Inovar é preciso
12 de novembro de 2011Mais dinheiro para quem quer inovar. A nova política brasileira já é perceptível em alguns números: desde o começo do ano, o caixa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) destinado à inovação saltou de 2 bilhões de reais para 4,2 bilhões – com as menores taxas de financiamentos oferecidas pela instituição.
No entanto, a distribuição do recurso ainda segue uma tradição típica brasileira: as corporações são as que mais têm acesso aos financiamentos. "Faz parte do nosso histórico, as grandes empresas têm mais facilidade em acessar recursos do que as pequenas", conclui Carlos Alberto dos Santos, diretor do Sebrae, a agência de apoio às micro e pequenas empresas.
Mas são elas a maioria no país: 5,3 milhões empresas de pequeno porte atuam no Brasil, o que equivale a 99% do total nacional Juntos, esses empreendimentos participam de cerca 24% do Produto Interno Bruto nacional, segundo dados do Sebrae – na Alemanha, esse índice é de 42%.
"Os setores mais inovadores no Brasil são comandados por multinacionais, isso porque elas também têm acesso a recursos fora daqui. Com as pequenas, a competição é difícil", comenta Alessandro Pinheiro, do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa, gerente da Pesquisa de Inovação Tecnológica, PINTEC.
Dos cofres ao caixa
O tema inovação passou a receber mais atenção no Brasil que cresce economicamente. Segundo Helena Tenório, chefe do Departamento de Inovação do BNDES, o setor que mais teve acesso aos recursos do banco desde janeiro foi o de desenvolvimento de software. A área de engenharia de projetos também foi uma das que mais obteve empréstimos.
Para as empresas de menor atuação e mais frágeis economicamente, o BNDES oferece um serviço especial. "É o cartão BNDES. Com ele, as empresas podem acessar serviços de inovação e extensão tecnológica e pagar a prazo", acrescenta Tenório.
Mas o valor liberado por esse financiamento ainda é bem modesto: foram 544 mil reais, em 32 operações desde o começo do ano. O banco alega que esse quadro se deve, em grande parte, ao fato de essa modalidade de empréstimo ainda ser desconhecida, e que agora vai contar com um trabalho de divulgação mais intenso.
Por outro lado, Tenório ressalta que o valor destinado às micro e pequenas empresas pode chegar a 3 milhões de reais, quando se considera como inovação critérios como avaliação de software e avaliação de conformidade – processo em que se avalia se um produto, processo ou serviço atende a requisitos pré-estabelecidos em normas e regulamentos técnicos com o menor custo para a sociedade, segundo definição do Inmetro.
O diretor do Sebrae reconhece o aumento da oferta de crédito, mas diz que o valor ainda é "insuficiente". "Precisamos mais. E ainda existe dificuldade de acesso." Segundo Santos, existem projetos de inovação nascidos nas pequenas empresas, mas em muitos casos eles apresentam fragilidades segundo a avaliação dos órgãos de financiamento. "A nossa função é dar assessoria, fazer com que o projeto atenda às exigências. E temos conseguido", assegura.
Santos diz ser a favor dos critérios estipulados, afinal, "quem vai colocar recursos numa empresa tem que confiar no projeto, não se trata de uma doação". No entanto a demanda por recursos por parte dos empreendimentos também cresce, e não está sendo atendida.
Como o Brasil inova
Dados do Pintec mostram que no Brasil 4.754 empresas realizam atividades internas de pesquisa e desenvolvimento, o que corresponde a 4,4% da total em atividade no país. Apesar de as maiores companhias, com 500 ou mais funcionários, somarem apenas 649 desse cenário, elas responderam por 87% do gasto total em pesquisa de inovação, que em 2008 ficou em torno de 15 bilhões de reais.
"A marca da inovação do Brasil é concentrada na aquisição de máquinas e processos. O lançamento de um produto inovador é mais raro no Brasil", observa Alessandro Pinheiro. Ou seja, a inovação acontece com a compra de máquinas e equipamentos desenvolvidos no exterior, sintoma de que o país incorpora, na verdade, tecnologia criada fora.
Os setores mais inovadores no Brasil são o automobilístico, farmacêutico, materiais elétricos e serviços como o de tecnologia de informação, os quais, normalmente, são comandados por grandes multinacionais – que não são brasileiras.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente