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Petróleo e orgulho nacional alimentam a disputa pelas Ilhas Malvinas

2 de abril de 2012

Trinta anos após o início da Guerra das Malvinas, a possível existência de petróleo nas águas do arquipélago acrescentou um ingrediente econômico a uma disputa cujo elemento central sempre foi o orgulho nacional.

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Foto: AP

Já é quase um ritual: a cada jubileu da Guerra das Malvinas os ânimos novamente se acirram dos dois lados. Nesta segunda-feira (2/4) completam-se 30 anos do início do conflito entre Argentina e Inglaterra pela posse das Ilhas Malvinas, como são chamadas pelos sul-americanos, ou Falklands, pelos britânicos.

Os dois países trocam acusações de colonialismo e imperialismo e voltam a defender suas posições sobre o arquipélago a 500 quilômetros da costa argentina, habitado por 3 mil civis, 1.200 militares britânicos e quase meio milhão de ovelhas.

Londres enviou o destróier HMS Dauntless e possivelmente também um submarino atômico ao Atlântico Sul. Como reação, a presidente argentina, Cristina Kirchner, pretende protestar diante das Nações Unidas, argumentando que a presença das embarcações traz um "grande risco à segurança internacional".

Cristina Fernandez de Kichner Präsidentin Chile
Cristina Kirchner colocou a questão das Malvinas no topo de sua agenda políticaFoto: picture-alliance/dpa

Pressão argentina e resposta britânica

"A presidente argentina está numa cruzada pessoal", afirma a representante das Ilhas Malvinas em Londres, Sukey Cameron. "A questão das ilhas está no topo da sua agenda."

De fato, nos últimos dois anos Kirchner vem aumentando a pressão sobre as Malvinas. Embarcações a caminho das ilhas precisam de uma autorização especial para cruzar águas argentinas. E, desde o fim de 2011, os países do Mercosul decidiram proibir oficialmente o atracamento de embarcações com bandeiras das Malvinas em seus portos, atendendo a um pedido da Argentina.

A decisão tem um caráter mais simbólico do que prático, já que os portos estão liberados para navios e barcos com a bandeira britânica. Ainda assim, os kelpers – como os habitantes do aquipélago se autodenominam – temem que esse seja o início de outras sanções por parte de Buenos Aires, como embargos a empresas que atuem nas ilhas.

Especula-se que Kirchner já esteja conversando com o Chile para tentar acabar com a única conexão aérea das Malvinas com a América do Sul. No final dos anos 90 o governo do Chile já havia dados sinais de que concordaria em acabar com os voos. "Esperamos que não chegue a esse ponto", afirma Sukey Cameron, apelando também ao patriotismo argentino: com o bloqueio, veteranos da guerra das Malvinas e parentes das vítimas não poderiam mais visitar as ilhas, argumenta.

O Reino Unido reagiu à pressão argentina enviando ao arquipélago o futuro herdeiro do trono. O príncipe William, neto da rainha Elizabeth 2ª e piloto de helicóptero da Força Aérea Real, cumpriu um treinamento militar de seis semanas no início deste ano na base aérea Mount Pleasant. A presença do príncipe nas Malvinas gerou protestos na Argentina.

Apesar de o Ministério britânico da Defesa afirmar que se tratava de uma missão de rotina, planejada há muito tempo, poucos acreditam nisso. "Uma missão como essa jamais seria de rotina", diz o especialista em geopolítica Klaus Dodds, do Royal Holloway-College da Universidade de Londres. Para ele, não é uma surpresa que os argentinos tenham encarado o ato como uma provocação.

British Royal Air Force Lieutenant Prinz William Falkland
Príncipe William ficou por seis meses nas Ilhas MalvinasFoto: picture-alliance/dpa

Interesses econômicos

Segundo Dodds, recursos naturais tornam o arquipélago tão interessante para os dois países. Acredita-se que entre as 200 ilhas existam valiosas reservas de petróleo, mesmo que as perfurações até agora não tenham revelado resultados muito claros.

"Outro fator muito importante e que quase não se discute é a proximidade com a Antártida", diz. As ilhas servem de trampolim para o Território Antártico Britânico, uma gigantesca superfície no continente gelado reivindicada pelo Reino Unido. "Não digo que, num futuro próximo, serão extraídos petróleo, gás, urânio, zinco ou outros recursos minerais da Antártida. Mas o Tratado da Antártida, que proíbe isso, não valerá para sempre", diz, ressaltando que o documento deve ser revisado em 2048.

Vitória da política externa

Do lado argentino, o orgulho nacional é a força motriz na disputa pelas Ilhas Malvinas. O domínio britânico no arquipélago é visto como uma contínua humilhação. O tema é um ponto importante da política externa argentina desde a segunda metade do século 20 – e com razão, afirma o cientista político Marcelo Leiras, da Universidade de San Andrés, em Buenos Aires, pois trata-se de uma questão de soberania nacional.

"Soberania não se mede em quilômetros quadrados ou em riqueza. Ou se consegue impô-la ou não, e qualquer questionamento da soberania nacional é sempre um sinal de fraqueza política", argumenta Leiras.

Para ele, a atitude de Kirchner faz sentido. "A presidente tem um grande interesse político na questão e uma nova abordagem do que pode funcionar para melhor impor os interesses argentinos." O bloqueio dos portos pelos países do Mercosul é visto por Leiras como uma "significativa vitória da política externa argentina".

Soberania não se negocia

O fato de as Malvinas já terem sido dominadas pelos franceses e pelos espanhóis antes de parar nas mãos dos britânicos, em 1833, não depõe contra os anseios de Buenos Aires, diz Leiras. "Não é muito estranho que um país tão distante como o Reino Unido reivindique as ilhas?", questiona.

Ele avalia a invasão de 1982, porém, como um erro e diz que a guerra que fez 900 vítimas foi uma fracassada tentativa da junta militar de se manter no poder.

Ninguém acredita que uma nova guerra esteja a caminho – nem que o conflito venha a ser resolvido num curto prazo de tempo. Apesar de já em 1965 uma resolução da ONU pedir que as duas partes negociem, o Reino Unido mantém-se firme em sua posição.

Segundo a representante das Ilhas Malvinas em Londres, a Argentina só está interessada em discussões que alterem o status do arquipélago. "Podemos discutir tudo, menos a nossa soberania. Esta não está em jogo", afirma Cameron.

Autor: Dennis Stute (msb)
Revisão: Alexandre Schossler