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Pesquisa pioneira no Brasil testa tratamento online para depressão

Clarissa Neher11 de fevereiro de 2014

Durante um ano, a USP irá avaliar esse método em pacientes com depressão. Terapias psicológicas e de psiquiatria via internet são novidade no país, mas já são praticadas há anos em países como Estados Unidos e Austrália.

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Foto: Fotolia/pressmaster

Uma pesquisa pioneira no Brasil vai testar a eficácia de terapias via internet para pacientes com depressão. O projeto do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, USP, irá oferecer atendimento gratuito por meio de videoconferência durante um ano.

Esse método de terapia pela internet é relativamente novo. Ele surge como alternativa para pacientes de baixa renda ou que vivem em regiões onde esse tipo de serviço não é oferecido, além daqueles que não têm tempo para frequentar sessões em consultórios.

"A telepsiquiatria permite que os pacientes permaneçam em suas próprias casas ou comunidades e acessem seus psiquiatras mais eficientemente do que se precisassem tirar um dia de folga do trabalho para se deslocarem até o local de atendimento", afirma a coordenadora do projeto, Ines Hungerbühler.

Apesar de inédita no Brasil, programas de telepsiquiatria já existem há quase dez anos nos Estados Unidos, Austrália e Canadá. Os estudos realizados no exterior revelaram que esse método apresenta bons resultados. "Mesmo assim, direções futuras sugerem a necessidade de mais pesquisas sobre modelos de prestação de serviço, transtornos específicos ou aspectos culturais", diz Hungerbühler.

No Brasil, a consulta médica pela internet, assim como psiquiátrica, ainda é proibida pelo Código de Ética Médica. Mas a legislação permite essa prática com finalidade de pesquisa.

Como vai funcionar

Para testar a eficácia do tratamento psiquiátrico de depressão via internet, os pesquisadores da USP dividirão os pacientes em dois grupos. Um receberá acompanhamento mensal com psiquiatra de forma presencial e o outro fará as consultas via videoconferência.

Segundo Hungerbühler, estudos existentes revelaram altos níveis de satisfação entre os pacientes virtuais e a eficácia desse modelo para o tratamento de transtornos como depressão, estresse pós-traumático, abuso de substâncias ou autismo.

Nesta fase da pesquisa, o time da USP trabalha na seleção dos pacientes, que podem se candidatar no portal do instituto.

Tema controverso na psicologia

Diferentemente do tratamento psiquiátrico pela internet, o psicológico é permitido e regulamentado pelo sistema de conselhos de psicologia. Atualmente, alguns profissionais já oferecem esse tipo de serviço na rede.

Porém a eficácia desse tipo de terapia ainda é bastante controversa. A maioria dos estudos realizados sobre tratamentos via internet focam na psiquiatria. Existem poucas pesquisas sobre a psicologia, e faltam principalmente análises específicas sobre as vantagens e desvantagens do método online em relação ao presencial.

Para alguns psicólogos, o tratamento realizado via internet pode ficar comprometido devido à multiplicidade da comunicação. Dessa maneira, algumas informações não verbais importantes para a terapia podem passar despercebidas pelos profissionais, mesmo com vídeo.

Além disso, o vínculo entre paciente e terapeuta corre o risco de não ser estabelecido. "No computador há um distanciamento. Na sessão tradicional é criado um momento e um espaço para o paciente pensar só sobre as questões tratadas, o que até seria possível fazer virtualmente, mas isso pode ser mais facilmente atrapalhado por fatores externos", afirma a psicóloga Clarissa Ribeiro.

A grande vantagem da terapia online é sua praticidade, pois o paciente não precisa se deslocar até o consultório. Esse método também é mais acessível para quem vive em regiões mais isoladas e pode até ser mais estimulante para alguns.

"Do ponto de vista do tratamento propriamente dito, há vantagens para pessoas muito tímidas, que têm dificuldade de se exporem", afirma Luiz Eduardo Berni, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo.

O especialista aconselha que o paciente virtual verifique se o profissional está apto a prestar esse atendimento. O cadastro de profissionais é feito pelos conselhos regionais de psicologia. Os sites aptos podem ser identificados por meio do selo azul Psi Cadastrado que, com um clique, direciona o usuário para o Portal do Conselho Federal.

"Os serviços oferecidos, entretanto, devem seguir os padrões de qualidade preconizados pela profissão descritos na legislação e, sobretudo, no código de ética. Eles são basicamente os mesmos que devem seguir os profissionais que atendem presencialmente", esclarece Berni.