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Pequeno manual de sobrevivência para startups na Alemanha

Nádia Pontes de Berlim
18 de maio de 2018

Berlim, o "Vale do Silício europeu", é multicultural, fala inglês e busca atrair cada vez mais startups do mundo todo. Profissionais dão recomendações para quem quer abrir uma frente de negócios na cidade.

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Coworking em Berlim
Para quem chega sozinho a Berlim, a dica é procurar um dos muitos espaços de coworking da cidadeFoto: DW/N. Pontes

Plano de Voo

Ter uma estratégia definida é o primeiro passo. É preciso que o objetivo de internacionalização da startup esteja muito claro. É inovação? Posicionamento da marca? O passo seguinte é o conhecimento de mercado, dos concorrentes. A matemática é fundamental para saber se a operação no país fica de pé.

"É um primeiro dever de casa, uma longa análise. Recomendo que essa decisão não seja tomada antes de seis meses", diz Juarez Leal, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).

Sabedoria local

Buscar informações com quem conhece muito bem o território e incentiva a mudança seria a próximo fase. A recomendação de Norbert Herrmann, do
Senado berlinense, é entrar em contato com Berlin Partner, a agência de desenvolvimento da cidade-estado. Eles ajudam com tudo: procurar um local para se instalar, fazer a imigração de negócios, achar parceiros em potencial. E, quem sabe, transformar a startup promissora numa empresa bem-sucedida, como foi o caso da Zalando.

Misturar-se com os pares

Para quem chega sozinho sentir como será a acolhida, a dica é procurar um espaço de coworking. Em Berlim existem dezenas, um dos mais conhecidos é St. Oberholz. Muita história de sucesso começou lá, no segundo andar.

Os espaços de coworking estão cheios de criadores independentes, aceleradoras de startups e laboratórios de grandes empresas que não querem ficar pra atrás no cenário da inovação.

A oportunidade pode morar na mesa ao lado, diz a brasileira Tatiana Martins, que trabalha no coworking Factory há menos de um ano. Cofundadora da consultoria Luna Empathy Lab, com base no Rio de Janeiro, ela se mudou para Berlim para sondar as oportunidades na Europa.

UG, GmbH ou AG 

Para Ludmilla Kuhlen, advogada especializada em startups, as leis alemãs podem ser confusas demais para os empreendedores internacionais. Por isso, é importante um acompanhamento de quem entende bem da legislação nessa área.

"Tentar se aproximar da comunidade que mais parece com a sua, buscar aconselhamento de confiança, não acreditar em todos os anúncios de escritórios de direito, que podem cobrar muito caro", lista Kuhlen.

O processo de finalizar uma startup é muito mais traumático que divórcio, diz a
advogada. "Quando se começa errado, o fim também pode ser muito rápido e sem chances de recuperação, já que as startups nunca têm dinheiro em caixa."

Consultor fiscal

Uma ajuda valiosa, que não pode ser ignorada desde o primeiro dia, é a do Steuerberater, um consultor especializado em impostos, o que corresponderia a um contador no Brasil.

"A quantidade e complexidade dos impostos na Alemanha não têm paralelo no mundo", opina Melina Costa, brasileira cofundadora da startup Coaeva, baseada em Berlim. "É impossível navegar sozinho como empresa, não tem como fundar uma que faça sucesso na Alemanha se o consultor não participar desde o
começo."

Convença um banco

A vantagem de ter uma empresa aberta em Berlim é o acesso às linhas créditos. O empreendedor poderá se candidatar não apenas a programas de financiamento específicos dos bancos, mas também a iniciativas da União Europeia, como o Horizon 2020, e dos governos federal e local. O ProFIT, por exemplo, financia até 80% de projetos inovadores que demonstrem a capacidade de aumentar a competitividade da empresa.

Papo reto

Quando tratar de negócios com os alemães, a dica de Claus Traeger, da Consim, é simples: "Quanto mais direto, melhor. Evite complicações, falar mais que o necessário, dando voltas."

Traeger diz que os alemães são muito literais, e, por isso, é melhor evitar brincadeiras que possam ser levadas a sério, mesmo no mundo das startups. É importante também não levar as críticas para o lado pessoal. E é sempre bom escutar o feedback.

Com sotaque e talento

Na mudança para Berlim, não traga na bagagem a "síndrome do patinho feio", adverte Juliana Lima, da comunidade brasileira de startups ZeroOnze. "Nós somos bons, temos espírito empreendedor. É preciso confiar na ideia, ter segurança, não ser arrogante e respeitar o local onde se está", adiciona.

Afiar o inglês é fundamental, assim como vencer a vergonha de falar em língua estrangeira sobre a ideia. "Mais da metade das startups são de fora de Berlim. Todo mundo tem um sotaque."

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