Doping
29 de julho de 2008No dia 21 de julho, a emissora alemã ARD transmitiu uma reportagem sobre o comércio ilegal com doping genético na China. Imediatamente, a mídia estatal em Pequim reagiu com um veemente protesto, taxando a ARD de "antichinesa".*
A reportagem mostrava que o doping genético é possível na China. Um repórter disfarçado de treinador de natação, munido de uma câmera oculta, filmou médicos em um hospital chinês oferecendo um tratamento com células-tronco de cordão umbilical. Um dos médicos explicou em detalhe o procedimento, que custaria 24 mil dólares.
Poucas horas após a transmissão, o governo em Pequim propagou em diversos órgãos oficiais de comunicação, inclusive na internet, uma notícia sobre a "afronta da mídia alemã". O que se criticava era, sobretudo, a "covardia" dos autores da reportagem terem impedido a identificação dos médicos através da pixelagem das imagens.
Pressão para divulgar nomes de médicos
Ao contrário dos ataques frontais contra a mídia ocidental durante os conflitos no Tibete, no começo do ano, desta vez Pequim não reclamou de uma caracterização errônea da realidade chinesa. Os jornalistas foram criticados por terem se comportado como "ladrões", a fim de denunciar a qualquer custo a China por violação das regras esportivas. Apesar da pressão de Pequim, os jornalistas se recusaram a revelar a identidade dos médicos que aparecem na reportagem.
Ao contrário do que afirmam as autoridades chinesas, o jornalista Jo Goll, um dos autores da reportagem, assegurou – em entrevista à DW-RADIO – que o caso filmado não é uma exceção na China: "Constatamos que a tendência de doping nas províncias é bem grande, pois lá a competição é muito forte mesmo, e também porque a atração financeira tem um peso grande na China."
Por outro lado, os jornalistas alemães não encontraram nenhum indício de que o doping seja uma medida estatal propagada nos esportes de competição, como era o caso da antiga Alemanha Oriental. Segundo a Agência Mundial Antidoping (Wada), doping genético é "a utilização, para fins não-terapêuticos, de células, genes ou elementos passíveis de aumentar o desempenho atlético".
Demonstrações de caça ao doping
Pouco antes da abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim, o governo chinês puniu inúmeros produtores de doping com cassação de licença e multas. No dia 20 de julho, por exemplo, inspetores do governo chinês visitaram 257 empresas produtoras de anabolizantes e hormônios peptídicos, além de 2.739 atacadistas e 340 mil varejistas.
As investigações levaram à suspensão da produção de 30 empresas e à cassação de licença de 25 outras firmas distribuidoras de substâncias que podem ser aproveitadas para doping. Além disso, as autoridades chinesas tomaram medidas contra 318 sites que divulgavam informações sobre a venda de anabolizantes e hormônios peptídicos.
O diretor-geral da Agência Antidoping chinesa, Du Jijun, declarou que os atletas chineses foram submetidos a 10.238 testes de doping em 2007, 74% dos quais fora de competições. Apenas 0,4% dos testes foram positivos.
O diretor da Wada, John Fahey, elogiou o novo laboratório de doping em Pequim, que pretende realizar 4,5 mil testes durante os Jogos Olímpicos – 25% mais do que nas Olimpíadas de 2004.