Fundo Monetário Internacional
23 de outubro de 2010As relações de poder no Fundo Monetário Internacional (FMI) vão passar por uma reforma profunda. Economias emergentes em expansão, como o Brasil, a China e a Índia, vão obter maior influência dentro da instituição e nas gestões de crises mundiais. A China terá a terceira maior cota do FMI; em compensação, as nações industriais do Ocidente delegarão parte de seu poder.
Isso foi o que decidiram os ministros das Finanças e os presidentes de bancos centrais dos países do G20, neste sábado, na Coreia do Sul. "O acerto está fechado", confirmou o ministro alemão da Economia, Rainer Brüderle, após o encontro de dois dias na localidade de Gyeongju, acrescentando que as negociações não foram fáceis. Para Brüderle, o consenso sobre a reforma provou a capacidade de ação do G20 e deu um sinal importante aos mercados.
Com isso foi resolvido um dos pontos mais polêmicos da pauta da próxima cúpula do G20, a ser realizada na capital sul-coreana, Seul, dentro de três semanas. Formalmente, outros países ainda teriam que votar, mas como as nações do G20 detêm 80% dos votos dentro do FMI, a decisão deste fim de semana (23-24/10) pode ser vista como definitiva.
A reestruturação do direito de voto e da participação dos 187 países-membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) deverá dar conta do crescente peso de países emergentes em expansão, como Brasil, China, Índia e Rússia. Há pouco tempo, a China superou os Estados Unidos como segunda maior economia do mundo, após o Japão.
EUA queriam reduzir poder dos europeus
O encontro dos ministros das Finanças do G20, iniciado na última sexta-feira (22/10), contou com a participação do diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, e do presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick. A reforma do Fundo Monetário Internacional, cujo significado aumentou notavelmente com a crise financeira, deverá entrar em vigor em 2011.
Até então, havia uma discrepância de poder considerável entre os europeus, os EUA e os países emergentes. A reforma não apenas redistristribuiu as cotas do FMI entre os países, equilibrando-a com sua relevância econômica, mas também impôs novas regras de votação e cargos de liderança. Os Estados Unidos queriam limitar a infuência dos europeus dentro do conselho administrativo da organização, mas não conseguiram atingir completamente seu objetivo.
O G20 chegou ao consenso de que a diretoria-executiva do FMI manterá suas 24 cadeiras, rejeitando proposta de reduzi-la para um grêmio de 20 integrantes. No entanto, os europeus abrem mão de duas das nove cadeiras que mantinham até agora.
Cota dos mercados emergentes passa de 40%
A reforma prevê a duplicação das cotas do FMI, que determinam quanto um país paga de contribuição ao fundo e também quanto pode pegar emprestado. Atualmente, o total de cotas soma 340 bilhões de dólares. Se esse valor for duplicado, o FMI estaria em uma posição forte para impedir ou gerenciar possíveis crises nos próximos anos.
Quanto à redistribuição: um volume de 6,4% das cotas deverão passar sobretudo para as economias emergentes que vêm demonstrando grande dinamismo.
Há um ano, o G20 decidira transferir pelo menos 5% dos direitos de voto para países emergentes como o Brasil e a Índia, cuja importância dentro do FMI está aquém de sua força econômica.
Segundo a decisão deste sábado, a China vai superar países como a Alemanha, França e Reino Unido, com a elevação de sua atual cota de 3,65% para 6,19%. A Índia ficará 8º lugar, a Rússia em 9º e o Brasil em 10º, de acordo com o ministério russo das Finanças. O BRIC terá, portanto, uma participação conjunta de 14,18% no FMI.
Ao todo, os mercados emergentes deterão uma parcela de 42,29%, que poderá voltar a aumentar após uma abrangente revisão de critérios de distribuição planejada para janeiro de 2013.
EUA mantêm direito de veto
Os cinco membros mais fortes do FMI – EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido – mantêm suas cadeiras e o poder de indicar diretores-executivos. De acordo com o acerto deste sábado, a eleição para esses cargos deverá contar com a participação de todos os países-membros do fundo.
Washington, que detém 17,67% das cotas do FMI, mantém seu direito de veto a decisões importantes, que continuarão requerendo 85% dos votos para aprovação.
A Alemanha, como outros países até então altamente representados no FMI, abre mão de parte de suas cotas. A participação da Alemanha, país com a maior cota entre os europeus, cairá de 5,6% a 6,1%.
SL/dpa/rtdt
Revisão: Soraia Vilela