Pequenas hidrelétricas buscam expansão no setor energético
27 de maio de 2014As pequenas centrais hidrelétricas (PCH) estão em alta no debate nacional sobre geração de eletricidade: atualmente, 669 projetos aguardam a aprovação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e outros 141 estão sendo elaborados. Esse tipo de usina de menor capacidade produz entre 1 e 30 megawatts (MW) de energia, é vista como aliada para diminuir o risco de apagões.
A grande vantagem dessas usinas é a possibilidade de sua construção próxima ao local de consumo, diminuindo gastos com transmissão. Até agora, o Brasil tem 462 PCHs em operação, outras 30 em construção e 145 outorgadas
"Cada vez mais o sistema interligado brasileiro depende de grandes usinas localizadas muito distantes dos centros de consumo. Esse fator traz consigo um custo devido a grandes linhas de transmissão e também do ponto de vista da segurança do sistema. Então, com relação à operação do sistema é mais conveniente ter injeção de energia próximo ao local de consumo", defende Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, um centro de estudos dedicado ao setor.
Essa alternativa é apoiada por parlamentares, mas, para especialistas, sua eficácia depende de cada projeto e, ao mesmo tempo, não diversifica a matriz energética. Para promover esse modelo e facilitar a autorização para a construção dessas usinas, a Frente Parlamentar Mista em Defesa das PCHs e Microgeração, criada em agosto de 2013, se articula nos bastidores. O grupo é composto por 163 deputados e 22 senadores.
"Estudos técnicos mostram que as PCHs produzem 4.200 MW, o que representa 3,6% da energia no país. Outros 7 mil MW aguardam análises de projetos na Aneel. Isso representa mais de 50% da produção de energia da usina hidrelétrica de Itaipu. Ou seja, o setor tem um grande potencial de avançar nos próximos anos. Por isso, a necessidade de dialogar com os setores envolvidos e com o governo na construção de um novo marco legal", afirma o deputado Pedro Uczai, presidente da Frente.
Segurança e variedade
Além de descentralizar a produção de energia, outra grande vantagem é o modelo de suas barragens. "Elas permitiram organizar o uso múltiplo da água, espaço para a piscicultura, recreação, esportes aquáticos, geração de energia e também para saneamento", conta Ildo Luís Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente, da Universidade de São Paulo (USP).
Esse tipo de usina é considerada uma fonte limpa e causa impactos socioambientais menores do que as grandes centrais. Em alguns projetos, no entanto, os altos custos de construção e a burocracia para obtenção das licenças e autorizações acabam encarecendo o valor final da energia.
Atualmente, o preço da energia produzida por grandes hidrelétricas e eólicas fica em torno de 100 reais o megawatt-hora (MWh) em leilões, enquanto que o das PCHs sai em média 180 reais, podendo chegar a 200 reais.
Opções mais atraentes
Para Barbara Rubim, coordenadora da campanha Clima e Energia do Greenpeace, o investimento em PCHs significa "fazer mais do mesmo", ou seja, acrescentar mais hidrelétricas, ainda que de pequeno porte, numa matriz em que essa fonte já responde por 78% da geração de energia. "Isso não retira a vulnerabilidade do país em cenários como o atual, em que a prolongada estiagem esvazia os rios e reservatórios e prejudica a geração dessas usinas, fazendo com que tenhamos que recorrer às térmicas", avalia.
Na avaliação de especialistas, as PCHs devem continuar sendo uma opção para ampliar o setor energético, mas não podem ser a única. "É essencial que o governo olhe para outros potenciais, como o eólico e o solar, para que possamos produzir a energia necessária para o país", afirma Michael Becker, superintendente de conservação do WWF Brasil.
ldo Luís Sauer também não descarta as PCHs. Mas a melhor opção para evitar o desabastecimento seria a energia eólica. "Se o projeto é bom, ele tem que ser feito, pois há muitos benefícios. As PCHs não vão salvar o Brasil, mas ajuda se elas se tornarem mais viáveis", opina.