeiro de 2010A presença norte-americana no Haiti é parte da história do país caribenho: em 1804, o Haiti seguiu o exemplo dos Estados Unidos e tornou-se o segundo país no continente americano a conseguir independência do colonialismo europeu. Mas foram necessários 58 anos para que os Estados Unidos reconhecessem a independência do país caribenho.
Desde então, Washington procura sempre interferir e influenciar na história do Haiti. A atual presença de cerca de 10 mil soldados americanos envolvidos com ajuda humanitária no Haiti não causa estranheza.
A última incursão de fuzileiros navais americanos no país caribenho foi em 2004: na ocasião, houve pressão para que o presidente Jean-Bertrand Aristide deixasse o poder, devido à corrupção e abuso de poder da tropa de intervenção internacional. Dez anos antes, em setembro de 1994, soldados americanos chegaram a Porto Príncipe, depois que Washington, em apoio a Aristide, ajudou a expulsar a junta militar do poder.
Solidariedade e interesse
Naquela época, assim como no caso atual, os Estados Unidos reagiram rapidamente, movidos por uma mistura complexa de interesses próprios e motivação humanitária – numa relação ambígua que liga o país mais rico ao mais pobre do hemisfério ocidental.
Oliver Gliech, especialista em Haiti do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, atesta que as intenções dos Estados Unidos podem ser boas.
“A decisão do governo Obama também foi pensada com base no seu eleitorado. Não se pode esquecer que Bush falhou na ocasião da enchente catastrófica em Louisiana, em 2005. Muitas vítimas pertenciam à comunidade negra que, naturalmente, ajudou a eleger o atual governante dos EUA”, disse Gliech.
Histórico de invasões
Há também o temor de que o Haiti, se abandonado, possa se tornar um ponto de distribuição de drogas para os Estados Unidos, como o México. Além do mais, a esquerda gosta de insinuar que a potência norte-americana, tanto no passado como atualmente, tem intenções neocolonialistas – o que é plausível já que o país tem um histórico de invasões no continente latino-americano.
Mas vale lembrar que o Haiti não tem matéria-prima cobiçada a oferecer e, desde a Guerra Fria, os interesses estratégicos são raramente de vital importância.
Autor: Daniel Scheschkewitz (np)
Revisão: Carlos Albuquerque