Pesquisa aponta a Alemanha como país mais popular do mundo
26 de maio de 2013Eles usam sandálias com meia, esperam o sinal de pedestres abrir para atravessar uma rua – mesmo que seja de madrugada e nenhum carro esteja passando – e só riem quando algo de errado acontece com os outros.
A lista de preconceitos em relação aos alemães é longa. Além dos clichês inofensivos, desde o início da crise do euro a Alemanha também tem de enfrentar ressentimentos políticos: para demonstrar o descontentamento com a austeridade econômica pregada por Angela Merkel, jornais estrangeiros já retrataram a chanceler federal alemã com o bigode de Hitler ou mesmo com um capacete prussiano com uma ponta na parte de cima.
No entanto, de acordo com um estudo da emissora de TV britânica BBC, a imagem da Alemanha é bem melhor do que se imaginava. Por volta de 26 mil pessoas em 25 países avaliaram se a influência de 16 países e da União Europeia (UE) no mundo é principalmente "positiva" ou "negativa". O resultado: 59% dos entrevistados consideraram a influência da Alemanha como "extremamente positiva".
Isso coloca a Alemanha no topo do estudo, seguida pelo Canadá, Reino Unido, Japão, França, União Europeia, Brasil, EUA, China e Coreia do Sul, que dividem os dez primeiros lugares. No final da escala estão a África do Sul, Índia, Rússia, Israel, Coreia do Norte, Paquistão e, por último, o Irã.
Estabilidade na crise
Mas por que os alemães se saíram tão bem? Sobre os motivos, só é possível especular, disse Sam Mountford, diretor do GlobeScan, instituto que conduziu a pesquisa encomendada pela BBC, em conversa com a Deutsche Welle. "O que podemos dizer é que os países que tiveram bom desempenho no estudo são prósperos, estáveis e democráticos", ressaltou Mountford. Ele lembrou ainda que, em pesquisas anteriores, principalmente a forte economia alemã rendeu boas notas ao país.
A Alemanha é especialmente popular na Europa: 81% dos franceses e 78% dos britânicos avaliaram positivamente o país. Somente a Grécia, abalada pela crise, atribuiu notas ruins aos alemães. Também na Índia e no Paquistão a reputação da Alemanha é bastante moderada.
As boas notas no Reino Unido chamam especialmente a atenção, pois mesmo décadas após a Segunda Guerra Mundial a Alemanha continuava contando com uma reputação um tanto quanto duvidosa entre os britânicos. Independentemente da pesquisa da BBC, porém, mudanças já vinham sendo notadas. No início deste ano, o tabloide Sun fez uma lista de dez motivos por que se deveria gostar da Alemanha: além das top models Claudia Schiffer e Heidi Klum, faziam parte da lista também as marcas automotivas Audi, VW e Mercedes, assim como a Oktoberfest e o tenista Boris Becker, várias vezes campeão em Wimbledon.
Para Mountford, a melhoria na imagem é de natureza principalmente econômica: "Os britânicos olham para a estabilidade que a Alemanha pode oferecer à zona do euro. E isso também é de interesse do Reino Unido."
Grandes eventos
Para Jürgen Block, diretor da BCSD, associação alemã destinada a promover as cidades e seu marketing, o topo alcançado pela Alemanha também depende de fatores emocionais. "A Alemanha estar mais popular deve-se também ao fato de termos tido a oportunidade de nos apresentar positivamente em grandes eventos – como a Expo 2000 em Hannover, a Copa do Mundo de 2006 e o Copa do Mundo Feminina de 2011 – e por período de tempo mais longo".
Além disso, nas últimas décadas, surgiu uma espécie de "necessidade de recuperar o tempo perdido". A mudança de imagem da Alemanha despertou a curiosidade, explicou Block. Principalmente Berlim, com os inúmeros bares e clubes, goza um status cult entre jovens norte-americanos, europeus e israelitas.
Outros apreciam o lado acolhedor alemão, ressaltou Block. Assim, não somente as conhecidas feiras de Natal de Dresden e Nurembergue andam populares entre turistas estrangeiros, mas também feirinhas menores como as de Esslingen ou de Goslar têm se tornado cada vez mais atrações turísticas, disse.
O balanço é positivo. O número de pernoites de turistas estrangeiros aumentou durante três anos consecutivos, e em 2012 ficou pouco abaixo de 70 milhões.
Gostar de si mesmo
"A boa imagem também se deve, certamente, ao fato de nós mesmos não termos mais uma relação confusa com o nosso próprio país e nossa sociedade. E quem gosta de si mesmo também é apreciado pelos outros", explicou Block.
No entanto, essa visão positiva do próprio país continua sendo difícil para muita gente. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Colônia, os alemães são muito autocríticos. Embora eles tenham orgulho de ser renanos ou bávaros, eles ainda têm problemas em ser alemães. Assim, muitos concordaram com a afirmação: "Estrangeiros têm muitas qualidades positivas que nos faltam."
Em 2007, o escritor norte-americano Eric T. Hansen escreveu em seu livro Planet Germany. Eine Expedition in die Heimat des Hawaii-Toasts ("Planeta Alemanha. Uma expedição à terra da torrada Havaí", em tradução livre): "Os alemães não sabem quem são. Quando eles voltam os olhos para si, veem um povinho provinciano que é criticado por todos. Eu vejo uma enorme potência econômica respeitada no mundo inteiro", afirmou o escritor.